sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

O CRISTÃO PODE FICAR ENFERMO OU QUANDO ADOECE É FALTA DE FÉ?




Certamente, ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus e oprimido. Mas ele foi transpassado pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados.
(Is 53. 4-5)
Você já ouviu pregações que afirmam que o crente verdadeiro não pode aceitar a doença em sua vida? Declarações como: “eu declaro em nome de Jesus que essa doença vá embora!” É muito comum no meio evangélico, esses pregadores afirmam que sua declaração de “fé” é poderosa para mudar as circunstâncias adversas da sua realidade. Nosso real problema seria, nessa visão, os problemas de saúde, material e fracassos nas realizações pessoais! Se isso é verdade, nossa fé não se limitaria somente a este mundo (1 Co 15. 19)? Alguns crentes não tomam remédios porque não aceitam a doença em suas vidas, determinam, "brigam com Deus" e acreditam que suas enfermidades foram curadas por sua fé!
Um dos textos mais utilizados para fortalecer esse argumento de que o cristão não pode ficar doente é Isaías 53.4-5, o qual afirma que Jesus levou sobre as nossas dores e enfermidades. Se ele levou na cruz, toda doença e castigo, significa que não podemos ficar doentes? Alguns poderiam dizer que existe uma diferença entre você crer pela fé nessa “promessa” e você não crer verdadeiramente, então, nesse sentido o problema estaria na declaração de fé do crente e não na promessa.[1] Por outro ângulo, a promessa para ser eficaz depende das ações dos homens, caso contrário Deus não poderia cumprir suas promessas!
O teólogo Anthony Hoekema, acertadamente esclarece sobre os sofrimentos que ainda fazem parte da vida do crente:
...O sofrimento ainda acontece na vida de cristãos porque ainda não foram eliminados todos os resultados do pecado. O Novo Testamento ensina que “através de muitas tribulações, nos importa entrar no Reino de Deus” (At 14.22). Paulo conecta nosso sofrimento presente com nossa glória futura (Rm 8.17,18). E Pedro aconselha seus leitores a não se surpreender com o “fogo ardente que surge no meio de vós, destinado a provar-vos, como se alguma coisa extraordinária vos estivesse acontecendo”, mas antes “alegrai-vos na medida em que sois co-participantes dos sofrimentos de Cristo” (1Pe 4. 12-13).[2]
As provações e lutas que enfrentamos aqui são meios que Deus utiliza para nos tornar progressivamente a imagem de Cristo, esse é o alvo principal revelado nas Escrituras (Rm 8.28)! Francis Schaeffer falou sobre os privilégios que temos aqui de desfrutar de experiências sobrenaturais antes de vermos Cristo face a face: ...A eternidade será maravilhosa, mas há uma coisa que o céu não terá: é a chamada, a possibilidade, e o privilégio de se viver uma vida sobrenatural aqui e agora pela fé, antes de ver Jesus face a face.[3] Quando a igreja perde o proposito maior de sua existência que é glorificar a Cristo como seu cabeça (Ef 1. 15-23; 2.11-22; 4. 7-16), ela perde sua identidade completamente! Se identificar com Cristo é também sofrer por Ele e enfrentar os efeitos da Queda com alegria nele (Rm 8.17-18; Fl 4.4-7).
Mais uma vez cito Hoekema para avaliarmos o estado espiritual da igreja pos moderna:
...É possível que a Igreja atual esteja tão envolvida em assuntos materiais e seculares que o interesse pela Segunda Vinda esteja se desvanecendo no segundo plano. É possível que muitos cristãos não mais creiam numa volta literal de Cristo. É também possível que muitos dos creem num retorno literal empurrem este evento para tão longe, no futuro distante, que não vivem mais na espera dessa volta. Sejam quais forem as razões, a perda de uma viva expectativa da Segunda Vinda de Cristo é um sinal de uma enfermidade espiritual das mais sérias na Igreja....[4]
A igreja deve viver na expectativa da volta de Cristo, quando ela não vive assim, demonstra que seu olhar para as Escrituras mudou completamente! Essa interpretação equivocada de passagens de redenção por meio de Cristo, como o de Isaías 53, revelam o quanto os evangélicos atuais, não compreendem o Evangelho real! A problemática dessa realidade pode ser descrita desta forma:
