O
jurista, político, diplomata e escritor Ruy Barbosa ao discursar no Senado Federal
em 1914, com o tema: “Sinto Vergonha de Mim”
afirmou entre outras coisas que a família
é “célula-mater da sociedade”.[1] A família é o fundamento de uma
sociedade, a célula principal, o padrão de todos os demais relacionamentos sociais.
No século XXI essa declaração não tem
sido defendida pela maioria dos brasileiros. Em tempos como o nosso tem sido
questionado constantemente essa formação tradicional: pai, mãe e filhos! A
família pode ter outras formações, segundo a visão moderna, como: pai, pai e filhos ou mãe, mãe e filhos!
Em algumas escolas públicas tem sido abolido o dia das mães e dia dos pais, com
o argumento de não ofender crianças que são “cuidados” por homossexuais! Não
será mais o dia da mãe ou do pai, mas o dia dos “cuidadores”!
Nosso país é “laico”,
ou seja, não tem uma confissão religiosa que o rege que interfere nas decisões
do estado democrático. Logo, cada pessoa pode, em “tese” ter suas opiniões,
suas crenças, suas escolhas. Para um país laico é extremamente normal esse tipo
de posicionamento em relação da "multiformidade familiar",
afinal todo cidadão tem o mesmo direito de defender sua ideologia, afirmam eles!
Somado a isso, vivemos o período da pós-modernidade, que defende a
relativização de tudo que é fixo, dogmático, absoluto, sob a teoria que não
existe verdade absoluta. Logo, a família não é vista como algo que não pode ser
modificado na sua estrutura.
Como devemos
responder a todos esses ataques a família? Cremos que a resposta antes de
qualquer coisa, deve ser interna, ter as nossas convicções de fé firmadas nas
Escrituras. Vamos começar pelo princípio de tudo, a criação, em Gênesis, porque
começar nesse ponto das Escrituras? Porque é necessário voltar às origens, na
instituição da família para descobrirmos sua real identidade. É no momento do
seu estabelecimento que descobrimos o seu real sentido e não nas distorções de
seu uso no decorrer dos tempos. Não importa como a sociedade moderna enxerga a
formação da família, não são seus variados usos na história que
mudarão sua identidade. Quem pode mudar a formação da família é
aquele que a instituiu, Deus, e não o homem finito, pecador, o qual é
movido pelos ventos da cultura, como a palha que o
vento dispersa! Como Deus é imutável, seus planos, decretos e vontade também
são. Ou seja, não existe qualquer possibilidade de mudança dessa instituição!
O livro de Gênesis,
que é o livro dos princípios, das origens: a origem do mundo (Gn 1-2), a
origem do homem e da mulher (Gn 2.4-25), a origem do pecado (Gn 3.1-24), origem
do casamento e da família (Gn 2.18-25; 4.1-7), da corrupção humana
manifestada nas várias esferas (Gn 4.1-24; 6. 1-7), origem das nações (Gn 10.
1-32), dos patriarcas (Gn 12-50). É o livro da identidade do povo da
aliança. Esse livro foi usado por Moisés para tirar o Egito do coração do povo,
e deve ser usado para tirar a pós-modernidade do coração
dos evangélicos do século XXI!
Em Gênesis 1-2 é a narrativa da criação do mundo,
do habitat do homem e da mulher, coroa da sua criação. O ambiente que o homem e a mulher foram criados foi assim feito
para que ambos fossem doadores de vida. Deus criou um jardim, onde só havia
vida, alegria, ternura, harmonia entre os seres vivos. O Jardim no Éden era a
expressão maior da beleza da criação divina. O Reverendo Hernandes Dias Lopes
escrevendo sobre a mulher ter sido criada a imagem e semelhança de Deus assim
define:
A mulher
foi criada à imagem e semelhança de Deus, para a glória de Deus e felicidade do
homem. Ela é um presente de Deus, uma auxiliadora idônea para o homem, o centro
dos seus afetos, a prioridade dos seus relacionamentos. A mulher foi a última a
ser criada no universo; o mais belo poema de Deus, a coroa da criação![2]
O homem foi criado para relacionar com
o seu Criador. O
homem e a mulher foram criados perfeitos e como realezas. Eles não tinham nada
a ganhar, já tinham tudo. Foram criados para serem filho e filha do Rei Soberano,
deveriam cumprir suas tarefas reais para as quais foram equipados. Tudo deveria
ser cuidado e preservado por eles.[3] O Senhor tinha um
relacionamento íntimo com eles, caminhava no Jardim com o homem e com a mulher
(Gn 3.8).
