segunda-feira, 18 de maio de 2015

RESENHA: João Calvino - 500 anos – Introdução ao seu Pensamento e Obra


Resenha: Reverendo Márcio Willian
            Introdução
            O livro “João Calvino 500 anos – Introdução ao seu Pensamento e Obra”, foi escrito pelo Dr. Herminsten Maia Pereira da Costa, que é ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil, autor de vários livros, tais como: A Inspiração e Inerrância das Escrituras; O Pai Nosso; Raízes da Teologia e outros. É professor de Teologia Sistemática no Seminário Presbiteriano Reverendo José Manoel da Conceição e Diretor da Escola Superior de Teologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Ele felizmente escreveu esse livro como fruto de suas pesquisas nos vários anos como professor e estudante da vida e obra de João Calvino.
            Esse livro tem uma grande relevância para o meio reformado devido ao interesse progressivo de uma nova geração de crentes por doutrinas da graça. Temos presenciado uma grande procura pelas doutrinas reformadas no meio pentecostal e neo pentecostal. Portanto, esse livro não servirá apenas para os reformados nominalmente, mas para todos os crentes de variadas denominações que Deus tem movido para conhecer essas verdades bíblicas.
            O nome de João Calvino é muito mal compreendido por alguns meios e quase idolatrado por outros. Ele geralmente é visto apenas como um teólogo da Reforma, mas não como um piedoso pregador e dedicado servo de Cristo. Esse livro esclarece e mostra aspectos da vida de Calvino que é desconhecida por muitos. O autor de forma eficiente e dedicada consegue cativar o leitor e transportar o mesmo para a época de João Calvino, levando a edificação e adoração ao Senhor Jesus.
            O Dr. Herminsten expõe bem as questões relacionadas a vida e obra de Calvino. Como ele foi formado e trabalhado por Deus para ser usado no Reino de Cristo. O autor vai discorrer  como Calvino enxergava os seguintes aspectos: Suficiência das Escrituras (páginas 65-128); a eleição divina (páginas 135-188); O homem como imagem e semelhança de Deus (páginas 191-220); A Espiritualidade (páginas 225—279); O culto (páginas 285-322); A educação (páginas 325-345); A ética Social (páginas 347-363); A Ciência (páginas 367-389). Abrange as áreas de maior importância citando fontes primárias e secundárias importantes para comprovar suas abordagens.
            Faremos citações e comentários objetivos de cada capítulo, abordando uma visão geral do livro, com o máximo de fidelidade ao propósito do autor.
1.       O Contexto Histórico da Reforma Protestante
            O autor apresenta um panorama do contexto da pré-reforma[1],  passando pelo papado antes do século XVI, demonstrando o paganismo Greco-romano e expondo os conflitos existenciais do povo nesse período, onde havia um cenário preparado providencialmente para o surgimento da Reforma Protestante.
            Ele apresenta a ação da Reforma e Renascença no mesmo palco histórico e suas diferenças, ao dizer: “Ainda que a Reforma e a Renascença tivessem coincido na história e também tratado dos mesmos problemas básicos, as suas respostas foram completamente diferentes”.[2] Sem duvida os pressupostos da Renascença eram completamente opostos aos da Reforma, no primeiro o Homem é o Centro, no segundo Cristo é o Centro. Logo, os resultados e propósitos são completamente diferentes.
            Ao falar da Reforma e as Escrituras, ele mostra que Calvino valorizava a centralidade das Escrituras. Foi uma busca intensa de Calvino sempre, centralizar as Escrituras na vida e culto do povo de Deus. [3] Para João Calvino a Escritura era o cetro que Cristo usava para governar seu Reino, a Igreja.
2.       O Trabalhar de Deus na Formação de Calvino
O autor nos oferece informações importantes sobre a formação de Calvino, como o academicismo humanista serviu providencialmente para a preparação intelectual desse grande reformador.[4] Os conhecimentos adquiridos forma no futuro usados pelo Espírito Santo para o ajudar na compreensão teológica das Escrituras e desenvolver raciocínios tão logicamente fundamentados na Bíblia.
