segunda-feira, 21 de outubro de 2013

IGREJA CONSERVADORA E A PÓS MODERNIDADE, COMO ESTABELECER UMA CONVERSAÇÃO CULTURAL?


                      
             Vivemos a chamada pós-modernidade. Um período posterior a modernidade, que defendia o homem como centro e a possibilidade e idealismo de encontrar a verdade absoluta, a partir da razão humana. Com as Guerras Mundiais, o nazismo, e eventual queda do muro de Berlim, o mundo descobriu que o iluminismo ou modernidade era um fracasso para a humanidade. A verdade absoluta não pode ser alcançada, segundo os pensadores pós-modernos!

Vou procurar mostrar um retrospecto histórico e cultural dos períodos de pensamento e procurar explicar  um pouco mais o que domina o nosso tempo: a) Idade Média  -  foi pretensamente o tempo de Deus; b) Renascença - Homem no Centro; c) Iluminismo - Razão no Centro; d) Pós-modernidade -  Sem centro. Nossa época é essencialmente sem centro, sem verdade, um mundo relativizado, sem eixo, sem direção. Tudo gira em torno da emoção, do prazer, do sensorial, do relativo, da experiência, não existem absolutos, não existem dogmas, não existe ortodoxia, existe apenas um propósito intenso de satisfazer as vontades humanas.  O Dr. Herminsten Maia P. Costa define bem a essência do pensamento pós- moderno, em seu livro “Tua Palavra é a Verdade”:  “....Desta forma, há a afirmação explicita ou não de que a verdade é que não há verdade.”
            A medida que o contexto cultural muda, tende a nos influenciar na nossa cosmovisão e diretamente em nossa interpretação bíblica. A pós-modernidade tem influenciado o pensamento dos defensores da “Conversação Convergente” porque usam a cultura como chave hermenêutica e não a própria Escritura. Sendo assim, escravizados pela maré cultural e não conseguem ancorar em um Porto Seguro.
1.      Proposta da “Conversação Emergente”
O Dr. Mauro Meister escreveu um artigo na revista Fides Reformata com o tema: “Igreja Emergente, a Igreja do Pós-modernismo? Uma Avaliação Provisória.” Onde o autor faz uma breve avaliação desse movimento que tem crescido no meio reformado como uma solução para os problemas da igreja, uma nova comunicação com a cultura pós-moderna, sobre o pretexto de expansão do reino. O Dr. Mauro diz que os próprios defensores desse movimento têm dificuldades de defini-lo claramente. A maioria dos  seus defensores acham melhor a terminologia “Conversação Emergente” do que “Igreja Emergente”.  Portanto, usarei a primeira terminologia para esse movimento pós-moderno dentro da igreja.
A tentativa desse movimento é estabelecer uma “conversação” da igreja com a pós-modernidade. Até certo ponto é justo e muito bom pensarmos em formas de alcançar a nossa geração. Quando digo até certo ponto, refiro-me ao preço que será pago ou o limite para estabelecer esse contato. A pós-modernidade é caracterizada essencialmente pelo pluralismo, não existe verdade absoluta, não existe padrão, não existe um único caminho para a verdade. Como a igreja poderá discernir e comunicar-se com o homem pós-moderno sem perder a essência do cristianismo?
Os defensores da “Conversação Emergente” entendem que para comunicar com o homem pós-moderno  é preciso deixar a ortodoxia. Se a pós-modernidade advoga que não existe padrão ou absolutos, naturalmente a igreja que abraçar uma comunicação irrestrita com a cultura, terá que abandonar qualquer ideia de ortodoxia. Nesse caso, tratando-se da igreja conservadora teríamos que abandonar nossos símbolos de fé (Confissão de Fé de Westiminster e seus catecismos – como rege a nossa Constituição e Ordem, na sua introdução), o padrão litúrgico que adotamos tão largamente discutido biblicamente em concílio superior, nosso sistema representativo, chamado presbiteriano, seriam todos abandonados,  porque a “conversação emergente” defende que não precisamos de instituições, de sistemas de governo na igreja, e assim por diante. Tudo ou quase tudo que tanto defendemos  seria desconstruído por esse pensamento. O mais importante que diretamente seria afetada, é a nossa convicção que a Escritura é infalível, absoluta, inerrante e única regra de fé e prática. Se para a pós-modernidade não existem padrões absolutos ou verdade alcançável, certamente em questão de pouquíssimo tempo a igreja abandonaria a Bíblia como regra de fé e prática e a usaria apenas por conveniência e não por regra de fé.
1.      Fundamentos Denominacionais Irremovíveis