Todos os homens aspiram ser salvos do sofrimento, porém não desejam ser salvos do pecado. Gostariam de ter suas vidas salvas, mas querem continuar com suas luxurias. De fato, muitos divergem nesse ponto. Ficariam contentes se alguns de seus pecados fossem eliminados, mas não conseguem deixar o colo de Dalila nem divorciar-se da amada Herodias. Não podem ser cruéis com o olho direito ou com a mão direita....[5]
Entendo o texto de Isaías 53. 4-5
Essa é uma profecia chamada de messiânica, que fala do Messias, como servo sofredor, que leva sobre si as culpas e iniquidades do povo do Senhor! Muitos ao lerem essa passagem erroneamente interpretam que o crente não pode ficar doente! Devido a essa interpretação herética, muitos verdadeiros cristãos ficam em crise emocional e espiritual, por passarem por sofrimentos na saúde e na vida material. Se sentem inferiorizados na igreja que frequentam e o Evangelho para eles que deveria ser fonte de consolo e força na caminhada cristã, é visto como pedra de tropeço!
Se essa interpretação do texto de Isaías 53.4-5 for correta, cria-se um gravíssimo problema em toda a Escritura, porque em diversos textos é narrado, tanto no Antigo Testamento como no Novo Testamento, que homens e mulheres de Deus tiveram enfermidades (Jó 2.7-8; Is 38. 1-8; Sl 88;  Sl 102. 1-7; 1 Tm 5. 23)! Se você acredita que a Escritura não tem contradições, o texto de Isaías 53 não pode ser interpretado da forma que os teólogos da prosperidade interpretam! Então, qual é a interpretação correta do texto?    
Vou expor princípios interpretativos na interpretação de texto profético, que são fundamentais para entender essa passagem:
1. Primeiro princípio é que a Bíblia interpreta a própria Bíblia. Esse princípio interpretativo vale para toda a Escritura, sendo essencial no processo de compreensão de qualquer passagem. Logo, o ensino da profecia messiânica em Isaías 53 não pode estar em contradição com o restante da Palavra de Deus.
2.  Segundo princípio é que a revelação é progressiva e portanto o texto profético se cumpre progressivamente até seu clímax, a consumação do Reino Messiânico. Esse ponto ressalta a aplicação dessa passagem. Sem dúvida Isaías 53. 4-5, como todo o capítulo, aplica-se a Cristo, porém, seria essa aplicação somente na primeira vinda ou existem aspectos que são aplicáveis na primeira vinda e outros somente na segunda? Será que podemos entender que alguns aspectos podem ser aplicados na primeira vinda parcialmente e ter o seu cumprimento absoluto na segunda vinda? Como afirmou Van Groningen: ...O sentido é: o que ele sofreu, nós merecemos....[6]
Abaixo exemplifico a resposta para essas questões segundo a própria estrutura do texto de Isaías 53:
Aspectos proféticos que se cumpriram cabalmente na Primeira Vinda de Cristo
 A humilhação de Cristo
Versos 1-3: Não havia nele nada que atraísse os homens, foi rejeitado, homem de dores, desprezado pelos judeus que tanto aguardavam o Messias.
Versos 4-5: Sofreu os efeitos da Queda em seu corpo, e nos representou na cruz como Cordeiro substituto, para que fossemos sarados (justificados e santificados progressivamente)
Versos 6-8: Estávamos mortos em delitos e pecados, mas ele foi levado em nosso lugar para o sacrifício como ovelhas muda, para sofrer o juízo em nosso lugar, por causa da nossa transgressão foi ferido.
Verso 10: Após a sua morte na cruz foi sepultado em sepultura de rico. Morto sem culpa, sem pecado, para que o SENHOR, o moesse em nosso lugar, para que a dívida que tínhamos com o SENHOR fosse quitada de uma vez por todas nele.
Aspectos proféticos que se cumprirão na Segunda Vinda de Cristo
Verso 10 ...verá a sua posteridade e prolongará os seus dias; e a vontade do SENHOR prosperará nas suas mãos.  A vontade do SENHOR após moê-lo em nosso lugar na cruz, prosperará. O Servo Sofredor verá o fruto do seu sacrifício e a justificação dos eleitos, e ficará satisfeito.
Verso 12: Por isso, eu lhe darei muitos como a sua parte,... O Pai dará a ele muitos eleitos, devido ao seu sacrifício remidor, e Cristo intercederá por aqueles pelos quais morreu

Aspectos proféticos progressivos em seu cumprimento entre a primeira e a segunda vinda de Cristo

As enfermidades e dores que Jesus tomou sobre si, foram cumpridas parcialmente na sua primeira vinda, quando curava os enfermos, para mostrar que a sua obra substitutiva eliminaria completamente os efeitos da Queda sobre os eleitos.

