quarta-feira, 9 de julho de 2014

TRÊS IMPORTANTES ENSINOS EM GÊNESIS 1.1





“No princípio Deus criou os céus e a terra.”
Gênesis 1.1
            Sem dúvida Gênesis 1.1 é um dos mais conhecidos e decorados textos bíblicos pelos crentes. Quando a igreja promove gincana bíblica, um dos textos que primeiramente é citado para ganhar pontos para a equipe é esse! Contudo, são poucos que realmente o interpretam corretamente e se preocupam em estudá-lo profundamente. Ele, como toda a Escritura, nos ensina verdades profundas para a nossa vida cristã!
            Com o desejo de aprender um pouco mais sobre essa passagem, vou expor algumas das suas verdades reveladas. Como regra, antes de interpretar o texto é preciso olhar quem escreveu, porque escreveu, quando escreveu, que fornecerão informações que contribuirão para o bom entendimento do texto.
            Quem escreveu? O autor desse texto, como de todo o Pentateuco, foi Moisés. Este fato é confirmado em várias passagens do Antigo Testamento[1], mas principalmente temos o testemunho do Senhor Jesus, que após sua ressurreição, aparece para os discípulos a caminho de Emaús e expõe baseado nas Escrituras as profecias messiânicas, começando por Moisés, uma referência na forma judaica ao Pentateuco, que inclui naturalmente Gênesis (Lc 24. 27,44).
            Porque Moisés escreveu o livro de Gênesis? Ele escreveu esse livro para aquela geração que saiu do Egito, para tirar do coração deles a idolatria e paganismo adquirido nos 400 anos de escravidão. Moisés não tem a intenção de provar a existência de Deus mas de instruir o povo de Israel sobre a origem de todas as coisas. Jamais Moisés usaria de uma lenda, mito, como alguns teólogos liberais querem provar, para tirar lendas do coração do povo de Israel! Seria uma tolice muito grande do autor e afronta a todo o conteúdo posterior das Escrituras que comprovam que Deus criou o mundo no princípio (Jo 1. 1-4; Cl 1. 13-16).
Moisés possivelmente escreveu durante os primeiros anos da peregrinação do povo de Israel, o que lhe dava plena condições para tanto, tendo em vista todo o seu preparo anterior a esta escrita, pois ele é considerado o mais erudito da antiguidade. Moisés foi preparado na casa de Faraó, como nos é dito em Atos 7.22 por Estevão: foi educado em toda a ciência dos egípcios. Ele tinha todas a condições intelectuais para escrever Gênesis, conhecia as culturas da época, as religiões, a geografia, e possivelmente teve contato com documentos escritos, anterior a época de Abraão, uma vez que existem escritos em pedra ou placas de barro, antes da época de Abraão.[2] O tempo também foi outro fator que contribuiu bastante, pois um período de quarenta anos no deserto do Sinai é um tempo suficiente para escrever um livro como Gênesis e o restante do Pentateuco, ainda mais sob a inspiração divina.
Com essa perspectiva do texto e do seu contexto, apresento três importantes ensinos contidos nele de forma bem resumida:
1.      DEUS É ETERNO
“No principio Deus...”
Esse verso é um resumo de toda a criação e os versos seguintes, 2-31 são relatos dos detalhes ou o processo Criador de Deus. É como se Moisés dissesse: “Deus criou o mundo e os céus, agora em diante vou mostrar em detalhes como isso aconteceu” (2-31). É um estilo literário hebreu que Moisés utiliza, podemos ver esse mesmo estilo quando ele resume a criação do homem da mulher no capítulo 1.27 e detalha a forma da criação deles no capitulo 2. 4-25.
Primeira expressão da Bíblia é “No Princípio...” mas princípio do quê? Essa expressão expressa o propósito do livro que é mostrar as origens: a) Origem dos céus e da terra; b) Origem da humanidade; c) Origem do casamento e da família; d) Origem do pecado e  morte; e) Origem das nações; f) Origem genealógica do povo de Israel através do relato dos patriarcas: Abraão, Isaque e Jacó.
Voltando os nossos olhos para o texto que estamos estudando, veremos que a expressão “No princípio...”  significa: a) Que Deus “era” antes do tempo; b) Deus estava ativo no começo do tempo. Essa expressão indica a origem do tempo.  O tempo não existia antes da criação, porque o tempo existe por causa da criação, o Criador não está sujeito a tempo e espaço. Essas limitações se aplicam apenas a matéria, ao criado e não ao Grande Eu Sou! É origem do espaço também, porque o espaço existe para a matéria, criação e não para o Criador.
Esse primeiro ponto ensina que Deus é eterno, é independente da criação, do tempo e do espaço, é incriável. Na realidade vivemos e existimos nele (At 17.28)!
Vejamos o segundo ponto:
2.      DEUS É UM SER GLORIOSO E PESSOAL
                  “No princípio Deus...”
Os nomes de Deus no Antigo Testamento e Novo Testamento revelam o seu caráter, são formas de revelação sobre quem Ele é. Esse nome “DEUS” usado por Moisés  nesse texto revela a: Majestade, Poder, Glória e Imensidão de Deus! Se Moisés tivesse falando de um mito ou lenda ficaria mais ou menos assim:  “No princípio um ser impessoal, uma energia, uma explosão, um deus egípcio, um deus babilônico ou assírio, criou os céus e a terra.” Mas ele diz: “No princípio Elohim criou os céus e a terra.” O texto declara  que “DEUS” criou todas as coisas.
Outros textos bíblicos declaram a mesma verdade (Is 40.26): “Levantai ao alto os olhos e vede. Quem criou estas cousas? Aquele que faz sair o seu exército de estrelas, todas bem contadas, as quais ele chama pelo nome; por ser ele grande em força e forte em poder, nem uma só vem a faltar. ” Ou Salmo 24. 1-2:  “Ao SENHOR pertence a terra e tudo o que nela se contém, o mundo e os que nela se contém, o mundo e os que nele habitam. Fundou-a ele sobre os mares e sobre as correntes a estabeleceu.”  Moisés revela que o SENHOR não tem nenhuma semelhança ou associação com os deuses egípcios ou de qualquer outra nação da época. Ele é o único Deus, glorioso e Criador de todas as coisas!
3. DEUS É O CRIADOR
“No princípio Deus criou os céus e a terra.”
O verbo “criou”[3] traz o sentido de uma criação a partir do não existente. Deus cria a partir dEle mesmo e não usando uma matéria já existente, criou todas as coisas. Gênesis 1.1 informa o leitor do que Deus realmente fez. Isto é um evento histórico no começo absoluto do tempo, espaço e substância do cosmo. Gênesis 1.1 fixa o palco; prepara o leitor para o que se segue, um relato do que Deus realmente fez.
É o universo organizado. A expressão “céus” significa a criação do: firmamento, universo, habitação dos anjos ou mundo celestial. O mostra que os anjos também foram criados durante os seis dias! Mas o autor passa da declaração sobre a criação dos céus para o que interessa para o homem, que é a criação da terra! Ele vai falar da criação do nosso habitat. Tudo que existe é obra das mãos do SENHOR. Nada existe por si mesmo. Como disse Paulo (Rm. 11. 36) : Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as cousas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém.
Como disse Dr. Van Groningen (Groningen, Criação a Consumação, Vl I, 2002):  Tudo que existe, qualquer que seja a forma em que possamos pensar nele, se em potencial, embrionária, parcial ou totalmente desenvolvida, é disposto em formidável e gloriosa cena. Somada a esta cena majestosa está a atividade de Deus: ele criou.
Considerações Gerais
Servimos um Deus eterno, que não depende de nada que foi criado, não criou por uma necessidade, mas para sua glória. Por isso devemos adora-lo, reconhecer que Ele é o possuidor dos céus e da terra (Gn 14. 19-20)!
Servimos a um Deus que é tri-pessoal, Pai, Filho e Espírito Santo. Que se auto-relaciona de forma perfeita, mas que se relaciona com seres tão pequenos, conflituosos, angustiados, egoístas, orgulhosos, fracos, limitados, imperfeitos, como nós, porque nos fez a sua imagem e semelhança e através de Cristo tem restaurado essa imagem afetada pela Queda.
Nossa vida precisa ser direcionada somente para o Criador. Fomos criados para prestar culto a Ele, a única felicidade real é nEle, porque vivemos para Ele! Precisamos viver em nossa alma o que Paulo certamente vivenciou ao declarar em Romanos 11. 33-36:
 Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos! Quem, pois, conheceu a mente do SENHOR? Ou quem foi o seu conselheiro? Ou quem primeiro deu a ele para que lhe venha a ser restituído? Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as cousas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém.

