terça-feira, 22 de outubro de 2013

IGREJA ABENÇOADA É ABENÇOANTE!

Existe na igreja evangélica um apego muito grande a projetos miraculosos que prometem resolver as suas maiores dificuldades, principalmente projetos que visem o crescimento numérico. É uma grande influência do pragmatismo[1] que a pós-modernidade prega. Muitos líderes têm idolatrado os números de membros que suas igrejas podem alcançar. A pergunta mais frequente entre pastores é: Quantos membros tem sua igreja? Isso revela a ênfase dada ao crescimento e não a obediência ao SENHOR.
            Temos que entender que evangelizar ou fazer missões não é o alvo mais importante da igreja, mas um dos meios de glorificar o SENHOR.  A glória de Deus é mais importante que qualquer coisa nesse mundo!
            O alvo principal do crente, da igreja, é sem dúvida glorificar a Deus. A adoração é o alvo eterno da igreja. Na eternidade não teremos mais missões, evangelismo, contudo, teremos a adoração como continuidade da que fazemos aqui com imperfeições devido ao nosso pecado. Na eternidade adoraremos o Senhor perfeitamente, para sempre!
ESTRUTURA DO SALMO 67
Neste Salmo temos o ensino de adoração e evangelismo. A igreja que adora corretamente é um agente de Deus para abençoar o mundo com a pregação do evangelho.
Existe uma ideia nos Salmos anteriores de universalismo para a adoração ao Senhor. O Salmo 65.5 afirma: ...esperança de todos os confins da terra e dos mares longínquos. O Salmo 66. 1 diz: Aclamai toda a terra. E no verso 4 do mesmo Salmo é dito: Prostra-se toda a terra perante ti, canta salmos a ti; salmodiai o teu nome. O que nos mostra que essa coleção de Salmos enfatiza o anunciar para todas as nações e estas prestando adoração ao Senhor!
O que o Salmo 67 ensina resumidamente? O Salmo 67  ensina que Israel deveria ser um agente do reino de Deus aqui na terra.  O Senhor sempre ordenou a nação para proclamar suas virtudes as outras nações (Salmo 96), contudo a nação falhou nesse propósito, tornando-se exclusivista. O teólogo João Calvino disse o seguinte sobre o Salmo 67:
O Salmo contém uma predição do reino de Cristo, sob o qual o mundo inteiro seria adotado para uma privilegiada relação com Deus. O salmista, porém, começa orando pela bênção divina, particularmente em prol dos judeus. Eles eram o primogênito (Êxodo 4.22), e a bênção se destinava primordialmente a eles, e então a todas as nações circunvizinhas.[2]
É exatamente essa a promessa e ordem de Deus para Abraão antes de Israel, como nação existir (Gn. 12. 2-3): Sê tu uma bênção!...em ti serão benditas todas as famílias da terra. De forma mais ampla, essa promessa feita a Abraão, cantada pelos salmistas é uma referência clara a Igreja. A Igreja ou povo de Deus precisa orar para que Deus seja gracioso com ela e a use para abençoar todos os povos. Deus sempre ordenou o seu povo a proclamar as virtudes dele para todas as nações, como diz o salmista (Salmo 96.3): Anunciai entre as nações a sua glória, entre todos os povos, as suas maravilhas.
1.      PRIMEIRO ASPECTO DO SALMO 67: Oração por Bênção Sobre o Povo de Deus
 Seja Deus gracioso para conosco e nos abençoe...(verso 1)
Este versículo do Salmo 67 é uma citação da bênção araônica[3], que era pronunciada pelo sumo-sacerdote sobre o povo de Deus. Ele levantava as mãos, após os sacrifícios da manhã e da tarde, e abençoava o povo em nome de Deus, e a congregação respondia com amém.  (Nm. 6. 24-26):  O SENHOR te abençoe e te guarde; O SENHOR faça resplandecer o rosto sobre ti e tenha misericórdia de ti; O SENHOR sobre ti levante o rosto e te dê paz. Por isso, que após a bênção apostólica feita pelo pastor, a igreja responde e encerra o culto com Amém Tríplice!    Não temos mais sacerdotes, sumo sacerdotes ou sacrifícios, mas os princípios de culto do Antigo Testamento, permanecem. 
O clamor do Salmista é por graça e bênção sobre Israel. Existem três pedidos do Salmista nesse início do verso 1, que desejo chamar sua atenção para a profundidade deles e sua aplicação para o Israel de Deus que é a igreja!
 O primeiro pedido é por graça: Seja Deus gracioso... O que isso significa? Essa expressão poderia ser entendida aqui como sendo um pedido por misericórdia ou piedade. O verbo descreve: a ação que parte de um superior na direção de um inferior que não tem nenhum direito a tratamento clemente. O povo de Deus não tem em si mesmo nenhum merecimento, por isso deve pedir misericórdia ao Senhor. Esse pedido por misericórdia (conforme o verbo usado) é constante, diário, é uma ação que indica todo o tempo, em todo momento precisamos reconhecer que dependemos do Senhor!
O segundo Pedido: e nos abençoe... Bênção é sempre do Maior para o Menor – Pai para filho; Rei para servo. Deus é a fonte inesgotável da bênção para seus servos! Somente Deus pode abençoar, e somente em seu nome, as pessoas podem conferir bênçãos aos outros, quando recebem dele a autoridade (exemplos: Gn 9. 24-29; Gn 14. 18-20; Gn 27. 21-29) Ou seja, somente pessoas autorizadas por Ele podem abençoar outros. Somente nEle, a Igreja pode abençoar o mundo através do bom testemunho, da pregação do Evangelho! Uma Igreja abençoada manifesta ao mundo bênção. Quando a igreja glorifica o SENHOR, torna-se um instrumento de bênçãos na sociedade, na cidade, na região, no país onde está localizada.
O terceiro Pedido:  e faça resplandecer sobre nós o rosto;... o sentido da expressão “resplandecer”  no Antigo Testamento é de: vida e felicidade; bênção; prosperidade. Essa declaração é uma citação da bênção araônica (Nm.6.24-26): O SENHOR te abençoe e te guarde;O SENHOR faça resplandecer o rosto sobre ti e tenha misericórdia de ti. A ideia por traz desta afirmação tanto da bênção arônica como do Salmo é:  um clamor por misericórdia; por restauração; um pedido de favor do Rei.
Existe uma ligação deste pedido do Salmo 67 com as bênçãos decorrentes da obediência anunciadas em Deuteronômio 28. 1-14:
·         Bênçãos na cidade e no campo (verso 3)
·         Bênção nos filhos (verso 4)
·         Bênção na saída e na entrada (verso 6)
·         Vitória sobre os inimigos (verso 7)
·         Prosperidade nos celeiros e na terra (verso 8)
·         Será um povo santo (verso 9)
·         Os povos terão medo de Israel (verso 10)
·         Bênçãos na agricultura, pecuária, na família (verso 11)
·         Chuvas sobre a terra, prosperidade financeira (verso 12)
·         Será cabeça e não cauda (verso 13)
Contudo, Israel precisava saber que existe uma condicional para receber as bênçãos de Deus, que é a obediência a sua Palavra (Dt 28.14): Não te desviarás de todas as palavras que hoje te ordeno, nem para a direita nem para a esquerda, seguindo outros deuses para os servires.
Não posso deixar de mostrar que o Salmo 67 tem uma mensagem para a vitória absoluta que a igreja, que é o Israel de Deus, terá no último Dia, quando Cristo vier, que Isaías profetizou que o Senhor será a nossa luz eternamente (Is 60. 20-21): Nunca mais se porá o teu sol, nem a tua lua minguará, porque o SENHOR será a tua luz perpétua, e os dias do teu luto findarão. Todos os do teu povo serão justos, para sempre herdarão a terra; serão renovos por mim plantados, obra das minhas mãos, para que eu seja glorificado. Temos aqui uma promessa que um dia o SENHOR será o nosso sol, a nossa luz. Resplandecerá de forma absoluta seu rosto sobre nós, nos abençoando eternamente. Todavia, enquanto peregrinamos nessa terra de trevas, essa luz resplandece progressivamente sobre o Seu povo, para a glória dEle. Veja como termina Isaías o verso 21 do capítulo 60:  ...serão renovos por mim plantados, obra das minhas mãos, para que eu seja glorificado. Portanto, a ideia por trás de todo esse processo é a glória de Deus.
João ao escrever o livro de Apocalipse revela que essa luz é Cristo que iluminará a nova Jerusalém (Ap 21. 23): A cidade não precisa nem do sol, nem da lua, para lhe darem claridade, pois a glória de Deus a iluminou, e o Cordeiro é a sua lâmpada.
É importante entendermos, como bem colocou Calvino sobre o Salmo 67.1 que: ...até onde podemos chegar, devemos nossa felicidade, nosso sucesso e prosperidade inteiramente à mesma causa.
O que é ensinado no Salmo 67.1 é o desejo do salmista que Israel fosse abençoada nas suas plantações, colheitas, ações, de tal forma que sua prosperidade testificasse com relação a glória do Senhor. O seu propósito era que Israel, recebendo e desfrutando a graça de Deus, levasse às nações pagãs a reconhecerem essa verdade, para também se prostrarem e adorarem ao único Deus verdadeiro.
O salmista Davi faz pedido semelhante no Salmo 28.9: “Salva o teu povo e abençoa a tua herança; apascenta-o, e exalta-o, para sempre.” Quando oramos para Deus abençoar a igreja, temos que desejar isso para que a sociedade possa testemunhar o poder do SENHOR sobre o seu povo e desejar fazer parte disso. É uma situação extremamente diferente das propagandas enganosas da Teologia da Prosperidade, que usa supostas bênçãos materiais para fazer propaganda da igreja.
Essas bênçãos aqui do Salmo 67, aplicando a igreja, não dizem respeito a bens materiais, pois na história a Igreja passou por várias provações e ainda hoje passa, como nos países que promovem perseguição, não dizem respeito a riqueza material, mas sim a fidelidade ao SENHOR em qualquer situação. A bênção aqui desejada pela igreja é a glorificação do nome do Senhor através do seu povo! A igreja deve ansiar por ser agraciada para glorificar a Deus no  mundo!
Resplandecer o rosto sobre o povo de Deus só é possível se esse povo obedecer a Escritura. Não existe a possibilidade desse povo ser abençoado se não obedecer ao SENHOR, através da sua Palavra. Esse é um bom alerta para a igreja, pois querem crescer, evangelizar, fazer missões, sem antes obedecer e serem fieis ao SENHOR, conforme sua Palavra. Fazer missões é importantíssimo, evangelizar o bairro, as pessoas, os amigos, contudo, não pode ser feito isso desprovido de uma vida de obediência da igreja.
Quando Deus resplandece seu rosto sobre a igreja é devido a um contexto de obediência e não um fato isolado. A igreja precisa de santificar para crescer. Podemos constatar essas bênçãos resultantes de obediência na igreja primitiva em Atos 2:42-47.

