sexta-feira, 6 de junho de 2014

O MISTICISMO PAGÃO NO MEIO EVANGÉLICO

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A busca constante pelo místico é uma das características da teologia evangélica. A Batalha Espiritual é grandemente divulgada nos meios de comunicação, como a sexta-feira do descarrego, unção da vassoura[1], e assim por diante! Tudo que acontece na vida do crente que o impede de ganhar dinheiro, ter saúde, ou ser feliz emocionalmente, é encosto! Eles dizem que é necessário participar de uma campanha que vai expulsar todos os demônios que escravizam aquela pessoa. Até dor de cabeça, dor de dente, unha encravada, pode ser o demônio!
            Qualquer conto de fantasia é acreditado no meio evangélico como sendo batalhas espiritual ou ações poderosas do Espírito Santo. Existem pastores e pastoras que constantemente vão passear no inferno e contemplam alguns famosos sofrendo, como Roberto Marinho, dono da Rede Globo![2] Pregadores que sabem a localização do inferno! Que sabe quando Cristo vai voltar e assim por diante! Todos esses casos revelam sintomas de podridão da teologia no meio evangélico! Aceita qualquer coisa, menos a Escritura!
            Autores como Benny Hinn são lidos pelos evangélicos brasileiros e tido como mentores espirituais. Benny Hinn já escreveu livros que se tornaram um grande sucesso, devido a quantidade vendida, como “Bom Dia Espírito Santo; Bem-vindo, Espírito Santo; A Unção e o Caminho Bíblico para a Bênção.” O grande problema dessas literaturas é a distorção disfarçada! Benny Hinn, assim como outros, afirma verdades bíblicas e teológicas e no meio lança mentiras, que são absorvidas pelos crentes como se fossem verdade. É o fermento que leveda toda a massa (1 Co 5. 7). Como alguém certa vez afirmou: “A mentira quanto mais se parece com a verdade, mais perigosa ela é!”
O livro do referido autor, chamado “A Tua Vontade, SENHOR, não a Minha”, é um bom exemplo disso. Ele fala verdades em grande parte do livro, tais como: “Você não pode descobrir a vontade de Deus se estiver longe do Senhor Jesus”; “A Vontade de Deus é sempre boa”; “Você deve seguir a vontade de Deus”...[3] Quem descordaria de tais lições? Mas no mesmo livro ele conta que quando adolescente ouviu a voz de Deus quando ia subir no ônibus escolar, que o levaria para a faculdade. Essa voz disse pra ele voltar para sua casa e diante disso ele voltou e não foi mais para a faculdade. Segundo ele, posteriormente ficou sabendo que Deus o impediu de subir naquele ônibus para subir em outro que o levaria para ouvir uma profetiza por nome Kathryn Kuhlman, que mudaria sua vida completamente. Ele afirma que Deus revelou os próximos passos dele ali mesmo em Pittsburgh, onde o ônibus o levou com a igreja Metodista Livre. [4] Qual o problema nessa experiência de Benny Hinn? O problema é declarar que ouviu uma voz em sua mente, e essa voz seria de Deus dando a ele direções claras do que deveria fazer, dentre elas faltar aula e o curso da faculdade. O Espírito Santo instruiria ele a não mais estudar, desenvolver-se intelectualmente? O problema é expor isso como se tivesse a mesma autoridade profética do Antigo Testamento, aliás, ele argumenta com base nessas experiências dos profetas, para defender que Deus nos direciona da mesma forma. Declarações místicas como as de Benny Hinn servem para confundir os crentes e receber dos homens glória e reivindicar autoridade supostamente dada por Deus! Em outro livro “Tocou-me”, Bennin Hinn cita sua experiência em Pittsburgh ao ouvir a profetiza Kathryn Kuhlman, e a oração que fez em seu quarto desejando a mesma experiência da profetiza: “Em meu quarto na Crossbow Crescent Street, naquela noite, orei: Espírito Santo, Kathryn Kuhlman diz que tu és amigo dela. Continuei. Mas, depois daquela reunião, percebo que realmente não te conheço.”[5] Em seguida ele afirma a experiência que teve em seu quarto:
Lá estava Ele -  o Espírito Santo havia entrado no meu quarto. E Ele era tão real quanto a cama junto da qual eu estava ajoelhado. Nas próximas horas, passei chorando e rindo ao mesmo tempo. Era como se meu quarto tivesse subido ao próprio céu. Nada, em meus vinte e um, anos, poderia se comparar a esta visitação. Foi uma alegria inexprimível![6]
           