Textos que comprovam essa interpretação no Novo Testamento:

Cumprimento parcial
Mt 8. 16-17: Chegada à tarde, trouxeram-lhe muitos endemoniados; e ele meramente com a palavra expeliu os espíritos e curou todos os que estavam doentes; para que se cumprisse o que fora dito por intermédio do profeta Isaías: Ele mesmo tomou as nossas enfermidades e carregou com as nossas doenças.

Cumprimento Total
Ap 7. 16-17: Jamais terão fome, nunca mais terão sede, não cairá sobre eles o sol, nem ardor algum, pois o Cordeiro que se encontra no meio do trono os apascentará e os guiará para as fontes da água da vida. E Deus lhes enxugará dos olhos toda lágrima.
Ap 21. 3-4: E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras cousas passaram. E aquele que está assentado no trono disse: Eis que faço novas todas as cousas. E acrescentou: escreve, porque as estas palavras são fiéis e verdadeiras.
O Dr. Van Groningen explica esse simbolismo dentro da passagem de Isaías 53.4-5:
O simbolismo que nos vem à mente é a do bode emissário, que tinha a iniquidade do povo colocada sobre ele, que a levava para o deserto (Lv 16.22). O conceito de substituição é claramente proclamado. Toda a tristeza, dor e sofrimento relacionados com essa enfermidade o Servo experimenta, porque ... (ele pessoalmente levou-as). Tornaram-se suas quando ele as tirou do povo em favor de que ele sofre.[7]
Dentro dessa progressividade da revelação, vemos em outras passagens a expectativa no Antigo Testamento por partes dos crentes, que o descendente da mulher removeria definitivamente as maldições causadas pela Queda. Aparentemente Eva tinha essa expectativa quando nasceu Caim, o que posteriormente mostrou-se o contrário de sua esperança (Gn 4. 1). Lameque ao nascer Noé expressou sua expectativa de que ele fosse o Messias que o livraria das maldições da Queda (Gn 5. 29): pôs-lhe o nome de Noé, dizendo: Este nos consolará dos nossos trabalhos e das fadigas de nossas mãos, nesta terra que o SENHOR amaldiçoou. O SENHOR assumiu as maldições da quebra do pacto em lugar de Abraão ao passar pelo meio dos animais partidos, simbolizando as consequências sobre aquele que quebrasse a aliança (Gn 15. 12-21).  Posteriormente é interpretado por Paulo e aplicado a Cristo como sendo este que assumiu as maldições da Queda sobre si (Gl 3. 6-17).
Portanto, quando Isaías profetizou que Cristo levaria sobre si as nossas dores e enfermidades, essa profecia se cumpriria progressivamente, iniciando na primeira vinda, quando Cristo operava milagres para mostrar que ele é o Redentor prometido que redimirá o seu povo e a criação, e tendo o seu cumprimento absoluto na segunda vinda quando nossos corpos serão transformados a semelhança do corpo dele (1 Co 15. 50-58). Da mesma forma que ele ressuscitou Lázaro para mostrar que Ele é a ressurreição e a vida, e quem crer nele, será ressuscitado no último dia (Jo 11. 21-26), os que foram curados na sua primeira vinda serviram para mostrar parcialmente o que será realizado completamente e de forma definitiva na segunda vinda! Isso não significa que Cristo não cure hoje, mas que nem sempre ele cura ou livra o justo do sofrimento decorrentes da Queda ou da obediência ao Evangelho, porque? A razão é simples,  os efeitos da Queda sobre todos os homens, como doenças, limitações de todas as formas, degradação da criação e suas consequências, acidentes, e outros só serão removidos na glorificação (Rm 8.18)!
Outro fator fundamental é que existe um plano muito maior por trás das circunstâncias difíceis, com significado eterno, que é nos tornar a imagem dele progressivamente mesmo em meio a aflições e sofrimentos temporários, por isso todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, que são chamados segundo o seu propósito (Rm 8. 17-18, 28-30)! A Redenção é um plano muito maior que simplesmente nos livrar de dores transitórias!
A primeira vinda de Cristo inaugurou o Reino, a Segunda Vinda consumará o Reino! Logo, estamos no “já e ainda não”, vivemos as realidades presentes do Reino dos céus na medida que conhecemos a Cristo, nos despimos do velho homem e revestindo do novo (Ef 4. 17-32). Nosso alvo é Cristo, por isso devemos correr a carreira que nos esta proposta, olhando firmemente para o autor e consumador da nossa fé (Hb 12.1-3), prosseguindo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação em Cristo Jesus, esquecendo as coisas que para trás ficam e avançando para as que estão diante de nós (Fl 3.12-16), porque não somos daqueles que retrocedem para a perdição, mas daqueles que prosseguem para a salvação, vivendo pela fé (Hb 10.32-39)!
Temos a convicção inabalável que Cristo nos redimirá do pecado e dos seus efeitos de uma vez por todas! Teremos plena comunhão com o Senhor e cantaremos com os anjos diante daquele que está no trono e do Cordeiro (Ap 7.10): ...Ao nosso Deus, que se assenta no trono, e ao Cordeiro, pertence a salvação.
Reverendo Márcio Willian Chaveiro