            A conversão de Calvino é escassa de informações quando e como aconteceu, contudo, algumas citações de escritos dele são feitas no propósito de colher informações que somadas ajudam a descobrir um pouco mais sobre esse assunto. [5]
O autor demonstra o papel do renascentismo e a imprensa como contribuídores da Reforma Protestante, até uma certa medida. O anseio dos renascentistas de superar a literatura grega foi extremamente forte nesse período, tendo em vista a facilidade proporcionada pela invenção da imprensa. Os catedráticos eram extremamente valorizados e por isso havia competições entre eles para ocupar cargos de acadêmicos. O renascentismo defendeu a centralidade no homem, o que tornou posteriormente um fracasso. Calvino era um genuíno humanista por que estava interessado no homem, obviamente do ponto de vista bíblico.
Algo que também nos chama a atenção é a preocupação de Calvino com a unidade da igreja. O Dr. Herminsten escreve sobre esse reformador, deixando bem claro essa visão bíblica e piedosa: “Calvino entendia que Satanás, muitas vezes, se vale de nossos bons sentimentos para fazer que quebremos a unidade da igreja , supostamente em busca de uma igreja ideal.” [6]Em um tempo que tantas igrejas surgem por questões mais banais possíveis, tornar-se imperativo expor essa declaração de Calvino.
3.       A Centralidade das Escrituras na Vida da Igreja
Atualmente a igreja evangélica tem vegetado espiritualmente por causa da ausência das Escrituras no culto e na vida eclesiástica. A pregação bíblica tem sido progressivamente abandonada, e em seu lugar têm surgido mensagens de autoajuda e misticismos. A declaração que Calvino faz com respeito a importância das Escrituras é fundamental para nortear a igreja do século XXI:
“Visto que a igreja é o reino de Cristo, e ele não reina senão por sua Palavra, continuamos duvidando de que são mentirosas as palavras daqueles que imaginam o reino de Cristo sem o seu cetro, quer dizer, sem a sua santa palavra?”[7]
            Nada é mais importante para a Igreja do que ser governada pela Palavra de Cristo, que é o seu Cetro.  Calvino lutou com todas as suas forças para ser um expositor fiel das Escrituras e reformar a Igreja pela Palavra de Deus e não por estratégias humanas ou misticismos.
            Em toda época surgem os mesmos conceitos errados teologicamente com nomes diferentes. No período da Reforma surgiram os “iluminados”, nome dado por Lutero e Zwickau. Eles defendiam que tinham revelações especiais vindas diretamente de Deus, entendendo terem sido chamados por Deus para “completar a Reforma”. Defendiam uma escatologia completamente distante das Escrituras e combatiam o estudo da teologia como sendo algo contrário a espiritualidade.
            Homens como Lutero e os demais reformadores defendiam “Sola Scriptura”, como sendo a única autoridade infalível dentro da Igreja. [8] Todos os catecismos e confissões reformadas enfatizavam a centralidade e autoridade final das Escrituras para a Igreja de Cristo. Como citamos antes a declaração de Calvino, a Escritura é o cetro de Cristo, pelo qual governa a Igreja.
            Por outro lado, Calvino também declara com relação ao conhecimento das Escrituras:  “Somos seres humanos, e é preciso que observemos sempre as limitações de nosso conhecimento, e não as ultrapassemos, pois tal gesto seria usurpar as prerrogativas divinas.” [9]Algo que nos chama a atenção em Calvino é sua humildade e prudência. Não fazia declarações infundadas biblicamente e nem ousava confiar em sua razão. Sabia que tinha limitações e precisava estudar cada vez mais a Palavra de Deus, submetendo todo o seu conhecimento aos pés de Cristo.
