Existem
muitos crentes decepcionados com falsas igrejas e falsos pastores. Esses
pastores distorcem a Palavra de Deus para fazer comercio do povo (2Pd 2. 1-3).
Os irmãos que passaram por isso, conheceram fragmentos do Evangelho nessas
igrejas e portanto, não tem outras referências e vivências institucionais ou
pastorais para lhe servir de parâmetro. Logo, se tornam arredios a todo tipo de
organização eclesiástica e ministério pastoral por causa das dores emocionais e
espirituais causados por esses falsários. Pensam que toda igreja
institucionalizada está corrompida, e então, o problema é
"organização" e os "pastores"!
Em meio a tudo isso, tem se levantado líderes
desses "desigrejados" que sob a desculpa de combaterem o
"sistema" criam seus próprios sistemas financiados por crentes
ignorantes quanto ao Evangelho e a real natureza da igreja. Esses líderes criam
divisões em igrejas sérias com o pretexto de que todas estão corrompidas e todos
os pastores são ladrões de dízimos! Existem pessoas que vivem para promover
essas divisões, financiados por instituições estrangeiras.
O que a
carta aos Hebreus pode nos ajudar a responder a esses desafios? Para termos
essa resposta é preciso considerar algumas questões no contexto da carta. A
estrutura da espistola é fundamental para começarmos esse processo de
entendimento. O conteúdo é dividido em duas partes principais: a) doutrinária;
b) prática ou pastoral. O autor expõe na parte doutrinária que Cristo é o
clímax da revelação de Deus (1.1-3); a sua superioridade em relação aos anjos,
Moisés, sacerdócio Levítico (1-11); explicação sobre a tipificação e simbolismo
das cerimonias no Antigo Testamento, como sombra do que haveria de vir, Cristo
(10. 1-18) e que Cristo é sumo-sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque. A
segunda parte ele aborda de modo prático como os crentes hebreus deveriam viver
a luz dessas verdades doutrinárias. O autor exorta a Igreja não agir como os
apostatas (6. 1-12); a não cometerem o mesmo erro que o povo de Israel cometeu
no passado rebelando contra o Senhor e apostatando da fé (10.26-31); exorta
esses hebreus ao progresso na Fé como fizeram os homens e mulheres de Deus no
Antigo Testamento, sempre olhando para o consumador e autor da nossa fé, Cristo
(11-12); perseguir a santidade (12. 14-17); deveres Sociais e amor fraternal
(13. 1-6) e deveres espirituais em relação aos pastores (13. 7-17).
É nesse
contexto doutrinário e pastoral que o autor exorta os leitores originais, a não
deixar de congregar, como era o costume de alguns. Mas antes de expor
propriamente o texto que originou o tema desse artigo, é preciso que exponha
rapidamente os versos imediatamente anteriores a passagem. O autor usa muitas
figuras do Antigo Testamento para mostrar aos seus leitores originais, que eram
hebreus convertidos, que esses ritos, cerimonias, sacerdócios em Israel, eram
sombra de Cristo! Ele falou sobre a ineficácia dos ritos e leis cerimonias do
Antigo Testamento (10.1).
Os sacrifícios diários e anuais
em Israel nunca foram exigidos por Deus como uma forma permanente de
purificação de pecados. Mas serviam para apontar para a morte sacrificial de
Cristo, que de uma vez por todas cancelaria o escrito de dívida que pesava
sobre nós (Cl 2. 13-15). O autor reafirma essa verdade ao dizer (10. 3-4):
Entretanto, nesses sacrifícios faz-se recordação de pecados todos os anos,
porque é impossível que o sangue de touros e de bodes remova pecados. Os
sacerdotes apresentam sacrifício diariamente, todavia, Cristo como sumo
sacerdote e a própria oferta, apresentou-se perante o Senhor nos Santos dos
Santos de uma vez por todas (10. 11-18). Através de Cristo e pelos seus méritos
expiatórios, temos livre acesso a presença do Pai (10.19.
O autor
está dizendo a esses irmãos hebreus, que em Cristo todos os ritos cerimoniais
no tabernáculo e depois no templo, se cumprem. Em Cristo temos acesso a
presença do Pai, porque Ele é o Novo e Vivo Caminho! Como o próprio Jesus
afirmou aos discípulos, que Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida (Jo 14.6).