Reverendo Márcio Willian Chaveiro



[1] O próprio Pentateuco indica autoria mosaica – em textos com o Ex. 17:14; Ex.24:4-8; Ex. 34:27; Nm. 33:1-2, Dt. 31:9; Dt. 31:22, notamos as referências ao fato de Moisés escrever as “palavras do SENHOR” e o fato de tê-las registradas “num livro”.  Os demais livros do Antigo Testamento nos indicam a autoria mosaica do Pentateuco – Textos do Antigo Testamento tais como:  Josué 11:15,20; 14:02; 21:2; Jz. 3:4; 1Reis 14:6; 21:8; Esdras 6:18; Nee. 13:1, 2Cro. 23:11; Dn. 9:11-13; Mal. 4:4,  favorecem a autoria mosaica do Pentateuco.

[2] H. H. Halley  Manual Bíblico  (Ed.: Vida Nova, Edição: 1994, São Paulo - SP)  p 46
[3] O verbo criou (ar'B), também se reveste de uma profunda importância para a interpretação do texto. Neste texto ele é usado para ensinar que algo que não existia veio a existir, “é um conceito de iniciar alguma coisa nova”.[3] Este verbo sempre que aparece no Qal, “refere-se somente a Deus e sua obra”.[3] É profundamente importante que sempre que este verbo aparece no Qal, indica fatos reais, não uma poesia, símbolo, metáfora ou outro sentido que não seja verdadeiro. Ele é usado para dizer sobre algo que fez, faz ou fará, indicando um fato histórico.[3] Portanto criou indica uma criação absoluta, que trouxe todas as coisas a partir de Elohim.

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