            Quando o autor trata nesse capítulo três sobre a “Fidelidade do ministro” expõe com propriedade o pensamento de Calvino a esse respeito:
“A Palavra de Deus é o conteúdo da mensagem do ministro. Quando ensinamos a Palavra com fidelidade, nada acrescentando ou omitindo, podemos ter a certeza de que nossa mensagem não se distingue da própria Palavra de Deus.”[10]
            Em outro lugar ele cita uma importante perspectiva de William Wileman  com relação a seriedade do ministério pastoral de Calvino: “Como expositor da Escritura, a Palavra de Deus era tão sagrada para ele como se a tivesse ouvido dos lábios de seu Autor.”[11]
            Calvino defendia que todo o oficio do ministro gira em torno da Palavra de Deus. Tudo que um ministro faz, pensa, executa na igreja deve estar envolvida pela Escritura. Como isso é importante para os nossos dias? Precisamos resgatar essas verdades perdidas em tantos púlpitos espalhados pela nossa nação! Calvino afirma que “mestre é aquele que forma e instrui a igreja na Palavra da verdade.” E diz mais o seguinte a esse respeito: “O alvo de um bom mestre deve ser sempre converter os homens do mundo para que voltem seus olhos para o céu.”[12] Não poderíamos deixar de citar mais essa declaração encorajadora e edificante de Calvino: “Nossa maior meta, no entanto, deve consistir em sermos fiéis ministros de Cristo na edificação da igreja, por meio do ensino da Palavra.”[13]
            Essas convicções de Calvino servem como um estímulo para todo ministro reformado a defender com todas as forças a centralidade das Escrituras. Ao mesmo nos envergonha diante de tanta firmeza, piedade e ousadia! O ministério desse reformador era marcado pela centralidade e suficiência das Escrituras.
4.       A Eleição
            O assunto pelo qual Calvino é mais conhecido, citado, criticado, é a da predestinação ou eleição divina. Mas nesse capitulo o Dr. Herminsten trata de uma forma edificante e didática que ajuda bastante o leitor sincero a compreender a visão de Calvino sobre o assunto. Tentaremos citar as principais declarações nesse capítulo e fazer algumas avaliações e compreensões das mesmas.
            O autor cita McGrath que faz o seguinte comentário da posição de Calvino sobre a predestinação:
“A crença na predestinação não é uma questão de fé em si mesma, mas representa o resultado final de uma reflexão, informada pelas Escrituras, a respeito dos efeitos da graça sobre os indivíduos, à luz dos enigmas da experiência. A experiência ensina que Deus não toca todo o coração humano.”[14]
            O que ele mostra é que a própria humanidade testifica que nem todos serão salvos, por uma obviedade, nem todos creem! Embora saibamos que a experiência não existe para interpretar a Bíblia, mas a Bíblia para interpretar a experiência.
O autor em seguida vai trabalhar biblicamente a doutrina da eleição no Antigo Testamento e Novo Testamento. Mostrando as várias escolhas dos homens[15] e determinações de Deus não somente para salvação para funções e execuções.
Depois o autor aborda algumas questões teológicas sobre a eleição. Mostra que Deus não sofre nenhum tipo de constrangimento no exercício da escolha e execução dessa escolha.[16]
Calvino disse: “A eleição tem um sentido escatológico: é da eternidade para a eternidade em santificação, até que nossa salvação seja consumada na glorificação.”[17]  E Bavinck também expressa sobre o assunto: “O propósito da eleição é a criação de um organismo, Isto é, redenção, renovação e glorificação de uma humanidade regenerada que proclame as excelências de Deus e leve seu nome sobre sua testa.”[18] Spurgeon disse: “Desconheço qualquer outra coisa que nos possa humilhar tão profundamente quanto a doutrina bíblica da eleição (...). Aquele que se sente orgulhoso de sua eleição é porque não é um dos eleitos do Senhor.”[19]
5.       A Imagem de Deus no Homem
            Calvino como humanista  teve uma visão moldada pela Escritura, unindo seu conhecimento e formação humanista e interpretando-a pela Palavra de Deus. A Idade Média pretendia ter Deus no Centro; a Renascença o homem no centro; o iluminismo a razão no centro; a pós-modernidade sem centro. A história é marcada de mudanças devido as muitas frustrações da razão humana. Mas em Calvino vemos uma firmeza em entender o devido lugar do homem na criação de Deus.