O que podemos destacar da narrativa da vida piedosa da igreja em Atos? Firmeza teológica (verso 42); temor e reverencia (verso 43); comunhão (verso 44); generosidade (verso 45); simplicidade de coração (verso 46); crescimento numérico (verso 47).
Em outras passagens em Atos temos o mesmo relato com relação a vida igreja no seu início, como em Atos 4.31; 6.7 e   9.31.
2.      SEGUNDO ASPECTO DO SALMO 67: O Maior Propósito da Igreja
A igreja tem um propósito que governa todos os outros. Provavelmente você diria que “missões” é o maior alvo da igreja! Missão é fundamental na igreja para alcançar os eleitos, é uma forma de obedecer a Deus. Contudo, o propósito maior é a adoração, a glorificação do nome do Senhor. Como bem colocou John Piper: As missões não representam o alvo fundamental da igreja, a adoração sim. As missões existem porque não há adoração, ela sim é fundamental, pois Deus é essencial e não o homem. Esse pensamento de Piper está de acordo com a Escritura. A adoração é o centro de tudo, porque Deus é o centro e não o homem. A sua glória é o alvo principal da nossa existência como servos e igreja.
Quando lemos as Escrituras corretamente observamos que tudo converge para a glória de Deus. a criação; o homem criado a imagem e semelhança de Deus;  o universo; a salvação dos eleitos; Israel no Antigo Testamento; a igreja; missões; a eternidade com Deus! Como declarou Paulo (Rm 11. 36): Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as cousas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém.
Para entendermos melhor a perspectiva do salmista é preciso fazer um paralelo entre os deuses da época do Salmista, a compreensão que as nações tinham de divindade e a revelação do SENHOR através das Escrituras para Israel:
·         Os deuses das nações pagãs na época do Salmista eram deuses tribais, regionais, nacionais. Carregados por seus adoradores, servidos por mãos humanas.
·         O Deus de Israel não é um deus tribal, mas um Deus Universal, que reina sobre tudo e todos. É um Deus global. Deus de Israel vai à frente do seu povo, guerreia por ele, luta por seu povo, o protege. Não é servido por mãos humanas.
Essa compreensão da soberania, do poder e da glória de Deus que estava na mente do salmista. Em Deus nos movemos e existimos como afirmou Paulo aos filósofos e religiosos em Atenas (Atos 17.28)!
3.      TERCEIRO ASPECTO DO SALMO 67: Oração por Bênção Sobre as Nações
para que se conheça na terra o teu caminho e, em todas as nações, a tua salvação. (Verso 2)
A expressão:  “para que...”  indica o propósito do verso anterior. Ou seja, o salmista pede que seja gracioso e abençoe Israel para que este possa fazer conhecido o caminho de Deus entre as nações. Porque? Porque Deus será glorificado por todas as nações! Como tenho afirmado desde o início: Só é abençoante o povo que é abençoado e para ser abençoado é preciso obedecer e glorificar a Deus! Um povo que serve ao Senhor com fidelidade será canal de bênção para as nações ao redor.
O que vai acontecer se a igreja obedecer e glorificar a Deus? O verso 2 responde:   para que se conheça na terra o teu caminho... Para quem deve ser direcionada essa bênção através do povo de Deus? ...na terra e, em todas as nações... Temos aqui a visão de universalismo da pregação do Evangelho, não de salvação universal. Isso não significa a salvação de todas as nações e todos os indivíduos, mas significa que a salvação não ficaria apenas para o povo de Israel, e este deveria ser agente missionário no mundo, o que fracassou!  O que temos aqui é a ordem de Deus dada a Abraão para ser uma bênção e que através dele todas as famílias da terra seriam abençoadas. É a igreja, o Israel de Deus que será instrumento para o cumprimento dessa promessa para a Abraão (At 1.8)!
Posteriormente temos variados textos do Antigo Testamento exortando Israel para ser uma bênção entre as nações. No Novo Testamento temos a igreja espalhada por todo o mundo com a obrigação de anunciar o Evangelho para as nações ainda não alcançadas. Contudo, o que temos que entender aqui que o propósito por trás de tudo isso, que é a Glória de Deus através da proclamação da Sua Palavra!
O que será anunciado para as nações?  O texto responde: para que se conheça na terra o teu caminho... As nações devem conhecer o caminho de Deus. Como o Salmo 105.1 afirma: Rendei graças ao SENHOR,  invocai o seu nome, fazei conhecidos, entre os povos, os seus feitos.  Que caminho é esse que deve ser Revelado as Nações? A expressão “caminhos”  é usada frequentemente no Antigo Testamento para mostrar o andar na aliança do SENHOR.  Israel deveria mostrar as nações como andar na aliança de Deus para que as mesmas fossem alcançadas pela mensagem do Pacto.
Portanto, podemos entender algumas coisas importantes a partir disso:
Israel
Igreja
Ser bênção para as nações não seria apenas fazer com que gentios circuncidassem, mas seria ensina-los como andar com Deus.