[1] https://www.youtube.com/watch?v=qoaZ0iIQnhk
[2] HOEKEMA, Anthony Hoekema, A Bíblia e o Futuro, Cultura Cristã, 1989, p.88
[3] SCHAEFFER, Francis A. Schaeffer, Verdadeira Espiritualidade,  Cultura Cristã, 1999, p. 94
[4] HOEKEMA, 1989, p. 133
[5] ALLEINE, J. Alleine, Um Guia Seguro para o Céu, PES, 2002, p.56
[6] GRONIGEN, Gerard Van Groningen, Revelação Messiânica, LPC, 1995, p. 573
[7] GRONINGEN, 1995, p. 573

A IGREJA MOLDADA PELO MUNDO!

Uma senhora cristã, citada por John Macarthur, fez a seguinte pergunta sobre a igreja moderna: Quando a igreja vai parar de entreter bodes e voltar a alimentar as ovelhas?[1] Essa pergunta é salutar para nós, pois representa a angustia e indignação dos verdadeiros crente com relação a atual situação da igreja evangélica que há muito abandonou o Evangelho da cruz!
Falando sobre os siais de uma igreja verdadeira, John Stott comenta que a igreja não foi chamada para se excluir do mundo e nem para se assemelhar a ele: ...Não temos liberdade de nos retirar do mundo nem para nos confundir com ele. Nas palavras de Jesus, devemos estar no mundo, porém não ser parte do mundo. Precisamos lembrar continuamente que a igreja pertence a dois âmbitos: o céu e a terra.[2] Esse sempre foi o grande desafio da igreja de Cristo, discernir o seu próprio tempo sem ser influenciado pecaminosamente por ele.
Em nosso tempo a teologia e pratica da igreja tem sofrido todo tipo de influência pós moderna. Por outro lado temos uma prática calvinista, praticada por muitos, totalmente fossilizada e isolada da realidade do nosso tempo. A dificuldade toda gira em torno de construir uma teologia firmada na Bíblia e transmiti-la na linguagem pós moderna, sem perder a identidade teológica e histórica! Não é tarefa fácil. Os liberais tentaram fazer isso, ao responder as críticas do iluminismo e falharam, se envolveram demais com a cultura ao ponto de abraçarem a visão anti-sobrenaturalista.
            Atualmente é mais interessante não se posicionar, ser politicamente correto! Tozer fez uma boa análise da situação da igreja e a influência pós moderna que ela vive:
     A filosofia pragmática...não faz perguntas embaraçosas a respeito da sabedoria daquilo que estamos realizando ou a respeito de sua moralidade. Aceita como corretos e bons nossos alvos escolhidos, buscando meios e maneiras eficientes para alcançá-los. E, quando descobre algo que tem bom êxito, logo encontra um texto bíblico para justifica-lo, “consagra-o ao Senhor e vai em frente. Em seguida alguém escreve um artigo em uma revista, depois sai um livro e, finalmente, o inventor recebe um título de honra. Após tudo isso, qualquer indagação quanto à sua biblicidade ou até mesmo quanto ao seu valor moral é completamente rejeitada. Não há como se argumentar contra o sucesso. O método produz resultados, portanto, deve ser bom.[3]