O Dr. Augustus Nicodemus comenta sobre esse misticismo e busca de ouvir a voz de Deus:
...o que realmente significa “ouvir a voz de Deus”, algo que aparece constantemente no discurso dos defensores da espiritualidade? Quando fico em silêncio, meditando nas Escrituras, aberto para Deus, o que de fato estou esperando? Ouvir a voz de Deus com esses ouvidos que um dia a terra há de comer? Ouvir uma voz interior, como os quakers? Sentir uma presença espiritual poderosa, definida, que afeta inclusive meu corpo, com tremores e arrepios? Ver uma luz interior ou até mesmo ter uma visão do Cristo glorificado e manter diálogos com ele, como Teresa de Ávila, Inácio de Loyola, a freira Hildergarde de Bingen e, mais recentemente, Benny Hinn? Ou talvez essa indefinição do que seja “ouvir a voz de Deus” seja intencional, visto que a indefinição abriga todas as coisas mencionadas acima e outras mais, unindo por essas experiências vagas pessoas das mais diferentes persuasões doutrinárias e teológicas, como católicos e evangélicos, conservadores e liberais?[7]

A espiritualidade do cristão está envolvida pelo sobrenatural e pelo natural. São duas esferas de uma mesma coisa, a vida é envolvida pelo natural, pelo que vemos, e pelo que não vemos, o sobrenatural. Somente a Escritura para nos dar condições de avaliar os dois lados. Os crentes piedosos do passado, que realmente fizeram a diferença em seu tempo, como João Calvino, John Knox, Jonathan Edwards, George Withifield, Charles Spurgeon, tiveram grandes experiências com Deus, mas essas experiências nunca foram proclamadas em púlpito ou em seus livros, sabemos porque seus diários, após suas mortes, foram divulgados para o público. Esses homens se preocupavam em apenas serem fieis expositores da Palavra de Deus. A espiritualidade de homens como Benny Hinn é profundamente gnóstica e não bíblica!
Francis A. Schaeffer esclarece melhor sobre a verdadeira espiritualidade:
     ...O verdadeiro cristão que crê na Bíblia é aquele que vive na prática dentro desse mundo sobrenatural. Não digo que ninguém possa ser salvo e ir para o céu a não ser que viva na prática nesse mundo sobrenatural. Felizmente não é bem assim, ou nenhum de nós iria ao céu, porque nenhum de nós vive dessa maneira o tempo todo, com toda a coerência. O que estou dizendo é que o verdadeiro cristão que crê na Bíblia é aquele que age assim. Eu não sou um cristão bíblico no sentido mais amplo simplesmente por crer na doutrina certa, e sim, à medida que vivo na prática nesse mundo sobrenatural.[8]

            Ser espiritual é ser regido pela Palavra de Deus e não por surtos! O misticismo atual é o retorno do gnosticismo antigo. Pessoas que vivem para a experiência subjetiva, desprezam totalmente avaliações bíblicas de suas crenças e vivencias. Esquece que a regra bíblica é: a experiência é interpretada pela Escritura e não o contrário. Paulo já nos alertava sobre esse tempo de apego a lendas e mitos, desprezando a verdade e correndo atrás de falsos pregadores (2 Tm 4. 1-5)!
            Como desenvolver teologia em meio de pessoas que desprezam as Escrituras? No meio místico não existe teologia, existe misticismo puro e simples! A melhor resposta a ser dada a eles por nós, é vivermos na dimensão do natural e do sobrenatural, regidos pela Palavra, e movidos pelo poder do Espírito Santo, que nos conduzirá a santidade, sabedoria, sensatez, humildade e verdade!

Reverendo Márcio Willian Chaveiro




[1] http://canindeflorania.blogspot.com.br/2014/05/uncao-da-vassoura-igreja-evangelica.html
[2] www.youtube.com/watch?v=pxmdS6XiWno
[3] HINN, Benny Hinn, A Tua Vontade, SENHOR não a Minha, Editora Bom Pastor,  pp. 23-30
[4] HINN, passim, pp.43-45
[5] HINN, Benny Hinn, Tocou-me – Uma História de Milagres e Poder, Editora Bom Pastor, 2009, p.53
[6] HINN, passim. p.54
[7] NICODEMUS, Augustus Nicodemus, O Ateísmo Cristão e outras Ameaças à Igreja, Editora Mundo Cristão, 2011, p. 167
[8] SCHAEFFER, Francis A, Schaeffer, Verdadeira Espiritualidade, Editora Cultura Cristã, 1999,p.84

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