Logo, a igreja não tem que apenas receber membros para serem batizados, precisa ensina-los a andar na Aliança.

Israel tinha que mostrar as nações que para relacionar com o SENHOR seria preciso envolver todas as áreas com Ele. Fosse área espiritual, social e cultural.

Da mesma forma a Igreja quando orar pedindo graça e bênção para alcançar os perdidos, precisa entender que esses perdidos precisam ser ensinados que a vida espiritual, social e cultural deles devem ser governadas pelo Evangelho.


Por que deve ser assim? Porque o homem tem que glorificar a Deus na sua totalidade e não em partes. O propósito por trás de tudo não é acrescentar membros na igreja, mas sim glorificar a Deus anunciando o seu caminho entre as nações! Conheça os caminhos de Deus (aliança) e a Salvação:  ...conheça na terra o teu caminho e, em todas as nações, a tua salvação. Sou tentado a olhar para essa expressão “salvação” e logo associar a salvação por meio de Cristo, conforme o Novo Testamento interpreta claramente. Todavia, antes de chegar nesse ponto preciso olhar progressivamente o que esse conceito de salvação significa na revelação bíblica:
Para o Salmista e o Antigo Testamento
Significava que assim como o SENHOR pelejava por Israel e vencia os inimigos, as nações que andassem no Caminho (aliança) do SENHOR também seriam vitoriosas e teriam o livramento vindo do SENHOR.
O Messias Prometido no Antigo Testamento






Vários textos do Antigo Testamento falavam da vinda do Ungido (Messias) que lutaria pelo seu povo, que venceria os inimigos de uma vez por todas, trazendo salvação debaixo das suas asas, como profetizou Malaquias (4.2)
Novo Testamento (cumprimento da Promessa)
No Novo Testamento temos a interpretação dessa revelação dada no Antigo Testamento, mostrando que o Ungido é Cristo:
a)      a vitória não é sobre as nações inimigas, mas sobre a morte e o inferno.
b)      A salvação não é do domínio estrangeiro, mas do domínio de Satanás.
c)      A libertação não é de nações pagãs, mas de nosso próprio coração.
d)      O seu domínio não será através de uma nação, mas através de um povo, eleito, sacerdócio santo, de propriedade exclusiva dele.