Após fazer essa citação em seu livro “Com Vergonha do Evangelho”, John Marcarthur faz o seguinte comentário:
Você percebe como esta nova filosofia necessariamente corrompe a sã doutrina? Descarta o próprio método de Jesus – pregar e ensinar – como os instrumentos primordiais do ministério, substituindo-os por metodologias completamente vazias de conteúdo. Ela existe independente de qualquer credo ou canon. Aliás, evita dogmas ou convicções fortes, considerando-os como divisivos, indecorosos ou impróprios. Rejeita a doutrina como algo acadêmico, abstrato, estéril, ameaçador ou simplesmente não pratico. Em vez de ensinar o erro ou negar a verdade, ela faz algo bem mais sutil e igualmente eficaz do ponto de vista do inimigo. Não se preocupa com o conteúdo. Não ataca a ortodoxia frontalmente, mas presta culto à verdade apenas da boca para fora, enquanto mina, em silêncio, os alicerces da doutrina. Em vez de exaltar a Deus, esta filosofia deprecia as coisas que são preciosas para Ele. Nesse sentido, o pragmatismo se apresenta como um perigo mais sutil do que o liberalismo que ameaçou a igreja na primeira metade deste século.[4]

Contudo, não é isso que a Bíblia ensina, o ensino é de firmeza, de convicção na verdade (2 Tm 4. 1-5). O Senhor Jesus disse isso a igreja que era politicamente correta, que não era nem fria e nem quente, a igreja de Laodicéia (Ap 3. 15-17): Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente. Quem dera fosses frio ou quente! Assim, porque és morno e nem és frio, estou a ponto de vomitar-te da minha boca; pois dizes: Estou rico e abastado e não preciso de cousa alguma, e nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu.” O correto é comprar ouro refinado pelo fogo e colírio de Jesus (Ap 3. 18)! A igreja moderna precisa se arrepender de seus pecados e voltar para Cristo! Todavia, para se arrepender dos seus pecados é preciso conhecer o seu próprio estado deplorável a luz da verdade da Escritura!
 O que torna uma igreja boa aos olhos do Senhor? Sem dúvida é a pregação fiel da Palavra e não programas, estruturas, moveis, estacionamentos gigantescos, equipe de música, coral, pastores, títulos teológicos ou coisa parecida![5] A crise atual da igreja é devido principalmente à crise no púlpito e na vocação pastoral! Somente no primeiro século da Igreja, ela foi tão envolvida por paganismo e misticismo filosófico como hoje! A grande massa de fraudulentos pastores que não conhecem o caráter santo de Deus é a razão principal de vivermos essa triste realidade! O arrependimento precisa começar no púlpito para depois alcançar os bancos! Por uma lógica simples, se é do púlpito que se espalha a heresia e o mundanismo, tem que ser a partir dele que o avivamento verdadeiro, movido pelo Espírito Santo por meio da sua Palavra, deve começar!
O que devemos fazer diante desse quadro caótico da igreja evangélica? Temos que agir como Paulo exortou a Timóteo a fazer, pregar a Palavra queiram ouvir ou não (2 Tm 4. 1-5)! Não podemos moldar o ministério pastoral, a pregação, a igreja nos moldes do mundo para ter dele aceitação. Quem assim age recebe o seu pagamento completo feito pelos ímpios, mas o cidadão do Reino recebe o seu galardão em secreto do Pai, porque vive para o glorificar e não para ser glorificado (Mt 6.1). Todos aqueles que desejam viver piedosamente sofrerão perseguições (2 Tm 3.12). Mas o que é vida piedosa? João Calvino definiu muito bem o que é piedade: Pela fé, os piedosos vivem pelo que encontram em Cristo, e não pelo que encontram em si mesmos.[6]
Que o Senhor nos fortaleça para vivermos piedosamente em Cristo em meio a tanta perversidade e paganismo da igreja moderna!

