Romanos 13. 11-14
O apóstolo Paulo nessa carta aos irmãos em
Roma apresenta como eles deveriam viver nesse mundo ímpio. Nos capítulos
anteriores (1-11) ele apresentou o que esses crentes deveriam crer, pensar,
refletir teologicamente. Nos últimos capítulos (12-16) da carta, o apóstolo
diz como devem viver a luz do que creem! Teologia é para a vida, não é somente
para o intelecto, deve influenciar toda a nossa vida, nossa perspectiva, nossa
esperança, nossa conduta, nossas escolhas! É isso que Paulo resumidamente
apresenta nessa carta. O texto que vou expor está dentro da parte prática da
carta, e a partir dessa perspectiva da estrutura do contexto da passagem quero
expor alguns princípios fundamentais para a nossa vida cristã.
“...já é hora de vos despertardes do sono;...” (verso 11)
O apóstolo diz para a igreja em Roma
despertar de uma vez por todas do estado de sonolência. Mas que sono é esse?
Pode ser interpretado como um estado de mundanismo da igreja, de
descuido ou negligência espiritual, atitudes errôneas. É bem provável essa
interpretação, porque no verso 13, Paulo fala para não andarem em pecados de ordem sexual. O que
parece nos mostrar que havia praticas assim no meio da igreja e que precisavam
ser evitados. Esses irmãos precisavam entender a urgência de viver uma vida
santa e reta perante o Senhor, não podiam continuar a praticar esses pecados.
Porque deveriam parar imediatamente com essa
prática pecaminosa? O verso 11 responde: ...porque a nossa salvação está,
agora, mais perto do que quando no princípio cremos. A
salvação que Paulo aqui fala é o plano da redenção, refere-se a Segunda Vinda
de Cristo, que a cada dia que passa está mais próximo, vivemos os últimos dias!
Estamos entre a primeira vinda e a segunda vinda de Cristo, o plano de redenção
do eleito já está nas suas últimas fases!
A primeira parte já
foi cumprida, falta apenas a segunda. A igreja de Roma estava no caminho para o
grande Dia do Senhor! Paulo afirma para eles que esse Dia está mais próximo que
quando creram. O tempo do fim se aproxima!
Paulo aqui faz uso de
uma figura de linguagem: “noite
e dia”, para
exemplificar “trevas e luz”.
Ele está dizendo que as trevas estão cada vez mais intensas, “Vai alta
a noite”, mas a intensidade das trevas significa que o “dia vem chegando”, que é vinda de Cristo!
A Vinda de Cristo é
representada como algo que trará plena luz em 1 Coríntios 4.5: ...até que venha o Senhor, o qual não
somente trará plena luz as cousas ocultas das trevas... Tudo que antecede o dia glorioso da vinda de Cristo é
constituído de trevas, é noite. A história é envolvida por trevas do pecado que
caminha para o seu fim, é uma história breve em comparação com a eternidade que
com Cristo teremos. Se com Cristo sofrermos, com Ele seremos glorificados (Rm
8. 17). Os sofrimentos do tempo presente não podem comparar com a glória que em
nós será revelada (Rm 8. 18). Devemos ansiar pelo dia da Redenção dos
Filhos de Deus (Rm 8. 23).
O que devemos fazer diante de tudo isso? Mais uma vez o texto responde
(verso 12): ...Deixemos, pois, as obras das trevas
e revistamo-nos das armas da luz. Paulo diz para
deixarmos de uma vez por todas as práticas pecaminosas, práticas da “alta noite”. Ao contrário de
praticarmos as obras das trevas, temos que nos revestir das armas da luz, da
santidade de Cristo. A vida do crente é o combate contra os desejos da carne,
ciladas do Diabo e seduções mundanas (verso 13-14).
O que é andar
dignamente? É um andar honesto, com franqueza, com transparência, com
santidade, com retidão. Fomos alcançados em Cristo para uma nova vida, para
vivermos em retidão, justiça procedente da verdade (Ef 4.24). Paulo diz que
esse andar é como em “pleno dia”, mais um reforço a
interpretação do verso 14, sobre “noite como trevas” e “dia como
luz”.