O
Dr. Van Groningen nos esclarece sobre essa verdade acerca do homem como
realeza:
...Deus criou o cosmos e trouxe à existência seu reino cósmico.
Como parte deste reino, Deus criou Adão e Eva e os colocou nele para serem seus
representantes e agentes. Ele o fez ser realeza; ele lhes deu um status real.
De fato, é realmente necessário para o entendimento da origem da humanidade,
relacionamentos, caráter, propósito e metas, considerar o contexto do reino
cósmico do homem e da mulher desde o começo de sua existência. Adão e Eva, e
todos seus descendentes, foram criados por Deus para serem seus vice-gerentes.[4]
O casamento do
homem e da mulher tinha dois propósitos principais: a glória de Deus e a
felicidade humana. Deus só é glorificado através de uma família constituída de
casamento entre um homem e uma mulher. Não existe a possibilidade de outra
forma de união glorificar a Deus. Por outro lado, não existe possibilidade de
felicidade para o homem e a mulher fora do proposito estabelecido pelo Criador.
Quando Adão ao viu Eva reconheceu essa verdade e romanticamente
compôs uma poesia para a sua adjutora ideal (2. 23): “E disse o homem:
Essa, afinal, é osso dos meus ossos e carne da minha carne;
chamar-se-á varoa, porquanto do varão foi tomada.”
Quando o casamento e a família foram instituídos por Deus, o homem
foi colocado para ser o líder da família. Nenhuma instituição humana existe sem
um líder, não é diferente na família, ela precisa de um líder e esse líder é o
homem. Ele responde por ela (a família), tem a obrigação de cuidar e
protege-la, ser o guia, o sacerdote espiritual. A liderança de Adão como marido
e pai teria como objetivo demonstrar amor, de tal modo que sua esposa e filhos
teriam prazer em serem liderados. A liderança do homem refletiria a forma de
Deus liderar!
A esposa por sua vez deveria se submeter-se a liderança do marido.
Pois foi o próprio Deus quem assim estabeleceu. Não é uma submissão escrava,
nem uma questão de inferioridade, mas apenas de função no campo social. É um
complemento existencial. O valor
espiritual da mulher é o mesmo que a do homem, uma vez que natureza humana é a
mesma. Agora no aspecto social familiar, existe uma diferença funcional para a
harmonia.
Adão e Eva formaria
um casal e posteriormente uma família, em seguida uma sociedade. Deus fez uma
aliança com esse primeiro casal que se estenderia a todas as famílias que deles
procederia. Esse casal formaria uma família e todos que deles procedessem
formariam uma humanidade que glorificaria a Deus através de uma cultura santa
que reconheceria o poder e a glória do Criador, uma sociedade que refletiria o
amor da relação trinitário de Deus, e essa humanidade sempre separaria um dia
da semana para exclusivamente adorar o Criador!
