Vivemos a chamada pós-modernidade. Um período posterior a modernidade, que defendia o homem como centro e a possibilidade e idealismo de encontrar a verdade absoluta, a partir da razão humana. Com as Guerras Mundiais, o nazismo, e eventual queda do muro de Berlim, o mundo descobriu que o iluminismo ou modernidade era um fracasso para a humanidade. A verdade absoluta não pode ser alcançada, segundo os pensadores pós-modernos!
Vou procurar mostrar um retrospecto histórico
e cultural dos períodos de pensamento e procurar explicar um pouco mais o que domina o nosso tempo: a) Idade Média - foi pretensamente
o tempo de Deus; b) Renascença -
Homem no Centro; c) Iluminismo - Razão
no Centro; d) Pós-modernidade - Sem centro. Nossa época é essencialmente sem centro, sem verdade, um mundo relativizado, sem eixo, sem direção. Tudo gira em torno da emoção, do
prazer, do sensorial, do relativo, da experiência, não existem absolutos, não
existem dogmas, não existe ortodoxia, existe apenas um propósito intenso de
satisfazer as vontades humanas. O Dr.
Herminsten Maia P. Costa define bem a essência do pensamento pós- moderno, em
seu livro “Tua Palavra é a Verdade”: “....Desta forma, há a afirmação explicita ou
não de que a verdade é que não há verdade.”
A
medida que o contexto cultural muda, tende a nos influenciar na nossa
cosmovisão e diretamente em nossa interpretação bíblica. A pós-modernidade tem
influenciado o pensamento dos defensores da “Conversação Convergente” porque
usam a cultura como chave hermenêutica e não a própria Escritura. Sendo assim,
escravizados pela maré cultural e não conseguem ancorar em um Porto Seguro.
1. Proposta da “Conversação Emergente”
O Dr. Mauro Meister
escreveu um artigo na revista Fides Reformata com o tema: “Igreja Emergente, a Igreja do Pós-modernismo? Uma Avaliação
Provisória.” Onde o autor faz uma breve avaliação desse movimento que tem
crescido no meio reformado como uma solução para os problemas da igreja, uma
nova comunicação com a cultura pós-moderna, sobre o pretexto de expansão do
reino. O Dr. Mauro diz que os próprios defensores desse movimento têm
dificuldades de defini-lo claramente. A maioria dos seus defensores acham melhor a terminologia “Conversação Emergente” do que “Igreja
Emergente”. Portanto, usarei a primeira
terminologia para esse movimento pós-moderno dentro da igreja.
A tentativa desse
movimento é estabelecer uma “conversação” da igreja com a pós-modernidade. Até
certo ponto é justo e muito bom pensarmos em formas de alcançar a nossa
geração. Quando digo até certo ponto, refiro-me ao preço que será pago ou o
limite para estabelecer esse contato. A pós-modernidade é caracterizada
essencialmente pelo pluralismo, não existe verdade absoluta, não existe padrão,
não existe um único caminho para a verdade. Como a igreja poderá discernir e
comunicar-se com o homem pós-moderno sem perder a essência do cristianismo?
Os defensores da “Conversação Emergente” entendem que
para comunicar com o homem pós-moderno é
preciso deixar a ortodoxia. Se a pós-modernidade advoga que não existe padrão
ou absolutos, naturalmente a igreja que abraçar uma comunicação irrestrita com
a cultura, terá que abandonar qualquer ideia de ortodoxia. Nesse caso,
tratando-se da igreja conservadora teríamos que abandonar nossos símbolos de fé
(Confissão de Fé de Westiminster e seus catecismos – como rege a nossa
Constituição e Ordem, na sua introdução), o padrão litúrgico que adotamos tão
largamente discutido biblicamente em concílio superior, nosso sistema
representativo, chamado presbiteriano, seriam todos abandonados, porque a “conversação emergente” defende que
não precisamos de instituições, de sistemas de governo na igreja, e assim por
diante. Tudo ou quase tudo que tanto defendemos seria desconstruído por esse pensamento. O
mais importante que diretamente seria afetada, é a nossa convicção que a
Escritura é infalível, absoluta, inerrante e única regra de fé e prática. Se
para a pós-modernidade não existem padrões absolutos ou verdade alcançável,
certamente em questão de pouquíssimo tempo a igreja abandonaria a Bíblia como
regra de fé e prática e a usaria apenas por conveniência e não por regra de fé.
