“No princípio Deus criou os céus e a terra.”
Gênesis 1.1
Sem
dúvida Gênesis 1.1 é um dos mais conhecidos e decorados textos bíblicos pelos
crentes. Quando a igreja promove gincana bíblica, um dos textos que primeiramente
é citado para ganhar pontos para a equipe é esse! Contudo, são poucos que
realmente o interpretam corretamente e se preocupam em estudá-lo profundamente.
Ele, como toda a Escritura, nos ensina verdades profundas para a nossa vida
cristã!
Com
o desejo de aprender um pouco mais sobre essa passagem, vou expor algumas das
suas verdades reveladas. Como regra, antes de interpretar o texto é preciso
olhar quem escreveu, porque escreveu, quando escreveu, que fornecerão
informações que contribuirão para o bom entendimento do texto.
Quem
escreveu? O autor desse texto, como de todo o Pentateuco, foi Moisés. Este fato
é confirmado em várias passagens do Antigo Testamento[1],
mas principalmente temos o testemunho do Senhor Jesus, que após sua
ressurreição, aparece para os discípulos a caminho de Emaús e expõe baseado nas
Escrituras as profecias messiânicas, começando por Moisés, uma referência na
forma judaica ao Pentateuco, que inclui naturalmente Gênesis (Lc 24. 27,44).
Porque
Moisés escreveu o livro de Gênesis? Ele escreveu esse livro para aquela geração
que saiu do Egito, para tirar do coração deles a idolatria e paganismo
adquirido nos 400 anos de escravidão. Moisés não tem a intenção de provar a
existência de Deus mas de instruir o povo de Israel sobre a origem de todas as
coisas. Jamais Moisés usaria de uma lenda, mito, como alguns teólogos liberais
querem provar, para tirar lendas do coração do povo de Israel! Seria uma tolice
muito grande do autor e afronta a todo o conteúdo posterior das Escrituras que
comprovam que Deus criou o mundo no princípio (Jo 1. 1-4; Cl 1. 13-16).
Moisés possivelmente escreveu durante
os primeiros anos da peregrinação do povo de Israel, o que lhe dava plena
condições para tanto, tendo em vista todo o seu preparo anterior a esta escrita,
pois ele é considerado o mais erudito da antiguidade. Moisés foi preparado na
casa de Faraó, como nos é dito em Atos 7.22 por Estevão: foi educado em toda a ciência dos egípcios. Ele tinha todas a
condições intelectuais para escrever Gênesis, conhecia as culturas da época, as
religiões, a geografia, e possivelmente teve contato com documentos escritos,
anterior a época de Abraão, uma vez que existem escritos em pedra ou placas de
barro, antes da época de Abraão.[2]
O tempo também foi outro fator que contribuiu bastante, pois um período de
quarenta anos no deserto do Sinai é um tempo suficiente para escrever um livro
como Gênesis e o restante do Pentateuco, ainda mais sob a inspiração divina.
Com essa perspectiva do
texto e do seu contexto, apresento três importantes ensinos contidos nele de
forma bem resumida:
1. DEUS É ETERNO
“No principio Deus...”
Esse verso é um resumo de
toda a criação e os versos seguintes, 2-31 são relatos dos detalhes ou o
processo Criador de Deus. É como se Moisés dissesse: “Deus criou o mundo e os céus, agora em diante vou mostrar em detalhes
como isso aconteceu” (2-31). É um estilo literário hebreu que Moisés
utiliza, podemos ver esse mesmo estilo quando ele resume a criação do homem da
mulher no capítulo 1.27 e detalha a forma da criação deles no capitulo 2. 4-25.
Primeira expressão da
Bíblia é “No Princípio...” mas princípio
do quê? Essa expressão expressa o
propósito do livro que é mostrar as origens: a) Origem dos céus e da terra; b)
Origem da humanidade; c) Origem do casamento e da família; d) Origem do pecado
e morte; e) Origem das nações; f) Origem
genealógica do povo de Israel através do relato dos patriarcas: Abraão, Isaque
e Jacó.
Voltando os nossos olhos
para o texto que estamos estudando, veremos que a expressão “No princípio...” significa: a) Que Deus “era” antes do tempo; b) Deus
estava ativo no começo do tempo. Essa expressão indica a origem do tempo. O tempo não existia antes da criação, porque o
tempo existe por causa da criação, o Criador não está sujeito a tempo e espaço.
Essas limitações se aplicam apenas a matéria, ao criado e não ao Grande Eu Sou!
É origem do espaço também, porque o espaço existe para a matéria, criação e não
para o Criador.
Esse primeiro ponto
ensina que Deus é eterno, é independente da criação, do tempo e do espaço, é incriável.
Na realidade vivemos e existimos nele (At 17.28)!
Vejamos o segundo ponto:
2. DEUS É UM SER GLORIOSO E PESSOAL
“No princípio Deus...”
Os nomes de Deus no
Antigo Testamento e Novo Testamento revelam o seu caráter, são formas de
revelação sobre quem Ele é. Esse nome “DEUS” usado por Moisés nesse texto revela a: Majestade, Poder, Glória
e Imensidão de Deus! Se Moisés tivesse falando de um mito ou lenda ficaria mais
ou menos assim: “No
princípio um ser impessoal, uma energia, uma explosão, um deus egípcio, um deus
babilônico ou assírio, criou os céus e a terra.” Mas ele diz: “No princípio Elohim criou os céus e a terra.”