Como é andar em pleno dia? O texto responde: ...não em orgias... Em
Roma era muito comum orgias sexuais unido a bebida durante os cultos pagãos.
Essas festas que começavam em público iam até alta noite e terminavam em
reuniões nas casas com orgias. Os crentes em Roma deveriam fugir dessas
práticas pecaminosas, que muitos deles tinham participado antes da conversão.
Temos no verso 13
cinco práticas pecaminosas que devem ser com todas as forças evitadas, onde
inicia cada uma delas com a expressão “não” : “não em bebedices” a bebedeira estava sempre associada
ao culto pagão; “não em
impudicícias” são pecados
morais mais secretos, o primeiro “orgia” era mais público, mas este seria todo
tipo de pecado imoral privado; “não
em dissoluções” são
desejos sensuais e pecaminosos colocados em ação, um pouco mais leve em termos
morais que os anteriores; “não em
contendas” são práticas políticas dentro da igreja, dividindo
grupos em favor de si mesmo; “não
em ciúmes” essa prática está ligada as contendas, onde existe
contenda, existe ciúmes.
O que devemos buscar? O verso 14 revela o que deve fazer parte da nossa
busca diária: “...mas revesti-vos do Senhor Jesus
Cristo...” Precisamos nos revestir de Cristo, de sua
santidade. Andar com Ele, viver nele, ama-lo de todo o nosso coração. O reino
de Deus está dentro de nós e portanto, é uma transformação de dentro pra fora!
Uma mudança moral e espiritual. É viver a eternidade em nosso coração, porque a
eternidade é conhecer a Cristo e o Pai. É viver para Cristo e entender
como Paulo disse aos filipenses (1.21): Porquanto, para mim, o viver é
Cristo, e o morrer é lucro.
O apostolo conclui
essa parte exortativa, dizendo (verso 14): ...e nada disponhais
para a carne no tocante ás suas concupiscências. Não devemos investir
na carne, no pecado, no desejo do Velho homem. As paixões carnais fazem guerra
contra a alma (1 Pe 2.11). Temos que despir do velho homem e revestir do novo
homem (Ef 4.22-24).
A igreja evangélica
moderna vive no sono, na negligência, na sua grande maioria! A igreja do século
XXI não quer saber do dia da Vinda de Cristo. Não respira esse momento, porque ela
quer desfrutar de coisas aqui, viver para ajuntar tesouro aqui, onde o ladrão
rouba e a ferrugem corroem.
A vinda de Cristo
está muito mais próxima que nos dias de Paulo, muito mais próxima do que nos
dias de Lutero e João Calvino, muito mais próximo do que no dia que
convertemos! O dia se aproxima, mas antes a noite ficará mais intensa! A
apostasia da fé é o grande desafio do nosso tempo. Paulo disse que isso
aconteceria ao escrever as duas cartas para Timóteo. É uma apostasia de dentro
da igreja, nos púlpitos, em muitos seminários. Enfrentamos uma luta de dentro
da igreja mais intensa que fora dela. Existe uma crise de liderança, falta de
líderes comprometidos verdadeiramente com o Reino de Deus!
Contudo, Deus tem
despertado homens valentes, homens que nunca se dobraram a Baal. Sempre
existirá um remanescente, um povo fiel, que ansiará por aquele grande dia! O
nosso grande desafio é viver em santidade, glorificar a Deus no meio da igreja,
ser achados fiéis até o fim. Que você possa ser achado fiel até Aquele Dia! Que
você possa viver para a eternidade! Que você viva para Cristo e não para a
carne! Que sua vida seja para a glória do Supremo Pastor da Igreja!
Quero terminar citando
o hino “Castelo Forte” composto por Martinho
Lutero, que expressa esse anseio que devemos ter pela volta do Cristo:
De Deus o verbo ficará,
Sabemos com certeza,
E nada nos assustará,
Com Cristo por defesa!
Se temos de perder
Família, bens prazer,
Se tudo se acabar
E a Morte enfim chegar,
Com ele reinaremos!
Reverendo Márcio Willian
[1] Bíblia com Novo
Cântico, 2ª edição, 1999, Editora Cultura Cristã, p. 78
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