1. Fundamentos Denominacionais Irremovíveis
Nossos pais
denominacionais ao redigirem o manifesto às igrejas no Jornal O Presbiteriano
Conservador estariam completamente equivocados, a luz do pensamento de muitos
dos nossos dias, para tanto destaco alguns pontos desta expressão de fé:
"Esta nova Igreja é, sem dúvida, o fruto de
um acendrado apego à doutrina..., reconhecemos a exata posição do dogma na vida
religiosa e a imprescindível necessidade da defesa da doutrina como uma das
condições essenciais para o estabelecimento daquela vida. Este é o real ensino
de Cristo. Assim sendo, queremos que a nossa posição no seio do Evangelismo
Nacional se caracterize por uma atitude construtiva e de defesa aos princípios
fundamentais do Cristianismo, tais como entendem a Confissão de Fé e os
Catecismos de Westminster (tradução brasileira).... Por isso, queremos ser
chamados presbiterianos conservadores... Essa denominação tem o objetivo de
afirmar a nossa origem histórica; afirmar que nascemos de um movimento de
defesa é ortodoxia....
Se, porém, adesões aparecerem de pessoas
sinceramente desejosas de caminhar conosco nesta jornada, nós as receberemos
jubilosos e incluiremos os nomes dos novos companheiros no rol desta Igreja
local, até que o número e a natureza das adesões autorizem a criação do
Presbitério Conservador."
(O Presbiteriano Conservador, 28/03/1940, p. 2)
Estes homens foram ousados e firmes ao
lutarem contra o pensamento liberal corrente em seus dias e formarem uma igreja
com o propósito de glorificar a Deus através de um apego inegociavel a sã
doutrina. Eles não sabiam que naquele mesmo ano algumas igrejas iriam aderir ao
movimento conservador e formar em 27 de junho de 1940 o primeiro Presbitério
Conservador, com 11 igrejas e 5 ministros. Passaram 73 anos, o que mudou? Hoje
contamos 08 Presbitérios; dois Sínodos (Sudeste e Centro-Oeste) e a
Assembléia Geral. Mas minha pergunta é mais direcionada ao aspecto doutrinário,
será que ainda somos uma Igreja Conservadora na prática?
Corremos o risco de aos
pouco perdermos a essência da nossa origem denominacional. Temos ouvido falar
que aqui e ali tem tido práticas não reformadas na pregação
e na liturgia da igreja. Pode parecer radicalismo, mas não é. Devido ao
pensamento pós-moderno citado no inicio da matéria, temos sido tentados a
produzir uma mensagem no púlpito centrada no homem com suas experiências,
vontades e prazeres, com a justificativa de estabelecer uma comunicação com a
cultura pós-moderna. Para
muitos pastores que defendem a
“conversação emergente” a igreja institucionalizada é falida e uma grande
barreira para a expansão, como por exemplo formas litúrgicas firmes e reguladas
pelas Escrituras, púlpito, concílios, teologia,
confissões de fé, credos e tantos outros que são herdados por nós como fruto de
um desenvolvimento teológico na história da igreja e meio identificador e
didático, são vistos por eles como uma grande barreira para tornar a igreja
relevante para o nosso tempo. O conservadorismo criativo se utiliza da tradição, não
como autoridade final ou absoluta, mas como recurso importante colocado à nossa
disposição pela providência de Deus, quem somos nós, o que é o mundo ao nosso
redor, e o que fomos chamados para fazer aqui e agora.