O texto declara que “DEUS” criou todas as coisas.
Outros textos bíblicos
declaram a mesma verdade (Is 40.26): “Levantai ao alto os olhos e vede. Quem
criou estas cousas? Aquele que faz sair o seu exército de estrelas, todas bem
contadas, as quais ele chama pelo nome; por ser ele grande em força e forte em
poder, nem uma só vem a faltar. ” Ou Salmo 24. 1-2: “Ao SENHOR pertence a terra e
tudo o que nela se contém, o mundo e os que nela se contém, o mundo e os que
nele habitam. Fundou-a ele sobre os mares e sobre as correntes a estabeleceu.” Moisés revela que o SENHOR não tem
nenhuma semelhança ou associação com os deuses egípcios ou de qualquer outra
nação da época. Ele é o único Deus, glorioso e Criador de todas as coisas!
3. DEUS É O CRIADOR
“No princípio Deus criou os céus e a terra.”
O verbo “criou”[3]
traz o sentido de uma criação a partir do não existente. Deus cria a partir
dEle mesmo e não usando uma matéria já existente, criou todas as coisas. Gênesis 1.1 informa o leitor do
que Deus realmente fez. Isto é um evento histórico no começo absoluto do tempo,
espaço e substância do cosmo. Gênesis 1.1 fixa o palco; prepara o leitor para o
que se segue, um relato do que Deus realmente fez.
É o universo organizado.
A expressão “céus” significa a
criação do: firmamento, universo, habitação
dos anjos ou mundo celestial. O mostra que os anjos também foram criados
durante os seis dias! Mas o autor passa da declaração sobre a criação dos céus
para o que interessa para o homem, que é a criação da terra! Ele vai falar da criação
do nosso habitat. Tudo que existe é obra das mãos do SENHOR. Nada existe por si
mesmo. Como disse Paulo (Rm. 11. 36) : Porque
dele, e por meio dele, e para ele são todas as cousas. A ele, pois, a glória
eternamente. Amém.
Como disse Dr. Van
Groningen (Groningen, Criação a Consumação, Vl I, 2002): Tudo
que existe, qualquer que seja a forma em que possamos pensar nele, se em
potencial, embrionária, parcial ou totalmente desenvolvida, é disposto em
formidável e gloriosa cena. Somada a esta cena majestosa está a atividade de
Deus: ele criou.
Considerações Gerais
Servimos um Deus eterno,
que não depende de nada que foi criado, não criou por uma necessidade, mas para
sua glória. Por isso devemos adora-lo, reconhecer que Ele é o possuidor dos
céus e da terra (Gn 14. 19-20)!
Servimos a um Deus que é
tri-pessoal, Pai, Filho e Espírito Santo. Que se auto-relaciona de forma
perfeita, mas que se relaciona com seres tão pequenos, conflituosos,
angustiados, egoístas, orgulhosos, fracos, limitados, imperfeitos, como nós,
porque nos fez a sua imagem e semelhança e através de Cristo tem restaurado
essa imagem afetada pela Queda.
Nossa vida precisa ser
direcionada somente para o Criador. Fomos criados para prestar culto a Ele, a
única felicidade real é nEle, porque vivemos para Ele! Precisamos viver em
nossa alma o que Paulo certamente vivenciou ao declarar em Romanos 11. 33-36:
Ó profundidade da riqueza, tanto
da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos,
e quão inescrutáveis, os seus caminhos! Quem, pois, conheceu a mente do SENHOR?
Ou quem foi o seu conselheiro? Ou quem primeiro deu a ele para que lhe venha a
ser restituído? Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as cousas. A
ele, pois, a glória eternamente. Amém.
Reverendo Márcio Willian Chaveiro
[1] O próprio Pentateuco indica autoria mosaica – em textos com o Ex. 17:14;
Ex.24:4-8; Ex. 34:27; Nm. 33:1-2, Dt. 31:9; Dt. 31:22, notamos as referências
ao fato de Moisés escrever as “palavras do SENHOR” e o fato de tê-las
registradas “num livro”. Os demais livros do Antigo Testamento nos
indicam a autoria mosaica do Pentateuco – Textos do Antigo Testamento tais
como: Josué 11:15,20; 14:02; 21:2; Jz.
3:4; 1Reis 14:6; 21:8; Esdras 6:18; Nee. 13:1, 2Cro. 23:11; Dn. 9:11-13; Mal.
4:4, favorecem a autoria mosaica do
Pentateuco.
[2]
H. H. Halley Manual Bíblico (Ed.: Vida
Nova, Edição: 1994, São Paulo - SP) p 46
[3]
O
verbo criou (ar'B), também se reveste de
uma profunda importância para a interpretação do texto. Neste texto ele é usado
para ensinar que algo que não existia veio a existir, “é um conceito de iniciar
alguma coisa nova”.[3] Este verbo sempre
que aparece no Qal, “refere-se somente a Deus e sua obra”.[3]
É profundamente importante que sempre que este verbo aparece no Qal, indica
fatos reais, não uma poesia, símbolo, metáfora ou outro sentido que não seja
verdadeiro. Ele é usado para dizer sobre algo que fez, faz ou fará, indicando
um fato histórico.[3] Portanto criou indica uma criação absoluta, que
trouxe todas as coisas a partir de Elohim.
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