Devemos entrar na presença de Deus com ousadia, intrepidez, confiados nos
méritos de Cristo, porque ele é o nosso Mediador (1 Tm 2.5), o nosso Advogado,
o Justo (1Jo 2.1-3); e a nossa justificação (Rm 5.1)! O véu foi rasgado de uma
vez por todas (Mt 27. 51-53)!
Não existe
mais necessidade de sumo sacerdotes, temos um único Sumo sacerdote que nos
representa na presença do Pai, para sempre! O Senhor Jesus é o grande sumo
sacerdote na Casa de Deus (10. 21-22). O sacerdócio levítico apontava para
Jesus (7. 4-19); os sumos- sacerdotes da casa de Arão, apontavam para o Sumo
Sacerdote segundo a Ordem de Melquisedeque (7. 1-3). Para Cristo tudo converge,
se cumpre! Por isso, devemos entrar com coração sincero e plena certeza de fé
na presença do Senhor (10. 23)! A convicção de fé envolve crer em tudo que a
Escritura testemunha sobre Jesus.
A NECESSIDADE DE CONGREGAR
Consideremo-nos
também uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras.
(10. 24)
O autor exorta esses crentes a
congregar, considerando um aos outros, para que mutuamente ocorra o estimulo
espiritual para a caminhada. A comunhão da igreja é além de outros fatores, uma
forma de estimulo espiritual. O amor é estimulado, e a santidade é desenvolvida
como maior intensidade. A relação social na comunidade cristã exerce sobre nós
o aperfeiçoamento na fé! Por isso o autor afirma (10. 25): Não
deixemos de congregar-nos como é costume de alguns; antes, façamos admoestações
e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima.
Porque o
autor fala para não deixar de congregar? Porque alguns haviam deixado e voltado
para as práticas judaicas, conforme podemos confirmar: a) muitos haviam
abandonado a fé e a igreja (6. 4-8); b) retrocederam na fé, voltando a práticas
judaicas já cumpridas em Cristo (10. 32-39); c) muitos que estavam congregando
estavam com as mãos descaídas, joelhos trôpegos e profundamente desanimados na
fé (12. 12-13). Logo, esses irmãos deveriam se firmar na esperança da
Volta de Cristo e cumprimento das promessas redentoras!
A comunhão
dos santos em adoração expressa o desejo de entrar no descanso do Senhor e
adorar na nova Jerusalém ao Cordeiro e ao que está no trono (Ap 21)! É uma
santa preparação para esse momento e a vivência de uma realidade presente, mas
ainda não uma realidade plena! Os desigrejados demonstram que não anseiam por
isso ao deixarem de valorizar esse ajuntamento do povo da aliança. O termo
“desigrejado” é moderno, apenas uso para contextualizar a mensagem a nossa
realidade que essencialmente é a mesma do autor a carta aos Hebreus. Não quero
dizer com isso que desigrejados não serão salvos porque estão fora da igreja. A
igreja não salva ninguém, muitos que estão na igreja não serão salvos, porque
nunca conheceram realmente o Evangelho! É verdade que muitos desigrejados em
nossos dias estão nesse estado por uma frustração com pastores da Teologia da
Prosperidade, por problemas de relacionamentos com outros membros da igreja, e
por total imaturidade espiritual e ignorância bíblica, por nunca terem
conhecido ministérios pastorais sérios e bíblicos, e portanto acham que todas
as igrejas e pastores são hereges como os que eles conheceram. Para esses
irmãos, falta conhecimento e maturidade cristã. Contudo, muitos que são
desigrejados por ter abandonado deliberadamente a vida em comunidade, a batalha
da igreja pela saúde espiritual e teológica do povo da aliança. Essa atitude demonstra
que nunca conheceram realmente o
Evangelho! Porque alguém que conhece o Evangelho e o Supremo Pastor da igreja,
anseia fazer parte do povo em adoração e serviço e batalhar pela fé que de uma
vez por todas foi entregue aos santos (Jd 3). Não existe mensagem na Bíblia
para “desigrejados”, só existe para “igrejados”! O culto na vida diária e
individual leva o crente a participar do culto coletivo com o povo de
Deus! É completamente incoerente que alguém afirme ser um verdadeiro adorador e
não deseje intensamente adorar juntamente com o povo de Deus e ser pastoreado
por pastores fiéis que expressem o pastoreio de Cristo (Hb 13. 7-9).