Não
defendo um conservadorismo cego, obstinado, turrão, que ama ao que é velho por
ser velho e convencional. Sou defensor de um conservadorismo que defende o que
é absoluto, porque as Escrituras afirmar
que é. Que não negocia a verdade por causa da pressão cultural de seu tempo,
mas procura responder as questões da vida moderna com sabedoria e biblicidade.
Que sabe que tudo depende unicamente do poder de Deus e não de projetos
forjados por corações soberbos! Entendo que o conservadorismo bíblico tem que
ser cheio de vida, poder, e ousadia dada pelo Espírito Santo. Penso que as
tradições só são boas quando aprovadas pela Escritura. Por outro lado, não
creio em mudanças radicais que desprezam tudo relacionado a tradição e a
história de uma igreja, porque nada pode ser essencialmente inovadora, pois
procede de uma desenvolvimento teológico-histórico que faz parte da essência de
qualquer mudança eclesiástica. O que temos de fazer é reconhecer que somos,
muitos mais do que reconhecemos, frágeis filhos da tradição, boa ou má, e
precisamos aprender a questionar, à luz das Escrituras, aquilo que até aqui
aceitamos sem perguntas, como afirmou J. I. Parker ao escrever o Conforto do
Conservadorismo. Não podemos responder as perguntas que nunca fizemos com a
pós-modernidade, é suicídio teológico, mas com a Bíblia. A cultura deve ser
interpretada com a Escritura e não o contrário.
Nossos pais afirmaram no manifesto: “...Assim sendo, queremos que a nossa posição no
seio do Evangelismo Nacional se caracterize por uma atitude construtiva e de
defesa aos princípios fundamentais do Cristianismo, tais como entendem a
Confissão de Fé e os Catecismos de Westminster (tradução brasileira).” Essa essência é irremovível!
Temos que entender que não é
abraçando a cultura anti-Deus e procurando fazer conciliações intelectuais para
com aqueles que acham que a pregação da cruz é loucura (1 Co 1. 18). Não é
mudando a vestimenta do pregador, a aparência do templo, removendo o púlpito
que iremos comunicar o evangelho para a nossa cultura. O mundo só será
impactado com a pregação se ela for no poder do Espírito Santo de Deus! Para
ser no poder do Espírito Santo só é possível se for a pregação da sã doutrina.
Como o grande teólogo de
Genebra João Calvino, afirmou: “Visto que a igreja é o reino de Cristo, e ele não
reina senão por sua Palavra, continuamos duvidando de que são mentirosas as
palavras daqueles que imaginam o reino de Cristo sem o seu cetro, quer dizer,
sem a sua santa Palavra?” O escritor Bonhoeffer em seu livro “Discipulado”, escreve: “A
Igreja de Cristo, a igreja dos discípulos, foi arrebatada ao domínio do mundo.
Vive no mundo, é verdade. Mas foi feita um corpo, é um domínio independente, um
espaço para si. É a Santa Igreja (Ef 5.27), a Comunhão dos Santos (1 Co
14.33).”
