MÁSPOLI,
Antônio A. G. (Org.) – Eclipse da Alma: edição século 21. São Paulo: Fonte
Editorial 2010.
Introdução
O
livro Eclipse da Alma organizado pelo Dr. Antônio Máspoli é um excelente livro
para aqueles que se interessam por conhecer mais sobre as doenças
psicossomáticas. É um livro que é produto de uma competente equipe de
especialistas nas doenças da mente, tais como: Dr. Pérsio Ribeiro de Deus –
Drª. Patrícia Pazinato – Drª. Dâmaris Cristina de Araújo Malta.
Progressivamente
a quantidade de pessoas com doenças psicossomáticas aumenta, tornando uma
tarefa árdua para os pastores que precisam de livros como este para auxiliar na
interpretação dessas doenças e saber para quem deve ser encaminhados alguns
casos.
Passaremos
para os pontos principais do livro, apontando apenas as que nos chamou mais
atenção e faremos considerações criticas a respeito do mesmo, na intenção de
tornar mais interessante a avaliação e consideração sobre o mesmo.
1. A Psiquiatria e a Religião
Esse
assunto é tratado com bastante propriedade pelo Dr. Pérsio Ribeiro de Deus,
onde ele apresenta as interpretações provindas da religião com relação as
doenças da mente. Embora ele demonstre os conceitos errados da religião,
considera esse meio como campo
terapêutico para aquele que se encontra doente na sua psiquê.
Concordamos com o Dr. Pérsio que a
religião primitiva e ainda alguns círculos atuais interpretam depressão como
sendo puramente influência demoníaca. Contudo, no desenvolvimento do raciocínio
do singular escritor, demonstra uma falta de compreensão bíblica teológica com
relação alguns efeitos da Queda na mente humana e a possibilidade de alguns
casos serem realmente causados por pecado ou até mesmo possessão demoníaca. No
caso citado por ele, que é Davi, a causa da depressão era sem duvida algum
pecado não confessado, como o próprio declara no Salmo 32.4: “Porque a tua mão pesava dia e noite sobre
mim, e o meu vigor se tornou em sequidão de estio.”
Para comprovar a nossa observação, o
Dr. Pérsio mais adiante referindo-se ao rei Saul, faz a seguinte análise:
“Sob
a leitura da psiquiatria atual, Saul se enquadra perfeitamente num distúrbio
psíquico denominado Transtorno Afetivo Bipolar. Nesta doença, há uma
alternativa entre períodos de euforia e de grande coragem e períodos de
profunda depressão, inclusive com a
presença de delírios de perseguição. Seus criados, entretanto, interpretaram
sua alteração psíquica como um espírito mau da parte do Senhor. Por tudo que
foi exposto até o momento, a interpretação dos criados era perfeitamente
compreensível à época, pois acreditava-se então que Iavé os punia com
catástrofes, doenças e sofrimentos, para que retornassem ao caminho do Senhor.”[1]
Fica claro que o Dr. Pérsio é um
excelente psiquiatra, compreende todo o mecanismo psíquico de uma pessoa, no
ponto de vista médico. Contudo, ao usar o conhecimento médico para interpretar
comportamentos de homens narrados nas Escrituras, comete alguns deslizes
teológicos. Quando diz que “Sob a psiquiatria atual, Saul...” Demonstra que
toda a sua análise de Saul parte da psiquiatria e não de uma compreensão
exegética do texto. Depois afirma na referida citação: “...Seus criados, entretanto, interpretaram sua alteração psíquica como
um espírito mau da parte do Senhor...” Indica que seus pressupostos
teológicos consciente e inconscientemente defende que os relatos bíblicos são
frutos de uma religião, e não a religião judaica fruto das Escrituras. Toda
narrativa deve ser interpretada a luz de outras passagens. Sendo assim, Saul
foi um homem com neuroses de perseguição, nesse ponto a avaliação esta correta,
mas em determinados momentos foi oprimido por espíritos malignos que
potencializaram esses pecados e distorções em sua alma.
É importante esclarecermos que essa
avaliação deprecia apenas a questão de interpretações bíblicas equivocadas por
parte do autor e não a questão de avaliação médica. Ele é um especialista e não
ousamos discutir área que não nossa competência . Ele mostra com propriedade as
concepções erradas de muitos cristãos acerca da depressão, onde os quais atribuem
tudo ao pecado, demônios ou punições de Deus. É preciso interpretar os fatos a
partir de uma análise bíblica equilibrada e exegética, não desprezando os recursos
médicos dados por Deus. Por isso a abordagem do Dr. Pérsio é importante e vem
para somar no conhecimento do conselheiro cristão.
2. A Doença
Depressiva sob a ótica da Psiquiatria
O autor expõe o aumento de
depressivos no mundo, o que deve nos alertar. Sendo a doença do século. Em
poucos anos será a principal doença no mundo. O que exige dos pastores uma
condição cada vez maior de tratar esses problemas.
O Dr. Pérsio demonstra com clareza
que para a neurociências a depressão é uma desordem do funcionamento cerebral,
que afeta e compromete o funcionamento normal do organismo, com reflexos ou consequências
na vida pessoa em seus aspectos emocionas ou psicológicos, familiares e
sociais. Ele ainda afirma: “A doença
depressiva deve, portanto, ser examinada sob o ponto de vista biológico,
genético, cognitivo, social, considerando ainda a história pessoal, econômica e
espiritual.”[2]
A pergunta que fazemos é se tal
conceito que toda depressão é de fundo biológico, genético, cognitivo, social,
não estaria o autor caindo no mesmo erro de Jay Adams que é denunciado
anteriormente[3]
como que atribuindo toda depressão a problemas pecaminosos? É necessário buscar
o equilíbrio desta concepção entre os dois extremos.