Nossos pais denominacionais ao redigirem o manifesto às igrejas no Jornal O Presbiteriano Conservador estariam completamente equivocados, a luz do pensamento de muitos dos nossos dias, para tanto destaco alguns pontos desta expressão de fé:
"Esta nova Igreja é, sem dúvida, o fruto de um acendrado apego à doutrina..., reconhecemos a exata posição do dogma na vida religiosa e a imprescindível necessidade da defesa da doutrina como uma das condições essenciais para o estabelecimento daquela vida. Este é o real ensino de Cristo. Assim sendo, queremos que a nossa posição no seio do Evangelismo Nacional se caracterize por uma atitude construtiva e de defesa aos princípios fundamentais do Cristianismo, tais como entendem a Confissão de Fé e os Catecismos de Westminster (tradução brasileira).... Por isso, queremos ser chamados presbiterianos conservadores... Essa denominação tem o objetivo de afirmar a nossa origem histórica; afirmar que nascemos de um movimento de defesa é ortodoxia....

Se, porém, adesões aparecerem de pessoas sinceramente desejosas de caminhar conosco nesta jornada, nós as receberemos jubilosos e incluiremos os nomes dos novos companheiros no rol desta Igreja local, até que o número e a natureza das adesões autorizem a criação do Presbitério Conservador." (O Presbiteriano Conservador, 28/03/1940, p. 2)

Estes homens foram ousados e firmes ao lutarem contra o pensamento liberal corrente em seus dias e formarem uma igreja com o propósito de glorificar a Deus através de um apego inegociavel a sã doutrina. Eles não sabiam que naquele mesmo ano algumas igrejas iriam aderir ao movimento conservador e formar em 27 de junho de 1940 o primeiro Presbitério Conservador, com 11 igrejas e 5 ministros. Passaram 73 anos, o que mudou? Hoje contamos 08 Presbitérios; dois Sínodos (Sudeste e Centro-Oeste) e a Assembléia Geral. Mas minha pergunta é mais direcionada ao aspecto doutrinário, será que ainda somos uma Igreja Conservadora na prática?
            Corremos o risco de aos pouco perdermos a essência da nossa origem denominacional. Temos ouvido falar que  aqui e ali  tem tido práticas não reformadas na pregação e na liturgia da igreja. Pode parecer radicalismo, mas não é. Devido ao pensamento pós-moderno citado no inicio da matéria, temos sido tentados a produzir uma mensagem no púlpito centrada no homem com suas experiências, vontades e prazeres, com a justificativa de estabelecer uma comunicação com a cultura pós-moderna. Para muitos pastores que defendem  a “conversação emergente” a igreja institucionalizada é falida e uma grande barreira para a expansão, como por exemplo formas litúrgicas firmes e reguladas pelas Escrituras, púlpito, concílios,  teologia, confissões de fé, credos e tantos outros que são herdados por nós como fruto de um desenvolvimento teológico na história da igreja e meio identificador e didático, são vistos por eles como uma grande barreira para tornar a igreja relevante para o nosso tempo. O conservadorismo criativo se utiliza da tradição, não como autoridade final ou absoluta, mas como recurso importante colocado à nossa disposição pela providência de Deus, quem somos nós, o que é o mundo ao nosso redor, e o que fomos chamados para fazer aqui e agora.
            Não defendo um conservadorismo cego, obstinado, turrão, que ama ao que é velho por ser velho e convencional. Sou defensor de um conservadorismo que defende o que é absoluto, porque as Escrituras  afirmar que é. Que não negocia a verdade por causa da pressão cultural de seu tempo, mas procura responder as questões da vida moderna com sabedoria e biblicidade. Que sabe que tudo depende unicamente do poder de Deus e não de projetos forjados por corações soberbos! Entendo que o conservadorismo bíblico tem que ser cheio de vida, poder, e ousadia dada pelo Espírito Santo. Penso que as tradições só são boas quando aprovadas pela Escritura. Por outro lado, não creio em mudanças radicais que desprezam tudo relacionado a tradição e a história de uma igreja, porque nada pode ser essencialmente inovadora, pois procede de uma desenvolvimento teológico-histórico que faz parte da essência de qualquer mudança eclesiástica. O que temos de fazer é reconhecer que somos, muitos mais do que reconhecemos, frágeis filhos da tradição, boa ou má, e precisamos aprender a questionar, à luz das Escrituras, aquilo que até aqui aceitamos sem perguntas, como afirmou J. I. Parker ao escrever o Conforto do Conservadorismo. Não podemos responder as perguntas que nunca fizemos com a pós-modernidade, é suicídio teológico, mas com a Bíblia. A cultura deve ser interpretada com a Escritura e não o contrário.
            Nossos pais afirmaram no manifesto: “...Assim sendo, queremos que a nossa posição no seio do Evangelismo Nacional se caracterize por uma atitude construtiva e de defesa aos princípios fundamentais do Cristianismo, tais como entendem a Confissão de Fé e os Catecismos de Westminster (tradução brasileira).”  Essa essência é irremovível!
Temos que entender que não é abraçando a cultura anti-Deus e procurando fazer conciliações intelectuais para com aqueles que acham que a pregação da cruz é loucura (1 Co 1. 18). Não é mudando a vestimenta do pregador, a aparência do templo, removendo o púlpito que iremos comunicar o evangelho para a nossa cultura. O mundo só será impactado com a pregação se ela for no poder do Espírito Santo de Deus! Para ser no poder do Espírito Santo só é possível se for a pregação da sã doutrina. Como o grande teólogo de Genebra João Calvino, afirmou: “Visto que a igreja é o reino de Cristo, e ele não reina senão por sua Palavra, continuamos duvidando de que são mentirosas as palavras daqueles que imaginam o reino de Cristo sem o seu cetro, quer dizer, sem a sua santa Palavra?” O escritor  Bonhoeffer em seu livro “Discipulado”, escreve: “A Igreja de Cristo, a igreja dos discípulos, foi arrebatada ao domínio do mundo. Vive no mundo, é verdade. Mas foi feita um corpo, é um domínio independente, um espaço para si. É a Santa Igreja (Ef 5.27), a Comunhão dos Santos (1 Co 14.33).”
Considerações Finais