            A Reforma foi revolucionária porquanto se apartou tanto do Humanismo católico-romano como do secular. Mas adiante Dr. Herminsten cita F. Schaeffer; “Enquanto a Renascença se concentrava no homem em sua autonomia, a Reforma concentrava-se no Deus infinito e pessoal que falava com eles por meio da Bíblia.”[20]
             No pensamento de Calvino, um possível dilema entre o antropocentrismo e o teocentrismo. Entre a natureza do homem e o Deus soberano, temos a Palavra de Deus, concedida por ele, para que o conheçamos e nos conheçamos. Calvino diz: “O mundo foi originalmente criado para este propósito, que todas as partes dele se destinem à felicidade do homem como seu grande objeto.”[21]
            Calvino assim definiu imagem de Deus:
“Havia uma adaptação das várias partes da alma, que correspondia a suas várias funções. Na mente, perfeita inteligência florescia e reinava, retidão assistia como sua parceira, e todos os sentidos eram preparados e moldados para a adequada obediência á razão; no corpo, havia uma adequada correspondência com essa ordem interna (...) Mas aqui a questão é referente àquela glória de Deus que peculiarmente brilha na natureza humana, onde a mente, a vontade e todos os sentidos representam a ordem divina.”[22]
6.      A Espiritualidade de João Calvino
            A piedade de Calvino poderia ser definida assim: “A verdadeira piedade consiste em um zelo puro e verdadeiro que ama a Deus totalmente como Pai, o reverencia verdadeiramente como Senhor, abraça a sua justiça e teme ofendê-lo mais que a própria morte.”[23] Calvino busca conciliar conhecimento com prática. Entendia que conhecer sem tornar isso prático não tinha nenhum sentido cristão.
             Para Calvino meditar nos Salmos era algo extremamente necessário e prazeroso. Ele dizia que os Salmos eram anatomia de todas as partes da alma.[24] Calvino declarava: “Não busquemos nossos próprios interesses, mas antes aquilo que compraz ao Senhor e contribui para promover sua glória.”[25] Ainda afirma sobre a oração: “Devemos manter firme o principio de que não podemos orar a Deus apropriadamente senão formos persuadidos pela certeza de nossos corações de que ele é nosso Pai quando o invocamos como tal.”[26]
            A visão de espiritualidade de Calvino influenciou gerações e ainda influencia. Precisamos mais do que nunca desse alerta de harmonizar conhecimento teológico com vida de oração. É preciso ter culto na vida para quer tenha culto na igreja. Por isso, o presente livro ajuda muito na avaliação da nossa vida diante do Senhor.
7.        O Culto
            “Fomos eleitos por Deus na eternidade para que o adoremos. No culto, a igreja vivencia o propósito de sua eleição: o fim principal do homem é glorificar a Deus. A igreja é a comunidade de adoradores que se congrega para testemunhar publicamente os atos graciosos de Deus.”[27] Assim começa o capítulo sobre culto. Com essa ótica reformada que o autor irá desenvolver sua exposição sobre a visão de Calvino sobre Culto.
            Ele demonstra que o homem perdeu a dimensão do eterno e por isso trilha por atalhos que o máximo que podem fazer é anestesiar a alma. Fomos criados para adorar e gozar o Senhor eternamente! A filosofia, arte, filantropia e religião, são apenas paliativos que servem apenas socialmente e culturalmente, mas não alimentam a alma.[28]
            Culto é serviço prestado a Deus. Este serviço deve ser prestado conforme o Senhor determina em sua Palavra. Neste serviço prestado a Deus os sacramentos; batismo e Ceia, os cânticos espirituais, segundo Calvino devem todos harmonizar-se com as Escrituras, procedendo de corações quebrantados e contritos.