A Vinda do
Supremo Pastor está próxima, e devemos nos exortar mutuamente para que vigiemos
e perseveremos nessa esperança. Quem não congrega, não pode ser exortado a
vigilância e santidade, pois vive no individualismo e egoísmo, disfarçado de
piedade! Talvez seja essa uma das maiores razões para a existência de
desigrejados, a arrogância e prepotência, que o impede de viver em comunidade,
ser orientado pastoralmente, submeter-se a uma liderança bíblica (Hb 13. 7-17)
e ser instruído pelo convívio bom e as vezes conflitantes com os demais membros
da igreja!
A vida
fora da comunidade cristã, da comunhão dos santos, estimula a prática de
pecados (10. 26-27): Porque, se vivermos deliberadamente em
pecado, depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade, já não resta
sacrifício pelos pecados; pelo contrário, certa expectação horrível de juízo e
fogo vingador prestes a consumir os adversários. A razão é simples,
quando estamos em comunhão com os santos em Cristo, somos exortados por Deus
através de pregações fiéis, exortados por irmãos piedosos, confrontados com o
bom exemplo de muitos irmãos, tudo isso nos estimula a buscar o Reino de Deus e
sua justiça (Mt 6.33). Todavia, quando estamos distantes da igreja, somos mais
suscetíveis as tentações da carne, do mundo e do Diabo. O curso natural é
afastar-se progressivamente da santidade e cometer vários pecados que começam a
ser justificados na mente como normais e que os que a igreja prega contra é
fruto de religiosidade e legalismo. Não discordo que na igreja existem práticas
proibidas que não são proibidas por Deus, fruto de tradição e costumes errados,
mas é também verdade que na igreja fiel a Escritura, somos exortados
constantemente a santidade!
CONSIDERAÇÕES
GERAIS
Fazemos
parte da comunidade da aliança. O nosso Deus nos promete Redenção absoluta
através do seu Mediador, Cristo. Essa certeza deve nos trazer firme convicção
para peregrinarmos nessa terra em direção àquela que nos foi prometida como
herança (Hb 11. 8-10). Não temos razão para olhar para trás, mas apenas para
frente, para o Autor e Consumador da nossa fé, Cristo Jesus (Hb 12. 1-3)!
Aprendemos
que é na comunhão da igreja que nos estimulamos na fé na esperança!
É na comunhão da Igreja que nos exortamos a viver em santidade (Cl 3.16-17)! É através
da comunhão da Igreja que amadurecemos na fé (Ef4.7-16)! A igreja não é
perfeita, é composta de pecadores salvos pela graça, mas se fosse perfeita,
deixaria de ser quando entrássemos nela para adorar! A vida comunitária dos filhos da
aliança é um preparo para a eternidade, onde viveremos plenamente em adoração e
comunhão ao Supremo Pastor!
Viver
isoladamente do restante dos crentes é uma clara evidência de falta de piedade,
e talvez de conversão! O crente verdadeiro anseia e se alegra por estar com o
povo de Deus! O crente verdadeiro usa seus dons para edificar o outro! Ele compreende
as falhas da igreja e luta em oração para que ocorra arrependimento e
quebrantamento da mesma, para o bem do corpo! O crente verdadeiro clama a Deus
para fortalecer a Igreja, para que Cristo seja honrado e glorificado! O
verdadeiro adorador anseia pelo Dia que congregará com uma multidão incontável
perante aquele que está no trono e ao Cordeiro, na Nova Jerusalém (Ap 7. 9-17)!
Que essa
tendência no meio evangélico não cause influencia na nossa percepção da
realidade a luz da Escritura. Mas que sejamos fiéis na nossa batalha pela fé
que de uma vez por todas foi entregue aos santos (Jd 3)! A Ele toda a glória
hoje e sempre, amém.