Termino fazendo as seguintes aplicações: primeiro, precisamos usar pontos de contato para alcançar essa geração pós-moderna, sem que essa necessidade de comunicar o Evangelho, deixe de ser a pregação pura e simples da sã doutrina, sem abandonar a doutrina, a ortodoxia que nossos pais lutaram tanto para nos deixar como herança. Não podemos trocar a Escritura por mensagem de  autoajuda, bajulação do ego humano, incentivo ao emocionalismo e prazer. Não podemos ser hedonistas (amantes dos prazeres) como aqueles mestres nas igrejas para qual Tiago exorta (4.1); segundo, temos que ser relevantes em nosso tempo sem perder a essência de nossa herança reformada. Não é removendo os marcos antigos que nos tornaremos uma igreja que faz a diferença no mundo pós-moderno. É preciso confiarmos nos planos de Deus, na centralidade das Escrituras, pregar com poder e ousadia contra o pecado na igreja para que cheguemos ao arrependimento segundo Deus, sempre firmados na verdade absoluta em um tempo que as pessoas não creem em verdade absoluta; terceiro, não é destratando a herança teológica que comunicaremos com o nosso tempo, mas mostrando através da exposição fiel das Escrituras no poder do Espírito Santo, vivendo piedosamente, que impactaremos o mundo! Para tanto, não existe formulas mágicas, projetos extraordinários, mas total dependência e relacionamento com o SENHOR! Os projetos devem ser antes de tudo,  bíblicos, para que Deus seja glorificado. A sabedoria precisa vir do alto, do Pai das luzes e não de sabedoria terrena, animal e demoníaca (Tg 3.15).
Não precisamos de uma igreja emergente, como defendem muitos, porém, precisamos de uma igreja segundo Deus, governada unicamente pela Escritura, que é o cetro de Cristo. Uma igreja reformada que sempre se reforma, sempre volta para as Escrituras. Honremos nosso lema denominacional: “Batalhando pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos...”  Lute dentro da igreja para manter a firmeza, crescer com saúde espiritual e teológica e não inchar numericamente. Ansiamos por crescimento, mas um crescimento segundo Deus e não segundo o homem. Pergunto a você: que igreja deixaremos para os nossos filhos, netos e bisnetos...? Pense nisso e não seja conivente com heresias e pregações que aparentam sabedoria, contudo é culto de si mesmo, e de falsa humildade, não tendo valor algum contra o pecado (Cl 2. 23).
Termino minha reflexão sobre esse assunto com as declarações de Deus através do profeta Jeremias para o povo da aliança, que estava a beira do cativeiro da Babilônia por causa da sua desobediência, como suficiente para resumir o que procurei demonstrar (Jeremias 6. 16): “Assim, diz o SENHOR: Ponde-vos à margem no caminho e vede, perguntai pela veredas antigas, qual é o bom caminho; andai por ele e achareis descanso para a vossa alma; mas eles dizem: Não andaremos.” Não sei você leitor, mas eu prefiro continuar firmado nas veredas antigas de meus pais, do que navegar no mar revolto de incertezas da “conversação emergente”! Esse movimento se mostrará como todos os que rondaram a IPCB ao longo dos 73 anos, como transitório e superficial, e a “igrejinha” (na visão de muitos), continuará navegando no barco da velha, mas não caduca, ortodoxia bíblica, até que o Supremo Pastor volte! A Ele toda a glória!
Reverendo Márcio Willian Chaveiro

(Publicado no Jornal “O Presbiteriano Conservador” Janeiro a março de 2013, nº 1,2,3)

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