8.       A Reforma e a Educação
            Calvino dispunha de uma visão ampla da cultura, entendendo que Deus é Senhor de todas as coisas. Assim, toda verdade é verdade de Deus. Esta perspectiva ampara-se no conceito da “graça comum” ou “graça geral” de Deus. Portanto, em todas as ciências e artes temos expressões verdadeiras que sendo analisadas pelas Escrituras, podem edificar a nossa vida e serem úteis para o nosso crescimento na fé e compreensão do cosmo.
            Com esta perspectiva, Calvino na sua primeira permanência em Genebra procura melhorar as condições de ensino e posteriormente cria formas gratuitas de ensino para as crianças carentes. Logo, Calvino é o precursor do ensino público.
9.       A ética Social de Calvino
            Calvino afirmou: “Se seguirmos fielmente nosso chamamento divino, receberemos o consolo de saber que não há trabalho insignificante ou nojento que não seja verdadeiramente respeitado e importante ante os olhos de Deus.” [29]Essa declaração resume a visão de Calvino sobre trabalho e ética.
10.   Calvinismo e Ciência
            Calvino era fascinado com as obras das mãos de Deus. Ele entendia que nelas podemos ver aspectos da glória de Deus, como diz o Salmo 19.1, sendo o homem o ponto mais magnífico desta gloria manifestada. Portanto, cabe ao homem apreciar e estudar a natureza, pois nela se reflete a sabedoria divina. Calvino declara: “Se os homens chegassem a um genuíno conhecimento de Deus, pela observação de suas obras, certamente que viriam a conhecer a Deus de forma sábia.”[30]
Conclusão
            Estudar sobre Calvino é desafiador e edificante. Pois se trata de um homem que unia o intelectualismo e a vida de oração e prática. Algo que tanto precisamos em nossos dias. Não basta ter conhecimento teológico, é necessário vive-las nos recônditos da nossa alma. Precisamos transpirar teologia em tudo que fazemos no cotidiano. Calvino nos desafia a viver assim e mostra que é possível marca a história da igreja com uma vida dedicada a glória de Deus.
            Ao terminar a leitura e avaliação desse precioso livro, nos tornamos mais conscientes da grande obra que temos diante de nós, tendo como grande incentivador vidas como a de Calvino, que olhou firmemente para o autor e consumador da nossa fé, Cristo Jesus (Hb. 12.1-3). Devemos lutar para ter uma perspectiva equilibrada pela Escritura como João Calvino teve, abordando todas as áreas da vida e não vivendo enclausurados no templo denominacional. O reino de Deus é muito maior que qualquer denominação e religiosidades, e por que devemos viver pra Ele, por Ele, porque todas as coisas são dEle! A Ele a glória eternamente, amém![31]
Terminaremos com essa feliz e verdadeira declaração: “O verdadeiro discípulo de Calvino só tem um caminho a seguir: não obedecer ao próprio Calvino, mas àquele que era o mestre de Calvino.”[32]



[1] pp.15-25
[2] pp.  21
[3]pp. 22-25
[4] pp. 27-33
[5] pp. 27-33
[6] p.59
[7] p.66
[8] p.70
[9] p. 106
[10] p.110
[11] p.111
[12] p.116
[13] p.119
[14] p.139
[15] p.141
[16] p. 150
[17] p. 163
[18] p.163
[19] p.174
[20] p.201
[21] p.204
[22] p.209
[23] p.227
[24] p.234
[25] p.236
[26] p.242
[27] p.285
[28] p.286
[29] p.350
[30] p. 387
[31] Romanos 11. 33-36
[32] p.399

quarta-feira, 6 de maio de 2015

O QUE É MORAL?


O que é moral? É uma ação ou pensamento correto? Mas o que é correto ou certo para se pensar e praticar? É aquilo que não prejudica os outros, ainda que eu deseje fazer? Como declarou Baier sobre a moralidade: ...seguir regra designadas para suplantar o interesse próprio sempre que for interesse de todos igualmente que cada um ponha de lado o seu interesse pessoal.[1] Agora entendi, a moral é fazer o que é correto para a cultura e sociedade que vivo, deixando minhas convicções pessoais sobre a “moral” de lado, para que prevaleça o bem comum? Muito interessante!
