sexta-feira, 31 de outubro de 2014

SOLA SCRIPTURA




Os Reformadores afirmaram que Somente a Escritura é a única regra de fé e prática para a vida do crente. Somente por meio dela, que podemos conhecer verdadeiramente a Deus e conhecer a verdade. Essa continua sendo a declaração da Igreja de Cristo!
Você tem duas opções com relação a conhecer a Deus: a primeira é desenvolver um suposto conhecimento dele a partir da sua imaginação; a segunda é desenvolver esse conhecimento a partir da revelação que Ele faz de si mesmo, que a Escritura. O Dr. Bruce Bickel disse:
O Cristianismo fundamenta-se na revelação. Se Deus, em sua soberana majestade, tivesse decidido não se revelar aos seres humanos, não teríamos conhecimento sobre ele nem a possibilidade de um real relacionamento com ele. Nosso conhecimento de Deus abrange aquilo que lhe aprouve rever-nos a respeito de sua Pessoa. Todos os esforços humanos destinados a conhece-lo levam a falsas religiões ou misticismos. Consequentemente, a questão básica que determina nosso relacionamento com Deus é a submissão, seja à sua revelação ou à nossa imaginação.[1]
O SENHOR existe e se revelou, esse é o pressuposto da nossa fé. Por isso cremos que toda a Escritura é inspirada por Deus, como afirma o apostolo Paulo a Timóteo (2 Tm 3.16). A expressão “inspirada” (θεόπνευστος) não é a melhor tradução, o sentido mais adequado é que a Escritura é a respiração de Deus, ou exalada por Deus.[2] Não encontramos em toda o Novo Testamento o termo “inspiração”, apenas uma única vez no Antigo Testamento, em Jó 35.10: “Mas ninguém diz: Onde está Deus que me fez, que inspira canções de louvor durante a noite.” O termo hebraico para inspiração aqui é   נֹתֵ֖ן que pode ser traduzido literalmente como “dá”.  A expressão usada por Paulo em 2 Timóteo 3.16 traz o sentido de soprado para fora e não soprado para dentro, como uma inspiração, mas uma respiração de Deus, um sopro, é isso que é a Escritura!
Como bem afirmou Benjamin B. Warfield sobre a força da expressão grega usada por Paulo em 2 Timóteo 3.16:
Numa palavra, o que se declara nesta passagem fundamental é, simplesmente, que as Escrituras são um produto divino, sem qualquer indicação da maneira como Deus operou para produzi-las. Não se poderia escolher nenhuma outra expressão que afirmasse, com maior saliência, a produção divina das Escrituras, como esta o faz (...)  Paulo (...) afirma com toda a energia possível que as escrituras são o produto de uma operação especificamente divina.[3]

Embora a tradução mais adequada de 2 Timóteo 3.16 não seja “inspiração”, usarei está por ser comumente utilizada na teologia. Portanto, o que venho tentando dizer é que a Escritura é o poder de Deus manifestado aos homens. O Salmo 33.6 fala: Pela palavra do Senhor foram feitos os céus, e todo o exército deles pelo espirito da sua boca. Quando Paulo fala que a Escritura é sopro de Deus ou respiração de Deus, que homens foram separados e preparados para esse função sublime.
O apóstolo Pedro escreve (2 Pe 1.20-21): sabendo, primeiramente, isto: que nenhuma profecia da Escritura provém de particular elucidação; porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens santos falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo. O apostolo Pedro afirma que os escritores das Escrituras forma separados (santos) e movidos pelo Espírito Santo. A expressão “movidos” é φερόμενοι, era usado para descrever navios levados pelo vento.  A metáfora aqui, é que os profetas levantavam suas velas e o Espírito Santo as inflava e dirigia suas embarcações na direção que quisesse.[4] O Dr. Warfield faz um pertinente comentário sobre essa passagem:
O que é “levado”, é tomado pelo “portador”, e transportado pelo poder do portador, e não pelo seu, para o destino do portador e não o seu próprio. Declara-se, aqui, que os homens que falaram da parte de Deus foram tomados pelo Espírito Santo e levados, pelo seu poder, ao alvo por Ele escolhido. As palavras que eles disseram, sob esta operação do Espírito Santo, eram Suas e não deles. E essa é a razão por que se afirma que a “palavra profética” é tão firme. Embora seja falada pela instrumentalidade de homens, é, em virtude do fato de terem esses homens falado “levados pelo Espírito Santo”, uma palavra diretamente de Deus.[5]
Cremos portanto, que toda a Escritura é Palavra de Deus, escrito por homens separados e movidos pelo Espírito Santo a transmitir a “respiração de Deus” para nós! Ela é a nossa única regra de fé e prática, nosso porto seguro para conhecermos a Deus e nos relacionarmos corretamente. O Senhor não é fruto da nossa imaginação fértil, mas de um meditar e perscrutar sua Palavra! Continuemos firmados nessa verdade inabalável, porque até que os céus e a terra passem, nem um i ou um til da Palavra passará (Mt 5.18)!
A Ele toda a glória!
Reverendo Márcio Willian Chaveiro
               



[1] BICKEL, Bruce Bickel e outros,  Sola Scriptura, Cultura Cristã, 2000, p. 9
[2] WARFIELD, passim. pp.83.84
[3]WARFIELD,  B.B. Warfield, The Inspiration of the Bible; In: WBBW, I, p.79
[4] RIENECKER & ROGERS, Fritz Rienecker & Cleon Rogers, Chave Linguística do Novo Testamento, Editora Vida Nova, 2000, p.574
[5] WARFIELD. B.B. Warfield, A Inspiração das Escrituras, Editora Vida Nova, p. 89

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