Podemos conhecer a Deus de forma real e verdadeira, porque sua revelação, que é a Escritura é real e verdadeira. Mas nunca poderemos compreende-lo, pela simples razão de sermos criaturas finitas e Ele um Deus infinito! Agostinho citado por Bavinck afirmou: “Estamos falando de Deus. Há alguma surpresa se você não compreender? Pois, se você compreender, não é Deus que você compreende. ”[1]
É possível chegar a conclusão através da lógica que Deus existe, a partir de
uma observação sincera da criação, embora a criação não prove sua existência, apenas apresente evidências. Obviamente essa conclusão logica não é
suficiente para conhecer a Deus real e verdadeiramente. Filósofos como Sócrates, Platão e Aristóteles
chegaram a conclusão que o Logos (Deus) existia, uma força cósmica impessoal criador do Mundo. Na busca das
causas das coisas, filósofos gregos passaram do conhecimento mítico para o
conhecimento filosófico e o cientifico. Na primeira fase tudo era explicado
como sendo místico, causas não naturais, dominado pela crença nos deuses
gregos. No segundo momento, a busca das causas estava no material e não em
deuses. A partir desse momento começa a ter uma busca de uma causa única, como por exemplo, Thales de Mileto que defendia que a água era a matéria única que formava todas
as coisas e outros que entendiam ser o ar, o infinito, a combinação de água, terra,
fogo e ar, ou ainda os átomos.[2] No
período socrático e pós-socrático defendia que o “logos”, considerado como razão,
seria a causa última de todas as coisas. Essa força cósmica seria impessoal,
causadora de tudo que existe, um princípio cósmico de ordem e beleza.[3] Aristóteles
por exemplo acreditava que existia uma causa primária de tudo, um motor
imovido.[4]
No século III
d. C. o filósofo Plotino (205-269) desenvolveu o pensamento que veio a ser
conhecido como o neo-platonismo, de que existe um Ser último causador de tudo
que existe, e que pode ser conhecido apenas através de uma experiência mística
profunda e interior.[5]
O máximo que a razão humana pode concluir é
que Deus existe de forma impessoal, como uma força cósmica causadora de tudo
que existe. Mas podemos questionar esse pensamento filosofístico: como uma força cósmica impessoal pode causar seres pessoais e
inteligentes? Deus não é uma força cósmica, é um Ser Pessoal! O fato de Deus ser espírito envolve
também a sua pessoalidade, porque um espírito é um ser inteligente e moral, e
quando atribuímos pessoalidade a Deus, queremos dizer exatamente que Ele é um
ser racional. A pessoalidade de Deus é claramente indicada, contudo, nos
sinais da ação inteligente e propositada do mundo, na natureza racional, moral
e religiosa do homem, sendo que tudo isto somente pode ser o produto de um Deus
pessoal; e acima de tudo, tendo como base absoluta a revelação especial, registrada de forma inspirada nas descrições de Deus na Escritura.
O mundo e o próprio homem revelam
que Deus é um ser pessoal. Como? Somente um ser racional poderia criar um
universo com leis, ordem! Somente um ser racional, que sendo racional é
pessoal, poderia criar o homem, que é o único ser racional em toda a criação.
Contudo, a mente humana tenta negar essas evidências por causa dos efeitos da
Queda. Os homens ímpios têm suas mentes embrutecidas, obscurecidas no
entendimento, por causada ignorância que vive, pela dureza do coração (Ef 4. 18).
Além da própria criação testemunhar
que Deus existe e é um ser pessoal (Rm 1.20), a Escritura é o registro
inspirado da revelação de Deus ao homem, onde Ele se revela de forma pessoal e
clara. Os filósofos se perguntam como podem conhecer as coisas de forma segura
se elas estão em constante transformação?[6]
Observe que a existência sem a Escritura é como a palha que o vento dispersa
(Sl 1.4), todavia, aqueles que tem suas mentes iluminadas e renovadas pelo Espírito
Santo de Deus (Ef 4.20-24) podem firmar suas existências no porto seguro, que é
a Escritura, algo imutável que interpreta o mundo em constante transformação!
A Escritura não é a única forma
permanente de revelar Deus como um ser pessoal, existe outra forma que é a
revelação pessoal de Deus mais alta e elevada no Novo Testamento, Jesus Cristo!
Ele revela o Pai de maneira tão perfeita que podia dizer a Filipe: "Quem me vê a mim vê o Pai" (Jo.
14:9). Como afirmou Paulo sobre onde devemos fundamentar a nossa vida (Cl 2. 8-9):
“Cuidado que ninguém vos venha a enredar
com sua filosofia e vãs sutilezas, conforme a tradição dos homens, conforme os
rudimentos do mundo e não segundo Cristo; porquanto, nele, habita,
corporalmente, toda a plenitude da Divindade. ” O autor aos Hebreus na
mesma direção disse (Hb 1. 1-3): “Havendo
Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos
profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro
de todas as cousas, pelo qual também fez o universo. Ele, que é o resplendor da
glória e a expressão exata do seu Ser, sustentando todas as cousas pela palavra
do seu poder, depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita
da Majestade, nas alturas.”
É importante salientar mais uma vez
que embora Deus se revela por meio da criação, da Escritura e principalmente por
meio de Cristo, devemos lembrar que somos humanos e ele é Deus, logo nunca poderemos compreende-lo, mas conhece-lo real e verdadeiramente por meio da revelação que faz de si mesmo na Escritura. Não
há nome que expresse plenamente seu ser, nenhuma definição que o abarque. Ele
transcende infinitamente a imagem que fazemos dele, as ideias que temos sobre
ele e a linguagem que usamos para nos referir a ele. Ele não é comparável a
nenhuma criatura.[7] Como o profeta Isaías
escreveu a revelação de Deus sobre si mesmo (40.25): “A quem, pois, me comparareis para que eu lhe seja igual? – diz o Santo.”
Deus em sua essência ou natureza é único, indivisível.
Mas sua natureza é tão extraordinária e maravilhosa, que permite subsistir[8]
nela três pessoas distintas! É um mistério, porque não existe nada criado que
possa ilustrar essa realidade no ser de Deus. Como bem expressou Dr. Heber
Carlos de Campos: “A sua natureza permite
que Deus exista tripessoalmente, sem que isso afete a sua unidade, embora não
possamos explicar esse fenômeno, pelo fato de ele ultrapassar o nosso entendimento.
”[9] Reverendo Márcio Willian Chaveiro
[2] PEREIRA, Reinaldo Sampaio Pereira, Temas de
História da Filosofia 1: Antiga e Medieval, apostila não publicada do curso de
Pós-graduação em Ensino da Filosofia da Universidade Claretiano, , p.16
[4] http://www.netmundi.org/pensamentos/2012/08/aristoteles-e-o-motor-imovel/
[8] O termo “subsistência” tem o sentido teológico
de “pessoa”, conforme Dr. Heber afirma citando o teólogo Bavinck (Ser de Deus
p. 125).
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