Nesse raciocínio o que hoje é moralmente incorreto como: pedofilia, homicídio, estupro, roubo, furto, pode ser um dia moralmente correto? Isso dependerá do quanto a sociedade evoluir e quebrar seus paradigmas? Por isso, alguns universitários tem declarado que é correto colocar o conhecido “boa noite cinderela” na bebida das jovens e violenta-la coletivamente! Talvez por isso, muitos ativistas gays acham justificável pela causa que defendem beijar em ambientes religiosos, tirar a roupa, mostrar as genitais para as famílias tradicionais, como forma de protesto legitimo! Dentro da lógica apresentada acima de mudanças de avaliação da moral, será um avanço para a sociedade quando entender que tudo que “potencialmente a vontade” humana deseja deve ser vivida, como defendem os niilistas[2]?
Hoje a sociedade entende que pedofilia e estupro, é imoral, não é? Logo, se uma corrente filosófica e cientifica (porque a ciência tem se tornado cada vez mais sociológica) defender e convencer a maioria pela força manipuladora da mídia, que essas práticas são morais e benéficas as crianças e as mulheres, deveremos aceitar, porque pensar o contrário deles seria “um retrocesso”? Nesse caso, você teria que abrir mão dos critérios morais para aceitar como realidade e virtude a pedofilia e o estupro? Talvez você me ache exagerado nessa possibilidade de aceitação moral, mas diria que no mínimo você é desinformado sobre o que esta ocorrendo no mundo acadêmico do século XXI!
Como um filosofo disse: Se Deus está morto, podemos fazer qualquer coisa! Deus é o padrão de verdade e moral, sem ele não temos mais nada, só a nós mesmos! Podemos fazer qualquer coisa que desejarmos! Você já observou que o argumento de muitos ateus é que se Deus existisse não deixaria acontecer as catástrofes que ocorrem hoje, os acidentes, as doenças e assim por diante?! Ou seja, nesse argumento, Deus para ser Deus teria que sempre impedir a dor na vida humana! Contudo, Deus para ser Deus não pode estabelecer um padrão de moral para que julgue o meu padrão de moral! Veja que incoerente! Deus para ser crido pelo homem precisa impedir que ele sofra qualquer perda, qualquer dor, qualquer tristeza, mas nunca poderá interferir, julgar e estabelecer um padrão de verdade e moral para ele?
Você pode construir sua vida, sua moral, seu padrão de verdade sobre a palha que o vento dispersa (Sl 2.4), sob os rudimentos do mundo, com suas filosofias vãs (Cl 2. 8), ou sob Cristo, no qual habita corporalmente toda a plenitude divina (Cl 2.9)!
Crer que Deus existe não é suficiente para conhecê-lo, é necessário relacionar-se com Ele por meio da revelação que Ele faz de si mesmo, nas Escrituras e principalmente por meio da sua maior revelação, Cristo! Todavia, o que pretendi dizer com todos os argumentos aqui apresentados é que não necessitamos de nos sentir constrangidos intelectualmente diante dos “brilhantes” argumentos dos ateístas, porque não se trata de intelecto, mas sim de arrependimento e fé! Temos que ter a ousadia que Paulo teve no centro acadêmico da sua época, Atenas, onde defendeu com propriedade Jesus e a Ressurreição, mesmo que essa mensagem fosse tida como doutrina estranha, e ele visto como um tagarela (significa indigno de ser ouvido),  não se acovardou diante daqueles sábios gregos, mas apresentou com lógica e biblicidade o Evangelho e alguns creram e se arrependeram, outros zombaram (At 17. 16-34).

Reverendo Márcio Willian Chaveiro


[1] HUNNEX, 2001, p. 47
[2] O nielismno é a negação do “eu” por valores superiores. Grande influenciador desse pensamento foi Nietzsche, que entendia que o que vem a consciência é fruto da vontade pulsante, e não o contrário. Logo, o farol que ilumina o oceano é direcionado pela vontade e não pela consciência.