O Dr. Pérsio conclui seus argumentos
neste capítulo afirmando que o tempo atual é conhecido como “década do cérebro”[4].
3. Angústia, Fé e Sentido da Vida na Pós-Modernidade
O Drª. Dâmaris Cristina explica que
a depressão pode ser um resultado desta interação do homem com o mundo, que
muitas vezes lhe é inóspito. Pode ser a manifestação da escolha inautêntica do
Ser.[5]
Adiante
a autora coloca que o homem se angustia com a possibilidade de ser ou não ser:
“O
Homem vê-se mergulhado em angústia diante desta dimensão de Ser, frente à
possibilidade de não Ser ou pelo temor ao seu Vir a Ser, por não conhecê-lo ou
pela incerteza de não concretizá-lo. Sente-se incapaz de viver em liberdade de
escolhas; teme escolher, principalmente optar por seu modo mais próprio de
viver no mundo, de forma angustiada, mas preenchida de sentido e de
incertezas.”[6]
O homem só poderá contemplar sua
existência mediada por relações a partir do outro e com os outros, explica a
Drª Dâmaris.[7]
Mas a sociedade com sua visão narcisista e materialista atrapalha esse processo
de aprendizagem a partir do outro ou dos outros.
4.
A Depressão no Contexto da Psicologia de Carl Gustav Jung, da Religião e do
Aconselhamento Pastoral Solidário
O Dr. Máspoli vai introduzir seu
assunto a partir de considerações sobre as várias visões religiosas de
enfermidade, algo semelhante ao que fez o Dr. Pérsio. Ele aborda mais o aspecto
da expiação como sendo um meio nas religiões antigas de expiar a culpa, tendo
sempre Xamãs que detêm os poderes sobrenaturais para curar as enfermidades, o
que precisamos em muitas igrejas evangélicas.
Ele abordará a força da culpa nas
culturas religiosas. A visão em muitos meios religiosos é que a causa das
enfermidades é sempre a culpa. Essa visão causou uma grande quantidade de
cerimônias de sacrifícios expiatórios.
O autor denúncia a incompreensão de
muitas igrejas evangélicas que têm no seu meio,
pessoas histéricas, epiléticas e esquizofrênicas... que são tidas sempre como
endemoniadas.[8]
Essa prática visão ocorre muito no meio pentecostal e neo-pentecostal.
É enfático a posição do Dr. Máspoli
que as compreensões religiosas do passado e muitas do presente são equivocadas
com relação as doenças da mente. Concordamos com ele, que o desenvolvimento,
até mesmo científico, é recente e que por muito tempo houve uma ignorância
tanto religiosa quanto cientifica. Mas o autor corre o risco de passar a ideia
que no campo religioso existe uma plena ignorância de como lidar devidamente
com o assunto. É lógico que no campo da medicina nem um pastor com formação
teológica tem condições de avaliar corretamente questões biológicas, mas não teria como harmonizar as duas
partes, médicos e pastores?
O Dr. Máspoli é muito feliz na
explicação com relação ao significado didático dos sacrifícios em Israel, como
ordenanças de Jeová.[9]
Mostrando que o ritual do sacrifício estimulava a pessoa a pensar sobre o
sentido da falta cometida.
Ele declara que: “Na medida em que o equilíbrio emocional se estabelece o equilíbrio
espiritual se restabelece.” [10]Não
seria o contrário? Qual tem primazia no nosso ser?
Existe uma frase do Dr. Máspoli que
é fantástica: “A Depressão é a
imperfeição no amor.”[11]
O deprimido sofre por falta de amor. Diríamos que por vezes se ama tanto que
cai em depressão, sendo uma distorção do amor próprio, que busca a
auto-destruição. Ele diz mais a frente: “O
amor nos abandona de tempos em tempos e nós abandonamos o amor.”[12]
O autor
apresenta algumas características clássicas do depressivo, como: “...Ele (depressivo) e a cama são irmãos
siameses...”[13];
“A depressão esparrama a concentração e
fragiliza a vontade...”[14];
“A depressão geralmente leva a gula...”[15].
Para concluir, são colocados alguns
princípios fundamentais para a compreensão da depressão: a) As pessoas adoecem, sofrem e se deprimem por que são humanas;[16]
b) A depressão deve ser compreendida numa perspectiva bíblica holística: Quando
o homem adoece seu corpo, sua mente e seu espírito também sofrem;[17]
c) Nada nos pode separar do amor de Deus[18];
d) A graça de Deus como base para a saúde humana e uma possível superação da
depressão[19];
e) O perdão incondicional de Deus como
suporte para a mente do deprimido[20].
Opinião:
O livro tem relevância para todo
conselheiro que deseja aprender mais sobre o mecanismo da mente humana. São
especialistas na área medica com extrema experiência que lançam luzes para essa
área tão carente de bons materiais.
A leitura é agradável, com exceção
de partes mais técnicas que para leigos em psiquiatria torna-se enfadonho,
todavia, são poucas partes nesse caráter. Na maior parte do material é didático
e exemplificado pelos autores.
Todo cristão e especialmente os
pastores devem ler esse livro. Ajudará bastante na compreensão de muitos
aspectos relacionados as doenças da mente. Portanto, recomendamos para ser lido
por cristãos com dificuldade de compreensão nesta área e para pastores
conselheiros.
Todavia, quando tocam em questões teológicas
e bíblicas, cometem erros por não ser a área de atuação deles. Embora, o Dr.
Maspoli seja pastor, sua atividade de maior dedicação é a psiquiatria e não a
teologia. As recomendações são para as áreas de competências dos autores e não
em outras tocadas pelos mesmos!
Parabéns pelo blog. Que a potente mão do Senhor esteja contigo !!!
ResponderExcluir