O Dr. Van Groningen afirma que esta união
conjugal do homem e da mulher, nos moldes estabelecidos por Deus, expressa a
unidade no ser do Deus triuno:
O homem
e a mulher são o centro do núcleo familiar. O homem e a mulher devem se tornar
uma só carne. Há uma bela união entre o triúno Deus, - Pai, Filho e Espírito - , uma unidade
espiritual, uma unidade divina, e como há um vínculo entre o Deus triúno e o
ser humano homem e mulher, porque ele os criou à sua imagem, assim deve agora
haver um vínculo entre o homem e a mulher, o marido e a esposa. Eles devem ser
uma unidade. Eles devem ter, como se fossem mesmo, um coração, uma mente, um
alvo e um propósito, quando unirem seus corpos para trazer a semente que Deus
quer que eles tragam à sua criação. Como o vínculo no ser trinitário é um
vínculo de vida e amor e assim como o vínculo entre Deus e as criaturas
portadoras de sua imagem é um vínculo de vida e amor, assim o vínculo do
casamento, o aspecto mais básico da família, é também um vínculo de vida e
amor. É um vínculo para nunca ser quebrado.[5]
A Queda e Seus Efeitos no Casamento e na Família
Infelizmente
o homem e a mulher desobedeceram a Deus e o pecado começou a fazer parte da
natureza humana! Em Gênesis 3 revela a dinâmica da tentação e queda do homem e
da mulher. A serpente, que era criação, lidera a mulher e Adão; a mulher que
deveria ser submissa ao homem, lidera Adão (3.1-6). Uma total inversão de
funções! Quando olhamos a ordem das maldições elas são dadas por Deus nessa
mesma ordem de desobediência e inversão de funções: a primeira a ser
amaldiçoada é a serpente (3.14-15); a segunda a ser amaldiçoada é a mulher
(3.16); e o terceiro a ser amaldiçoado é o homem (3.17-19). O pecado inverteu
valores e funções. Por isso existe uma eterna luta entre as funções do homem e
da mulher na família e na sociedade. O Dr. Carson comenta essa passagem:
Acima de tudo, há uma grande inversão: deus cria o homem que ama sua
esposa, procedente dele, e juntos eles devem ser vice-regentes sobre a ordem
criada. Em vez disso, um dos seres da ordem criada, a serpente, seduz a mulher,
que arrasta o homem, e juntos eles desafiam a Deus – a ordem da criação é
invertida.[6]
Quais
maldições afetaram diretamente o casamento?
A
primeira parte afetada que diretamente atinge o casamento é a natureza humana.
O homem foi afetado pela Queda na sua razão, vontade, emoções, desígnios do
coração, desejos, propósitos, em toda a natureza humana, não existem partes do
homem que não tenha sido afetado pelos efeitos da Queda (Gn 2.16-17). Logo, o
homem e a mulher são completamente pecadores, mortos em delitos e pecados (Ef
2. 1-3), injustos completamente diante da justiça de Deus (Rm 9. 9-18). Isso
significa que no casamento existe uma união de dois pecadores, e na família uma
convivência de pecadores. Lógico, que se tratando de crentes verdadeiros o
casamento é a união de dois pecadores salvos pela graça, e a família a união e
convivência de pecadores salvos pela graça.
A
segunda realidade com relação a esses efeitos da Queda no casamento e na família
seria o conflito conjugal (3.16): “...o teu desejo será para o teu
marido, e ele te governará. ” A mulher que foi criada para auxiliar o
homem o ajudando a ser quem Deus determinou que ele fosse, cumprindo a sua
missão (Gn 2.18), agora após a Queda, tentará usurpar o tempo todo a liderança
no lar e na sociedade, mas no final, essa tentativa pecaminosa causará danos
emocionais, frustrações, infelicidade na alma, porque ela não foi criada para
carregar o peso da liderança de uma família. John Piper corretamente
comentou essa passagem: ...a mulher sofrerá
em relação a seu marido. Deus a entrega a um desejo de impor sua vontade sobre
o seu marido. Por ter usurpado a liderança do marido, na tentação, Deus a
entrega à miséria da competição com aquele que, por direito, é seu líder. Isto é
justiça, uma resposta na proporção do seu pecado.[7] Por outro lado, o mesmo escritor cita o que
James Dobson fala sobre a função e responsabilidade do marido que continua após
a Queda e tornar-se impossível sem a graça de Deus:
Um homem cristão é obrigado a liderar
sua família no máximo de suas habilidades... Se sua família comprou itens
demais no crediário, então o arrocho financeiro é, em última análise, falta
sua. Se a família nunca lê a Bíblia ou raramente vai à igreja aos domingos,
Deus culpa o homem. Se as crianças são desrespeitosas e desobedientes, a
responsabilidade principal está sobre o marido...não sobre a esposa... Nossa
maior necessidade é que os maridos comecem a liderar suas famílias, em vez de
esgotar todos seus recursos físicos e emocionais na mera obtenção de dinheiro.[8]
Por isso que Paulo
afirma que a mulher deve respeitar seus maridos e os maridos devem amar suas esposas
(Ef 5.33): “Não obstante, vós, cada um de per si também ame a própria
esposa como a si mesmo, e a esposa respeite ao marido. ” A
relação conjugal deve manifestar a relação de amor de Cristo pela Igreja, Paulo
explicou o porquê de usar o exemplo e as funções dentro do casamento, afirmando
que se tratava do grande mistério da união mística de Cristo com sua igreja: “Grande
é esse mistério, mas eu me refiro a Cristo e a igreja. ” Esses textos nos mostram o quanto o casamento
e a família expressam o caráter de Deus e sua relação com o seu povo. Não é
algo simples e sem consequências espirituais, emocionais, sociais e culturais
lutar contra essa instituição de Deus! A única forma de exercermos corretamente
as funções estabelecidas por Deus no casamento e na família, é nos enchendo do
Espírito Santo (Ef 5. 18)!