A Igreja, que é agora nação santa, composta de pessoas de várias nações, precisa orar como o Salmista para anunciar a “Aliança” e a “Salvação” através do Ungido de Deus, para o homem escravo de si mesmo.
4.      QUARTO ASPECTO DO SALMO 67: Os Efeitos Proféticos da Obediência do Povo de Deus
O Primeiro efeito que o texto mostra é o louvor das nações (verso 3): Louvem-te os povos, ó Deus; louvem-te os povos todos.  Sem dúvida aqui é uma profecia referindo-se as nações louvando ao Senhor, mas essa profecia pode ser experimentada progressivamente pela igreja, ao constatar povos e nações louvando ao SENHOR.
            O Segundo efeito é o temor das nações:  Abençoe-nos Deus, e todos os confins da terra o temerão. Contudo, será no final que veremos o total cumprimento dessa profecia, conforme Apocalipse 7. 9-10: Depois destas cousas, vi, e eis, grande multidão que ninguém podia enumerar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, em pé diante do trono e diante do Cordeiro, vestidos de vestiduras brancas, com palmas nas mãos; e clamavam em grande voz, dizendo: Ao nosso Deus, que se assenta no trono, e ao Cordeiro, pertence a salvação. Será o cumprimento da promessa de Deus feita a Abraão em Gênesis 15.5: Então, conduziu-o até fora e disse: Olha para os céus e conta as estrelas, se é que podes. E lhe disse: Será assim a tua posteridade. Ele creu no SENHOR, e isso lhe foi imputado.
Paralelo dos dois textos de Gênesis 15.5 que é dada a promessa a Abraão com Apocalipse 7. 9-10 que é o cumprimento dessa promessa através da igreja:
Gênesis 15.5
...Olha para os céus e conta as estrelas, se é que podes...”
Apocalipse 7.9-10
“Depois destas cousas, vi, e eis, grande multidão que ninguém podia enumerar...”

            O Terceiro efeito apresentado pelo salmo 67 é a alegria das nações: “Alegrem-se e exultem as gentes, pois julgas os povos com equidade e guias na terra as nações. Louvem-te os povos, ó Deus; louvem-te os povos todos.” Você sabe por que os povos se alegrarão? Porque a sua alegria será o SENHOR! Fomos criados para glorificar a Deus, nossa alegria plena reside unicamente nesse propósito!
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sua vida deve ser um louvor constante a Deus! Entender que o sentido de tudo é a glória do Senhor! Por outro lado, você tem a obrigação de proclamar o evangelho, de anunciar para as pessoas a salvação em Cristo, para a glória do SENHOR! Use a pregação do Evangelho como instrumento de glória ao nome do Senhor. Queremos que nossa igreja cresça, mas que seja um crescimento saudável, pautado pelo desejo de glorificar a Deus e não pela idolatria de números!
Um dia veremos pessoas de todas as nações, povos, línguas adorando conjuntamente o SENHOR e a promessa feita a Abraão chegando ao seu ponto mais alto! Como nos garante Apocalipse 19. 6-8:
Então, ouvi uma como voz de numerosa multidão, como de muitas águas e como de fortes trovões, dizendo: Aleluia! Pois reina o Senhor, nosso Deus, o Todo-poderoso. Alegremo-nos, exultemos e demos-lhe a glória, porque são chegadas as bodas do Cordeiro, cuja esposa a si mesma já se ataviou, pois lhe foi dado vestir-se de linho finíssimo, resplandecente e puro.

Reverendo Márcio Willian Chaveiro


[1] O que é pragmatismo? É o pensamento que se algo deu certo, então, é bom! Não importam os meios, o que realmente importa são os resultados.
[2] CALVINO, João Calvino, O Livro dos Salmos –  Volume 02, Editora FIEL, 1999, p. 636
[3] A expressão araônica vem do nome Arão, irmão de Moisés e primeiro Sumo sacerdote. Todos os sumo sacerdotes de Israel teriam que ser levitas e descendentes direto de Arão. 

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

IGREJA CONSERVADORA E A PÓS MODERNIDADE, COMO ESTABELECER UMA CONVERSAÇÃO CULTURAL?


                      
             Vivemos a chamada pós-modernidade. Um período posterior a modernidade, que defendia o homem como centro e a possibilidade e idealismo de encontrar a verdade absoluta, a partir da razão humana. Com as Guerras Mundiais, o nazismo, e eventual queda do muro de Berlim, o mundo descobriu que o iluminismo ou modernidade era um fracasso para a humanidade. A verdade absoluta não pode ser alcançada, segundo os pensadores pós-modernos!

