Precisamos fazer uma leitura adequada da nossa
época para aplicarmos corretamente a teologia aprendida. A pós-modernidade é
neta da renascença e a frustração do idealismo de seu pai, o “iluminismo”.
O último colocava a razão como centro da verdade e proclamava um mundo melhor a
partir da razão humana. O gráfico abaixo exemplifica bem essa decadência
cultural:
Idade
Média
|
Pretensamente o tempo de Deus
|
Renascença
|
Homem no Centro
|
Iluminismo
|
Razão no Centro
|
Pós-modernidade
|
Sem centro
|
Sobre essa frustração que a pós-modernidade carrega
em sua essência, provinda do Iluminismo, é comentada pelo Dr. Leandro Antônio
de Lima:
Os
modernistas tentavam encontrar algo que pudesse unificar o pensamento. Eles
fizeram isso até mesmo tentando inventar novos mitos (com Horheimer e Adorno),
como as obras de arte de Picasso, por exemplo, buscavam já numa atitude
desesperada de quem percebe que o projeto estava falhando...Desejava-se algo que devolvesse o
absoluto, não no divino, mas no próprio homem, mas não foi possível encontrar.
A pós-modernidade desistiu dessa busca e simplesmente aceitou que o absoluto não
existe e, para muitos, nem os ideais, mergulhando no existencialismo niilista
(do latim “nihil”, isto é “nada”, ou seja, a ideia de que não há sentido
transcendente algum para a existência e, por isso, tudo o que resta é viver a
vida o melhor possivepossívele preocupar com o depois). Por isso, a apalvra
chave da pós-modernidade é anti-homem (embora não anti-humanismo).
Curiosamente, este “anti-homem” da pós-modernidade é bem mais “humano” do que o
humanismo da modernidade, pois se abre para a realidade, para a efemeridade. E
por sua vez pode se abrir para um envolvimento mais sério com a natureza e um
respeito até mesmo maior pela vida.[1]
Com respeito ao último ponto, a pós-modernidade,
que caracteriza o nosso tempo, Dr.
Hermisten Maia esclarece:
Hoje, não temos mais referências, o homem já não é
o centro de todas as coisas, pois já não há mais centro. Estamos “perdidos no
espaço”. Sem absolutos, não sabemos ao certo o valor do homem e o seu papel no
universo. Sem princípios universais, não existem absolutos; sem estes, tudo é
possível.[2]
Podemos colocar algumas diferenças práticas entre o
iluminismo e a pós-modernidade:
Iluminismo
|
Pós-modernidade
|
Proposito
|
Diversão
|
Planejamento
|
Casualidade
|
Hierarquia
|
Anarquia
|
Centralização
|
Dispersão
|
Seleção
|
Associação
|
O iluminismo era caracterizado por organização,
planejamento, controle e domínio. Sua ruina se deu por causa do próprio homem,
não tem como existir harmonia, verdade e justiça, baseado no homem. Já a
pós-modernidade é essencialmente imediatista, subjetivista e existencialista em
todas as suas esferas. Desprezam o controle, o domínio, o planejamento como
alvo existencial, por não existir verdade absoluta, padrão, é melhor deixar as
coisas como estão para ver o que vai dar.[3]
Essa relatividade é a marcar maior da pós-modernidade.
Contudo, na prática ela é intolerante em relação a uma visão ortodoxa, firme, convicta de
algo. A incoerência é sua característica, afirma não existir verdade absoluta,
todavia, afirma verdades absolutas: “Que
não existe verdade absoluta!” Tudo o que se opõe a ideia de relativismos é
classificado como uma ofensa a paz e harmonia cultural e social. A razão de tal
atitude é simples, a pós-modernidade se baseia no subjetivismo, no sentimento e
experiência. Logo, quando as bases de uma cultura se baseia em subjetivismo,
tudo é relativizado a particularidade de cada indivíduo. Porém, ao mesmo tempo
que, é relativizado, é também normatizado a partir do sentimento da maioria, da
massa, para que todos vivam dentro de um padrão criado a partir de sentimentos
e experiências comuns.
O
pluralismo é uma das mais fortes características da pós-modernidade. A
pluralidade de raça, crença, sistemas de valores, línguas, cultura, religião, é
absolutamente natural para a humanidade. Por exemplo os EUA, comenta Dr.
Carson, é maior nação judaica irlandesa, sueca do mundo; é a segunda maior
nação negra e logo se tornará a terceira maior nação hispânica.[4]
É uma torre de babel! Quanto a questão de pluralidade americana, que representa
a diversidade mundial, não é nada ruim em si mesmo e nem bom em si, mas natural
para o contexto histórico americano. Por outro lado, existe uma pluralidade
incentivada, onde a sociedade apoia e incentiva a pluralidade para uma
convivência “melhor” sem muitos conflitos ideológicos. Nesse caso a pluralidade
incentivada é um valor em si mesmo, a mudança é tornar-se essencial para o
homem moderno. Por trás de toda essa luta por pluralidade e mudanças
constantes, o foco principal é a religião. Por quê? Porque a discussão toda
gira em torno da autoridade, de moralidade, da verdade, do bem, do mal, da
revelação e assim por diante. [5]
O
Dr. Carson expõe com clareza a pluralidade mais perigosa para a saúde da
igreja, que é a pluralidade filosófica ou hermenêutica. Esse pluralismo não
aceita que alguma verdade, ideologia ou religião esteja acima de outra. O único
credo absoluto é o credo do pluralismo. É um espirito de desconstrução cultural. Essa nova hermenêutica pluralista não usa
recursos objetivos para interpretação, mas apenas instrumentos subjetivos,
logo, toda a interpretação, tratando-se da Bíblia, é relativizada pelo
subjetivismo. A hermenêutica conservadora pertence à era “moderna” em que a ciência, a erudição e o estudo sério eram o
pensamento capaz de resolver a maioria dos problemas, de responder à maioria
das perguntas e de entender toda a realidade. A hermenêutica radical, em
contraposição, reconhece a subjetividade da interpretação e o quanto ela é
modelada pelas culturas e subculturas a que o interprete pertence, esclarece
Dr. Carson.[6]
Resumindo, a pós-modernidade é a cultura da diversidade incentivada e
imposta culturalmente. É escravizada pelo coração enganoso, pelo subjetivismo,
ancorada em um porto que não é seguro, que é instável e mutável o tempo todo. É
a desconstrução de tudo que é antigo, passado, e a construção disfarçada de um
novo tempo sem eixo, sem rumo, aliás, o rumo e o eixo continua sendo o homem,
mas não tendo como eixo o soberano Deus e sua Palavra! Somente uma razão e
coração regenerados pelo Espírito Santo podem entender que a vida sem Deus é
uma vida sem eixo, sem rumo, sem graça! O pior de tudo é que muitos vão
descobrir que viver para essa vida é correr atrás do vento, somente no dia do
juízo!
Reverendo Márcio Willian Chaveiro
[4] CARSON, D. A. Carson, O Deus
Amordaçado o Cristianismo Confronta o Pluralismo, Editora SHEDD, 2013, p. 13.
Essa época da pós-modernidade é o tempo da confusão, contradição e perversão. Todo o relativismo é uma ponte direta para a perversão completa dos códigos morais e sistemas de valores. Essas filosofias modernas se autocontradizem prometendo liberdade mas negando o ser humano como indivíduo e confusão porque se esforçam para rechaçar um passado construído a muito custo em nome de futuro hipotético.
ResponderExcluirMuito bom o texto reverendo. Convido a conhecer e também seguir o meu blog, espero que goste!
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