Considerações Finais
Somos pais e não cuidadores! A família é
a mais antiga instituição da terra, a igreja começou com a família, os patriarcas
eram os pastores em seus lares (Gn 15. 1-21; Jó 1. 1-12). A bênção de Deus só é
derramada sobre a união de um homem com uma mulher, nos termos estabelecidos
pelas Escrituras! Não existe amor verdadeiro entre homossexuais, existe paixão,
desejos sexuais, não amor nos moldes bíblicos! Não existe família formada por homossexuais!
A lei do país pode dizer que existe família formada por pessoas do mesmo sexo,
adotando crianças, mas nunca será família! Porque? Porque aquele que instituiu a
família não muda o que estabeleceu para vivermos! Não servimos a um Deus que se
adapta a cultura do homem, servimos a um Deus que governa o homem, mesmo quando
este homem acha que governa o seu tempo!
O homem e a mulher foram
criados a imagem e semelhança de Deus, ambos refletiriam a glória do Deus
triuno. As funções são diferentes, o homem é o líder, a mulher é auxiliadora,
porém, as funções não tornam um mais importante que o outro, funções diferentes
foram dadas para uma harmonia no lar. O pecado afetou o raciocínio humano e
distorceu essas funções e as interpretações das mesmas. Somente em Cristo,
podemos santificar nosso lar e colocar pelo poder do Espírito Santo em nós, as
funções em ordem.
A
relação conjugal e familiar deve glorificar a Deus nas suas relações, para
influenciar corretamente a formação da sociedade e da cultura. Se a família
deixa de ser o fundamento da sociedade, tudo estará comprometido! Os efeitos
serão desastrosos! A moral, a ética, serão avaliados por padrões completamente
distantes do padrão estabelecido por Deus em sua Palavra. Sem família nos
moldes bíblicos o homem sofrerá as consequências dos seus erros, será o fundo
do poço moral do nosso país!
Entenda
que os conflitos conjugais, familiares, a inversão de valores e funções, são
consequências da Queda. A única forma de restauração da imagem de Deus no
homem, a qual foi desfigurada pelo pecado, é através de Cristo! A única forma
de um casamento e uma família refletir a santidade de Deus nesse mundo em
trevas é através do Evangelho da cruz no poder do Espírito Santo! Que Cristo
seja o centro da sua vida e da sua família! Amém
Reverendo Márcio Willian Chaveiro
(pastor da IPC do Jardim Caieira – Limeira)
[1] http://www.obreirosdeiraja.com.br/o-velho-e-eterno-ruy-e-incontestavel/
[2] LOPES,
Hernandes Dias Lopes – Casados & Felizes – Editora Hagnos – 2009, p. 103
[3] GRONINGEN,
Van Groningen e Harriet – A Família da Aliança
– Cultura Cristã, 1997 p.91
[4] GRONINGEN,
Gerard Van Groningen - Criação e Consumação, volume I, 2002, p. 71
[5] GRONINGEN, Van Groningen e Harriet, 1997, p. 37
[6]
CARSON, D. Carson, O Deus Presente,
Editora FIEL, 2010, p.49
[7] PIPER,
John Piper e Wayne Grudem, Homem e Mulher, Editora FIEL, 1996, p. 47
[8] DOBSON,
James Robson citado por John Piper, 1996, pp.15-16
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