Reverendo Márcio Willian Chaveiro



[1] JR., John Marcathur Jr.,  Com Vergonha do Evangelho, FIEL, 2004,  p. 79
[2] STOTT, John Stott, Sinais de uma Igreja Viva, ABU, 2006, p.19
[3] JR., John Marcathur Jr.,  2004,  p. 89
[4] Ibid,  pp. 89-90
[5] DEVER, Mark Dever, Nove Marcas de uma Igreja Saudável, FIEL, 2007,  p.58
[6] BEEKE, Joel Beeke, Espiritualidade Reformada, FIEL, 2006

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

A APOSTASIA DA IGREJA EVANGÉLICA!


A igreja evangélica do século XXI vive uma realidade distante do Evangelho, na sua maior parte! Ela não tem mais identidade certa, pode ser qualquer coisa, é uma “metamorfose ambulante”, utilizando do título de uma das músicas do Raul Seixas! Mas para ficar uma aplicação ainda mais adequada, teria que ser uma “metamorfose teológica”! O verdadeiro contraste entre as igrejas não é mais tradicional versus o contemporâneo, mas o bíblico contra o não bíblico.[1]
 Nunca cresceu tanto quanto nos últimos anos! É um crescimento positivo com impacto negativo na sociedade! O eterno é trocado pelos interesses temporais, imediatistas próprios da cultura pós moderna. Na realidade a igreja está adulterando com uma cultura pós crista! O misticismo, o paganismo fazem parte do cotidiano da igreja evangélica. Não existem mais demarcações claras entre o que é pregado na maior parte dos púlpitos daquilo que é defendido culturalmente!
O contexto atual da igreja é claramente revelado pelas últimas palavras do apóstolo Paulo antes do seu martírio, para o seu amado discípulo Timóteo:
Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade entregando-se às fabulas.”
(2 Timóteo 4. 3-4)
            Paulo fala de um tempo em que muitos na igreja não suportarão a sã doutrina. Que abandonarão a verdade para abraçar mitos e lendas. Mas o que é a sã doutrina? É o ensino correto, saudável, puro, que procede unicamente das Escrituras. É uma doutrina que nos transmite vida e bem estar espirituais, que nos torna mais sábios no viver e santos progressivamente. É um verdadeiro ensino em contraste com o falso ensino dos hereges que pervertiam o Evangelho. Os caçadores de lendas, segundo Paulo não suportariam a sã doutrina. Esse não suportar é: a) não tolerar; b) não dar ouvidos; c) rejeitar por completo. Não é assim que temos vivido? A igreja moderna não gosta de Bíblia, de meditação na Palavra, de ter sua realidade moldada e confrontada com as Escrituras! Os crentes atuais, na sua esmagadora maioria, ama lendas e surtos espirituais e desprezam o alimento sólido do Evangelho!

...pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos...
Eles vão amontoar (cercar-se-ão) de falsos mestres que lhe ensinem o que é agradável aos ouvidos. Paulo afirma que será uma grande procura por pregadores que saciem os seus desejos pecaminosos, produzindo uma quantidade enorme de hereges. São pessoas que querem saciar suas cobiças. Querem pregadores que alimentem o seu ego. São religiosos com coceiras nos ouvidos, que enquanto não ouvem pregadores que saciem seus ouvidos, não se acalmam! Vivem em busca de promessas, de campanhas que prometem vitórias fáceis a qualquer custo!
Sabe por que existem falsos pregadores? Porque tem uma grande procura por esses falsificadores da Palavra! São pessoas que ficam de igreja e igreja, de canal e canal, de programa de rádio a outro, procurando pregadores que saciam suas coceiras, que alimentem seu ego. Sabe por que tem Valdemiro Santiago, R. R. Soares, Edir Macedo, Estevam Hernandes e outros? Porque tem muita gente que gosta, que deseja, que vive em busca de uma lenda, de uma fantasia de fé, e recusam a ouvir a pura e cristalina Palavra de Deus! Esses adoradores de Baal tem os profetas falsos que merecem!
            e se recusarão a dar ouvidos à verdade entregando-se às fábulas. (verso 4)
 Esse recusar é dar meia volta para não ouvir a verdade. Essa geração que Paulo alerta Timóteo não vão querer assimilar a verdade,   (dar ouvidos). É um abandono do Evangelho, uma recusa em ouvir a Escritura. Eles vão desejar o contrário da verdade do Evangelho, vão em busca de fabulas (entregando-se a fábulas).  O que é isso? É vagar sem destino, uma viagem espiritual pela terra da fantasia, da lenda, do surto, do mito (sentido literal), estória extravagante!
                Há algum tempo fui convidado a pregar em um culto fúnebre em uma determinada igreja, e antes da minha exposição, foi dada a palavra para uma pastora, que entre outras coisas heréticas, disse quantos mil metros o inferno está abaixo de nós! E quantos mil metros o céu está acima! Ela sabia exatamente pelo “GPS da fé” a localização do inferno e do céu dos remidos! Um pregador afirmou para os seus fiéis que colocaria o diabo dentro da garrafa pet![2] Outro afirma que foi ordenado ao apostolado por uma profecia dada por meio de um galo![3] Outro pregador ungiu os celulares para que os fiéis recebem só notícias boas pelo “zap, zap, zap”[4]! Tem alguma coisa que ainda poderá nos surpreender?          
            As pessoas preferem acreditar que um lenço suado pode curar, pagar dívida se passar na maçaneta do banco, caneta ungida para fazer concurso e ser aprovado, fazer um descarrego na sexta-feira... do que crer na simplicidade e clareza do Evangelho de Cristo! John Marcarthur fez uma profunda e verdadeira análise da situação da igreja:
Por que os evangélicos tentam tão desesperadamente cortejar o favor do mundo? As igrejas planejam seus cultos de adoração para servir aos "sem igrejas". Os produtores cristãos imitam a coqueluche mundana do momento em termos de música e entretenimento. Os pregadores se sentem aterrorizados de que a ofensa do evangelho possa fazer alguém se voltar contra eles; então, deliberadamente, omitem partes da mensagem que podem não agradar o mundo.[5]
A causa de todos esses males na igreja é daqueles que deturpam a Palavra, os falsos pastores! Enquanto esses forem apreciados, a igreja continuará a caminhar para a apostasia! Calvino afirmou sabiamente: A sã doutrina certamente jamais prevalecerá, até que as Igrejas sejam melhor providas de pastores qualificados que possam desempenhar com seriedade o oficio de pastor.
O nosso grande desafio é continuar fiéis na pregação simples e pura da sã doutrina para essa geração de caçadores de lendas e mitos! Crendo na inspiração plena da Palavra de Deus, na ação sobrenatural do Espírito Santo em usar homens piedosos, dentro das suas características, realidades, anseios, sem, contudo, permitir que o pecado influenciasse na escrita, para que pudéssemos ter um registro inspirado da revelação especial de Deus na história, revelando o plano da redenção do seu povo!
            Corretamente afirmou João Calvino: Visto que a igreja é o reino de Cristo, e ele não reina senão por sua Palavra, continuamos duvidando de que são mentirosas as palavras daqueles que imaginam o reino de Cristo sem o seu cetro, quer dizer, sem a sua santa Palavra?[6] Na mesma direção John Stott disse:
Nossa adoração é fraca porque nossos conhecimentos de Deus são fracos, e nossos conhecimentos de Deus são fracos porque a nossa pregação é fraca. Quando, porém, a Palavra de Deus é exposta na sua plenitude e a congregação começa a ter um vislumbre da glória do Deus vivo, todos se curvam em reverente temor solene e admiração jubilosa diante do seu trono. É a pregação que realiza isso – a proclamação da Palavra de Deus no poder do Espírito de Deus. É por isso que a pregação é incomparável e insubstituível.
            A igreja evangélica precisa se arrepender do seu adultério, da sua podridão espiritual, e voltar-se para o Evangelho de Cristo! Todavia, somente o Senhor pode operar essa reforma na igreja! Clamemos a Ele que tenha misericórdia daqueles que não se dobraram a Baal! A nós, crentes fiéis, cabe continuarmos resolutos em nossa caminhada em Cristo, desembaraçando de todo peso e pecado (Hb 12. 1-3)! Que Ele nos ajude a correr a carreira que nos esta proposta!

Reverendo Márcio Willian Chaveiro



[1] MAYBUE,  Richar L. Maybue, Redescobrindo o Ministério Pastoral, CPAD, 1995, p.22
[2] http://youtu.be/RvndKxpruko
[3] http://youtu.be/JhPLbqDA0KE
[4] http://youtu.be/73dNAf4xblI
[5] JUNIOR, John Macarthur Jr. , Princípios para uma Cosmovisão Bíblica, 2ª edição, Editora Cultura Cristã 2010, p.13
[6] CALVINO, João Calvino, As Institutas, volume IV, p. 15