Considerações Finais
Termino
fazendo as seguintes aplicações: primeiro,
precisamos usar pontos de contato para alcançar essa geração pós-moderna, sem
que essa necessidade de comunicar o Evangelho, deixe de ser a pregação pura e
simples da sã doutrina, sem abandonar a doutrina, a ortodoxia que nossos pais
lutaram tanto para nos deixar como herança. Não podemos trocar a Escritura por
mensagem de autoajuda, bajulação do ego
humano, incentivo ao emocionalismo e prazer. Não podemos ser hedonistas
(amantes dos prazeres) como aqueles mestres nas igrejas para qual Tiago exorta
(4.1); segundo, temos que ser
relevantes em nosso tempo sem perder a essência de nossa herança reformada. Não
é removendo os marcos antigos que nos tornaremos uma igreja que faz a diferença
no mundo pós-moderno. É preciso confiarmos nos planos de Deus, na centralidade
das Escrituras, pregar com poder e ousadia contra o pecado na igreja para que
cheguemos ao arrependimento segundo Deus, sempre firmados na verdade absoluta
em um tempo que as pessoas não creem em verdade absoluta; terceiro, não é
destratando a herança teológica que comunicaremos com o nosso tempo, mas
mostrando através da exposição fiel das Escrituras no poder do Espírito Santo,
vivendo piedosamente, que impactaremos o mundo! Para tanto, não existe formulas
mágicas, projetos extraordinários, mas total dependência e relacionamento com o
SENHOR! Os projetos devem ser antes de tudo,
bíblicos, para que Deus seja glorificado. A sabedoria precisa vir do
alto, do Pai das luzes e não de sabedoria terrena, animal e demoníaca (Tg
3.15).
Não precisamos de uma
igreja emergente, como defendem muitos, porém, precisamos de uma igreja segundo
Deus, governada unicamente pela Escritura, que é o cetro de Cristo. Uma igreja
reformada que sempre se reforma, sempre volta para as Escrituras. Honremos
nosso lema denominacional: “Batalhando
pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos...” Lute dentro da igreja para manter a firmeza,
crescer com saúde espiritual e teológica e não inchar numericamente. Ansiamos
por crescimento, mas um crescimento segundo Deus e não segundo o homem. Pergunto
a você: que igreja deixaremos para os nossos filhos, netos e bisnetos...? Pense
nisso e não seja conivente com heresias e pregações que aparentam sabedoria,
contudo é culto de si mesmo, e de falsa humildade, não tendo valor algum contra
o pecado (Cl 2. 23).
Termino minha reflexão sobre esse assunto com as declarações de Deus através do profeta Jeremias para o povo da aliança, que estava a beira do cativeiro da Babilônia por causa da sua desobediência, como suficiente para resumir o que procurei demonstrar (Jeremias 6. 16): “Assim, diz o SENHOR: Ponde-vos à margem no caminho e vede, perguntai pela veredas antigas, qual é o bom caminho; andai por ele e achareis descanso para a vossa alma; mas eles dizem: Não andaremos.” Não sei você leitor, mas eu prefiro continuar firmado nas veredas antigas de meus pais, do que navegar no mar revolto de incertezas da “conversação emergente”! Esse movimento se mostrará como todos os que rondaram a IPCB ao longo dos 73 anos, como transitório e superficial, e a “igrejinha” (na visão de muitos), continuará navegando no barco da velha, mas não caduca, ortodoxia bíblica, até que o Supremo Pastor volte! A Ele toda a glória!
Termino minha reflexão sobre esse assunto com as declarações de Deus através do profeta Jeremias para o povo da aliança, que estava a beira do cativeiro da Babilônia por causa da sua desobediência, como suficiente para resumir o que procurei demonstrar (Jeremias 6. 16): “Assim, diz o SENHOR: Ponde-vos à margem no caminho e vede, perguntai pela veredas antigas, qual é o bom caminho; andai por ele e achareis descanso para a vossa alma; mas eles dizem: Não andaremos.” Não sei você leitor, mas eu prefiro continuar firmado nas veredas antigas de meus pais, do que navegar no mar revolto de incertezas da “conversação emergente”! Esse movimento se mostrará como todos os que rondaram a IPCB ao longo dos 73 anos, como transitório e superficial, e a “igrejinha” (na visão de muitos), continuará navegando no barco da velha, mas não caduca, ortodoxia bíblica, até que o Supremo Pastor volte! A Ele toda a glória!
Reverendo Márcio Willian Chaveiro
(Publicado no
Jornal “O Presbiteriano Conservador” Janeiro a março de 2013, nº 1,2,3)
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