Vou procurar mostrar um retrospecto histórico e cultural dos períodos de pensamento e procurar explicar  um pouco mais o que domina o nosso tempo: a) Idade Média  -  foi pretensamente o tempo de Deus; b) Renascença - Homem no Centro; c) Iluminismo - Razão no Centro; d) Pós-modernidade -  Sem centro. Nossa época é essencialmente sem centro, sem verdade, um mundo relativizado, sem eixo, sem direção. Tudo gira em torno da emoção, do prazer, do sensorial, do relativo, da experiência, não existem absolutos, não existem dogmas, não existe ortodoxia, existe apenas um propósito intenso de satisfazer as vontades humanas.  O Dr. Herminsten Maia P. Costa define bem a essência do pensamento pós- moderno, em seu livro “Tua Palavra é a Verdade”:  “....Desta forma, há a afirmação explicita ou não de que a verdade é que não há verdade.”
            A medida que o contexto cultural muda, tende a nos influenciar na nossa cosmovisão e diretamente em nossa interpretação bíblica. A pós-modernidade tem influenciado o pensamento dos defensores da “Conversação Convergente” porque usam a cultura como chave hermenêutica e não a própria Escritura. Sendo assim, escravizados pela maré cultural e não conseguem ancorar em um Porto Seguro.
1.      Proposta da “Conversação Emergente”
O Dr. Mauro Meister escreveu um artigo na revista Fides Reformata com o tema: “Igreja Emergente, a Igreja do Pós-modernismo? Uma Avaliação Provisória.” Onde o autor faz uma breve avaliação desse movimento que tem crescido no meio reformado como uma solução para os problemas da igreja, uma nova comunicação com a cultura pós-moderna, sobre o pretexto de expansão do reino. O Dr. Mauro diz que os próprios defensores desse movimento têm dificuldades de defini-lo claramente. A maioria dos  seus defensores acham melhor a terminologia “Conversação Emergente” do que “Igreja Emergente”.  Portanto, usarei a primeira terminologia para esse movimento pós-moderno dentro da igreja.
A tentativa desse movimento é estabelecer uma “conversação” da igreja com a pós-modernidade. Até certo ponto é justo e muito bom pensarmos em formas de alcançar a nossa geração. Quando digo até certo ponto, refiro-me ao preço que será pago ou o limite para estabelecer esse contato. A pós-modernidade é caracterizada essencialmente pelo pluralismo, não existe verdade absoluta, não existe padrão, não existe um único caminho para a verdade. Como a igreja poderá discernir e comunicar-se com o homem pós-moderno sem perder a essência do cristianismo?
Os defensores da “Conversação Emergente” entendem que para comunicar com o homem pós-moderno  é preciso deixar a ortodoxia. Se a pós-modernidade advoga que não existe padrão ou absolutos, naturalmente a igreja que abraçar uma comunicação irrestrita com a cultura, terá que abandonar qualquer ideia de ortodoxia. Nesse caso, tratando-se da igreja conservadora teríamos que abandonar nossos símbolos de fé (Confissão de Fé de Westiminster e seus catecismos – como rege a nossa Constituição e Ordem, na sua introdução), o padrão litúrgico que adotamos tão largamente discutido biblicamente em concílio superior, nosso sistema representativo, chamado presbiteriano, seriam todos abandonados,  porque a “conversação emergente” defende que não precisamos de instituições, de sistemas de governo na igreja, e assim por diante. Tudo ou quase tudo que tanto defendemos  seria desconstruído por esse pensamento. O mais importante que diretamente seria afetada, é a nossa convicção que a Escritura é infalível, absoluta, inerrante e única regra de fé e prática. Se para a pós-modernidade não existem padrões absolutos ou verdade alcançável, certamente em questão de pouquíssimo tempo a igreja abandonaria a Bíblia como regra de fé e prática e a usaria apenas por conveniência e não por regra de fé.
1.      Fundamentos Denominacionais Irremovíveis

Nossos pais denominacionais ao redigirem o manifesto às igrejas no Jornal O Presbiteriano Conservador estariam completamente equivocados, a luz do pensamento de muitos dos nossos dias, para tanto destaco alguns pontos desta expressão de fé:
"Esta nova Igreja é, sem dúvida, o fruto de um acendrado apego à doutrina..., reconhecemos a exata posição do dogma na vida religiosa e a imprescindível necessidade da defesa da doutrina como uma das condições essenciais para o estabelecimento daquela vida. Este é o real ensino de Cristo. Assim sendo, queremos que a nossa posição no seio do Evangelismo Nacional se caracterize por uma atitude construtiva e de defesa aos princípios fundamentais do Cristianismo, tais como entendem a Confissão de Fé e os Catecismos de Westminster (tradução brasileira).... Por isso, queremos ser chamados presbiterianos conservadores... Essa denominação tem o objetivo de afirmar a nossa origem histórica; afirmar que nascemos de um movimento de defesa é ortodoxia....

Se, porém, adesões aparecerem de pessoas sinceramente desejosas de caminhar conosco nesta jornada, nós as receberemos jubilosos e incluiremos os nomes dos novos companheiros no rol desta Igreja local, até que o número e a natureza das adesões autorizem a criação do Presbitério Conservador." (O Presbiteriano Conservador, 28/03/1940, p. 2)

Estes homens foram ousados e firmes ao lutarem contra o pensamento liberal corrente em seus dias e formarem uma igreja com o propósito de glorificar a Deus através de um apego inegociavel a sã doutrina. Eles não sabiam que naquele mesmo ano algumas igrejas iriam aderir ao movimento conservador e formar em 27 de junho de 1940 o primeiro Presbitério Conservador, com 11 igrejas e 5 ministros. Passaram 73 anos, o que mudou? Hoje contamos 08 Presbitérios; dois Sínodos (Sudeste e Centro-Oeste) e a Assembléia Geral. Mas minha pergunta é mais direcionada ao aspecto doutrinário, será que ainda somos uma Igreja Conservadora na prática?
            Corremos o risco de aos pouco perdermos a essência da nossa origem denominacional. Temos ouvido falar que  aqui e ali  tem tido práticas não reformadas na pregação e na liturgia da igreja. Pode parecer radicalismo, mas não é. Devido ao pensamento pós-moderno citado no inicio da matéria, temos sido tentados a produzir uma mensagem no púlpito centrada no homem com suas experiências, vontades e prazeres, com a justificativa de estabelecer uma comunicação com a cultura pós-moderna. Para muitos pastores que defendem  a “conversação emergente” a igreja institucionalizada é falida e uma grande barreira para a expansão, como por exemplo formas litúrgicas firmes e reguladas pelas Escrituras, púlpito, concílios,  teologia, confissões de fé, credos e tantos outros que são herdados por nós como fruto de um desenvolvimento teológico na história da igreja e meio identificador e didático, são vistos por eles como uma grande barreira para tornar a igreja relevante para o nosso tempo. O conservadorismo criativo se utiliza da tradição, não como autoridade final ou absoluta, mas como recurso importante colocado à nossa disposição pela providência de Deus, quem somos nós, o que é o mundo ao nosso redor, e o que fomos chamados para fazer aqui e agora.
            Não defendo um conservadorismo cego, obstinado, turrão, que ama ao que é velho por ser velho e convencional. Sou defensor de um conservadorismo que defende o que é absoluto, porque as Escrituras  afirmar que é. Que não negocia a verdade por causa da pressão cultural de seu tempo, mas procura responder as questões da vida moderna com sabedoria e biblicidade. Que sabe que tudo depende unicamente do poder de Deus e não de projetos forjados por corações soberbos! Entendo que o conservadorismo bíblico tem que ser cheio de vida, poder, e ousadia dada pelo Espírito Santo. Penso que as tradições só são boas quando aprovadas pela Escritura. Por outro lado, não creio em mudanças radicais que desprezam tudo relacionado a tradição e a história de uma igreja, porque nada pode ser essencialmente inovadora, pois procede de uma desenvolvimento teológico-histórico que faz parte da essência de qualquer mudança eclesiástica. O que temos de fazer é reconhecer que somos, muitos mais do que reconhecemos, frágeis filhos da tradição, boa ou má, e precisamos aprender a questionar, à luz das Escrituras, aquilo que até aqui aceitamos sem perguntas, como afirmou J. I. Parker ao escrever o Conforto do Conservadorismo. Não podemos responder as perguntas que nunca fizemos com a pós-modernidade, é suicídio teológico, mas com a Bíblia. A cultura deve ser interpretada com a Escritura e não o contrário.
            Nossos pais afirmaram no manifesto: “...Assim sendo, queremos que a nossa posição no seio do Evangelismo Nacional se caracterize por uma atitude construtiva e de defesa aos princípios fundamentais do Cristianismo, tais como entendem a Confissão de Fé e os Catecismos de Westminster (tradução brasileira).”  Essa essência é irremovível!
Temos que entender que não é abraçando a cultura anti-Deus e procurando fazer conciliações intelectuais para com aqueles que acham que a pregação da cruz é loucura (1 Co 1. 18). Não é mudando a vestimenta do pregador, a aparência do templo, removendo o púlpito que iremos comunicar o evangelho para a nossa cultura. O mundo só será impactado com a pregação se ela for no poder do Espírito Santo de Deus! Para ser no poder do Espírito Santo só é possível se for a pregação da sã doutrina. Como o grande teólogo de Genebra João Calvino, afirmou: “Visto que a igreja é o reino de Cristo, e ele não reina senão por sua Palavra, continuamos duvidando de que são mentirosas as palavras daqueles que imaginam o reino de Cristo sem o seu cetro, quer dizer, sem a sua santa Palavra?” O escritor  Bonhoeffer em seu livro “Discipulado”, escreve: “A Igreja de Cristo, a igreja dos discípulos, foi arrebatada ao domínio do mundo. Vive no mundo, é verdade. Mas foi feita um corpo, é um domínio independente, um espaço para si. É a Santa Igreja (Ef 5.27), a Comunhão dos Santos (1 Co 14.33).”
Considerações Finais

Termino fazendo as seguintes aplicações: primeiro, precisamos usar pontos de contato para alcançar essa geração pós-moderna, sem que essa necessidade de comunicar o Evangelho, deixe de ser a pregação pura e simples da sã doutrina, sem abandonar a doutrina, a ortodoxia que nossos pais lutaram tanto para nos deixar como herança. Não podemos trocar a Escritura por mensagem de  autoajuda, bajulação do ego humano, incentivo ao emocionalismo e prazer. Não podemos ser hedonistas (amantes dos prazeres) como aqueles mestres nas igrejas para qual Tiago exorta (4.1); segundo, temos que ser relevantes em nosso tempo sem perder a essência de nossa herança reformada. Não é removendo os marcos antigos que nos tornaremos uma igreja que faz a diferença no mundo pós-moderno. É preciso confiarmos nos planos de Deus, na centralidade das Escrituras, pregar com poder e ousadia contra o pecado na igreja para que cheguemos ao arrependimento segundo Deus, sempre firmados na verdade absoluta em um tempo que as pessoas não creem em verdade absoluta; terceiro, não é destratando a herança teológica que comunicaremos com o nosso tempo, mas mostrando através da exposição fiel das Escrituras no poder do Espírito Santo, vivendo piedosamente, que impactaremos o mundo! Para tanto, não existe formulas mágicas, projetos extraordinários, mas total dependência e relacionamento com o SENHOR! Os projetos devem ser antes de tudo,  bíblicos, para que Deus seja glorificado. A sabedoria precisa vir do alto, do Pai das luzes e não de sabedoria terrena, animal e demoníaca (Tg 3.15).
Não precisamos de uma igreja emergente, como defendem muitos, porém, precisamos de uma igreja segundo Deus, governada unicamente pela Escritura, que é o cetro de Cristo. Uma igreja reformada que sempre se reforma, sempre volta para as Escrituras. Honremos nosso lema denominacional: “Batalhando pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos...”  Lute dentro da igreja para manter a firmeza, crescer com saúde espiritual e teológica e não inchar numericamente. Ansiamos por crescimento, mas um crescimento segundo Deus e não segundo o homem. Pergunto a você: que igreja deixaremos para os nossos filhos, netos e bisnetos...? Pense nisso e não seja conivente com heresias e pregações que aparentam sabedoria, contudo é culto de si mesmo, e de falsa humildade, não tendo valor algum contra o pecado (Cl 2. 23).
Termino minha reflexão sobre esse assunto com as declarações de Deus através do profeta Jeremias para o povo da aliança, que estava a beira do cativeiro da Babilônia por causa da sua desobediência, como suficiente para resumir o que procurei demonstrar (Jeremias 6. 16): “Assim, diz o SENHOR: Ponde-vos à margem no caminho e vede, perguntai pela veredas antigas, qual é o bom caminho; andai por ele e achareis descanso para a vossa alma; mas eles dizem: Não andaremos.” Não sei você leitor, mas eu prefiro continuar firmado nas veredas antigas de meus pais, do que navegar no mar revolto de incertezas da “conversação emergente”! Esse movimento se mostrará como todos os que rondaram a IPCB ao longo dos 73 anos, como transitório e superficial, e a “igrejinha” (na visão de muitos), continuará navegando no barco da velha, mas não caduca, ortodoxia bíblica, até que o Supremo Pastor volte! A Ele toda a glória!
Reverendo Márcio Willian Chaveiro

(Publicado no Jornal “O Presbiteriano Conservador” Janeiro a março de 2013, nº 1,2,3)

quarta-feira, 25 de abril de 2012

A Essência do Ministério de Jesus


Falar o nome Jesus é algo extremamente comum em nossos dias. Ele é colocado nas faixadas das igrejas, adesivos, camisetas, amuletos, na TV, internet,...etc. Muitas religiões pregam, falam, aparentemente fundamentam seus ensinos nele. As igrejas estão cheias de pessoas que dizem ter sido curadas por Ele, prosperam por causa de Cristo, são libertas dos seus vícios, angustias, depressões, fobias, contudo, ao mesmo tempo a realidade do cristianismo moderno é completamente diferente do caráter, da vida, dos ensinos, da conduta, dos hábitos, do propósito de Cristo. Isto revela que nem sempre quando falamos dele falamos com propriedade, com verdade, com entendimento do que tanto alegamos defender. A Escritura declara (Mt. 7.22-23): “Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqüidade.”
            O Senhor Jesus tem sido para muitos um meio de se auto promover, manipular as massas, enriquecer-se, realizar sonhos e projetos, comprar carro, casa, conseguir emprego melhor, um salário maior e assim por diante! Até mesmo os que se dizem ateus usam o nome dele para escrever algum livro para criticá-lo, sabendo que isto trará polêmica e uma grande propaganda do mesmo, resultando em muita venda. Outros usam o nome de Cristo para fazer da fé dos outros, comércio, alegam curar em nome de Cristo, ter uma autoridade apostólica, domínios sobre os demônios, poder para ungir toalha, copo com água, amuletos e todo tipo de paganismo com o nome fantasia de “Evangelho”, sendo que o nome por trás é outro bem diferente de Evangelho.
            Como podemos ter uma visão correta do caráter de Cristo e do seu real propósito em ter encarnado, morrido e ressuscitado? Temos que voltar os nossos olhos para a fonte da verdade, para as Palavras do próprio Jesus, as Escrituras. Elas testemunham fielmente dEle! Nesta direção o escritor Max Lucado em seu livro “Simplesmente como Jesus”, declarou sabiamente o que é esperado do discípulo de Cristo: “Deus ama você como você é, mas nega-se a deixá-lo desse jeito, ele quer que você seja simplesmente como Jesus!”
            Queremos meditar em uma passagem das Escrituras que nos mostra algumas verdades que vão esclarecer o que questionamos no inicio. A passagem é Lucas 4. 18-19: “O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, e apregoar o ano aceitável do Senhor.”
            O contexto desta passagem esta envolvida com o inicio do ministério de Cristo. No capítulo 3.21-22, Lucas nos mostra Jesus sendo batizado e o Espírito Santo descendo sobre em forma corpórea, como uma pomba, a voz do Pai dizendo: “Tu és o meu Filho amado, em ti me comprazo”. Em seguida vemos o Espírito Santo do Senhor o guiando para o deserto para ser tentado (Lucas 4.1). É dito que Satanás o tenta e em todas as tentações Cristo resisti firmado na Palavra de Deus. As respostas dadas ao Diabo são todas resultantes de uma interpretação bíblica correta em contraposição a distorção feita pelo inimigo.
            No verso 14 é dito: “Então, Jesus, no poder do Espírito, regressou para a Galiléia, e a sua fama correu por toda a circunvizinhança”. Mas uma vez  o contexto nos mostra que Jesus foi guiado pelo Espírito Santo. Esse texto nos mostra que Jesus no poder do Espírito, foi para a Galiléia. Esta região sempre foi desprezada na história judaica. Era um lugar de mistura de raças,  porque os judeus no passado não haviam expulsado os habitantes originais dali e com o tempo se misturaram com os hebreus. Por causa disso, era desprezada pelas outras tribos. Contudo Jesus nasceu nessa região e foi para lá começar o seu ministério. Além disso, era necessário começar o seu ministério longe da região que Herodes dominava, a Judéia. Pois, como um dos imperadores de Roma disse: “É melhor ser porco de Herodes do que filho dele.” Todos que ameaçavam o trono desse rei, era assassinado, e seus filhos foram. Como judeu ele jamais mataria um porco, mas os filhos ele matou, por isso esse ditado. Jesus certamente seria visto como uma ameaça ao seu trono por descender de Davi. Podemos ver isso com clareza quando Herodes manda matar as crianças de dois anos para baixo, na tentativa de assassinar Jesus (Mt. 1.16-18).
            Vemos Jesus ensinando nas sinagogas (Lucas 4.15), sendo exaltado por todos. Depois ele vai especificamente para sua cidade, onde foi criado pelos seus pais, na cidade de Nazaré (Lucas 4.16). No sábado entrou na Sinagoga e como era o costume levantou-se para ler as Escrituras e abriu no livro do profeta Isaías no capítulo 61.1-2 e leu o seguinte: “O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, e apregoar o ano aceitável do Senhor.” Após ter lido essa passagem fechou o livro e disse que aquela passagem havia se cumprido naquele momento. Isso significava que ele era o Messias, o prometido, o Filho de Deus, que a profecia de Isaías havia predito.
            A incredulidade dos judeus cegou os seus corações e  por isso começaram a falar um com outro: - não é esse o filho de José? Diante disso o Senhor Jesus declara uma verdade absoluta (Lucas 4. 24-27): “Eu afirmo a vocês que isto é verdade: nenhum profeta é bem recebido na sua própria terra. Eu digo a vocês que, de fato, havia muitas viúvas em Israel no tempo do profeta Elias, quando não choveu durante três anos e meio, e houve uma grande fome em toda aquela terra. Porém Deus não enviou Elias a nenhuma das viúvas que viviam em Israel, mas somente a uma viúva que morava em Sarepta, perto de Sidom. Havia também muitos leprosos em Israel no tempo do profeta Eliseu, mas nenhum deles foi curado. Só Naamã, o sírio, foi curado.” Ele cita as Escrituras para mostrar que sempre houve incredulidade, cegueira espiritual em Israel para com as verdades de Deus e naquele momento não era diferente, a atitude deles de não reconhecerem que Cristo é o Messias, consistia em cometer o mesmo erro que os antepassados cometeram. O que demonstra a cegueira espiritual que eles viviam, mesmo tendo o próprio Deus encarnado (Cristo) falando com diretamente a eles, mesmo assim não creram! Paulo nos ensina que é somente pela graça que podemos enxergar a verdade (Ef. 2.8-9): “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie.”
            As ações ímpias desses incrédulos de Nazaré foram às seguintes conforme o texto (Lucas 4. 29): “Então se levantaram, arrastaram Jesus para fora da cidade e o levaram até o alto do monte onde a cidade estava construída, para o jogar dali abaixo.” Essa atitude demonstra a reação de um coração incrédulo ao ouvir a mensagem do Senhor. Isso só pode ser mudado se a graça de Deus entrar na alma daquele que ouve.
            Diante de tudo isso que falamos, vamos analisar com mais cuidado o texto que nos serve de base para nossa reflexão:
            1 – Primeira expressão que desejamos destacar é a seguinte do verso 18: “O Espírito do Senhor está sobre mim,...”  O que isso significa? O Senhor Jesus é a segunda pessoa da Trindade. É Deus tanto quanto o Pai e o Espírito Santo. Contudo nos é dito pela Bíblia que Cristo se esvaziou para tornar-se homem e morrer na cruz pelos verdadeiros crentes (Filipenses 2. 5-8): “Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz.” Isto quer dizer que enquanto Jesus andou neste mundo não usava seu poder de Segunda Pessoa da Trindade, se esvaziou completamente, mas esse esvaziar foi temporário a fim de cumprir sua missão de resgatar o que estava perdido, o homem decaído. Se ele não tivesse feito isso, seria tudo uma encenação, porém esvaziado, ele realmente foi tentado, provado, machucado, ferido, angustiado, sentiu dores, fome, sede, cansaço, assim como nós, mas sem pecado. Como ele fazia milagres? Fazia tudo no poder do Espírito Santo, como nos mostra o capitulo 3. 22, onde é dito que o Espírito Santo desceu sobre ele; no capitulo 4 .1 é dito que o Espírito Santo o guiou para ser tentado; no verso 14 é dito que o Espírito Santo o encheu de poder; e finalmente o texto que estamos estudando, mostra Jesus declarando que o Espírito Santo estava sobre ele como declarou o profeta Isaías. Essa ação do Espírito Santo durou todo o  ministério de Cristo, é por isso que ele orava, jejuava, se angustiava. Após a sua morte, ele é ressuscitado pelo poder do Espírito Santo e em seguida é glorificado, volta ao seu estado original, retoma o seu poder de Segunda Pessoa da Trindade, assenta a destra do Pai. Por isso que Paulo diz (Fl. 2. 9-11): Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai.”
            2 – Segunda expressão: “...pelo que me ungiu para evangelizar os pobres...” Depois de afirmar que o Espírito Santo o ungiu, ele diz para que foi ungido. A primeira razão é que veio para evangelizar os pobres. A palavra pobre aqui expressa inicialmente pobreza material mesmo. Os pobres eram extremamente desprezados naqueles dias, não muito diferente de hoje. Para os judeus ser pobre naqueles dias era sinal de maldição, de rejeição divina. Alguém rico era considerado como sinal de aprovação de Deus, um homem abençoado! Contudo, Jesus condena esse pensamento e mostra o contrario. Ele ensina que tanto pobre como ricos devem ser evangelizados. Ele faz isso posteriormente ao evangelizar o Jovem Rico (Lucas 18. 18-23), mostrando aos discípulos que aquele que coloca o coração nas riquezas não herdará o reino de Deus (Lucas 18. 24-30). No capitulo seguinte vemos Jesus evangelizando outro rico, Zaqueu (Lucas 19. 1-10). Esse ao contrário do primeiro se arrepende e entrega-se completamente a Cristo. O que isto quer nos mostrar é que independente da condição financeira todos os homens são pobres de alma e carecem da salvação. O Senhor Jesus veio para evangelizar os pobres de alma, por isso dissemos no inicio que a princípio esta palavra fala do aspecto material, mas a aplicação final dela é para a pobreza de alma, a falta de uma transformação de coração, que só pode ocorrer quando Cristo evangeliza essa pessoa. Ele veio para isso, evangelizar os miseráveis de alma!
            3 – Terceira expressão: “...enviou-me para proclamar libertação aos cativos...”  Esta expressão nos mostra que Cristo é o enviado do Pai para libertar os cativos. Este envio demonstra que Ele é o representante legal dos eleitos enviado pelo Pai para a terra, é Cristo que revela o Pai aos homens e representa os eleitos diante do tribunal do Pai (João 14.9). Quem  vê a Cristo, vê o Pai, porque ele é o unigênito do Pai (João 3.16). O Senhor Jesus veio com autorização do Pai, com a ordem dEle, para libertar o escravos, os cativos. A idéia aqui é libertar aqueles que estão escravos espiritualmente, que andam nas trevas de suas almas, que são escravos de si mesmos, do mundo e do Diabo. É o que disse Isaías acerca de Cristo 700 anos antes dele nascer (Isaías 9.1-2): “Mas para a terra que estava aflita não continuará a obscuridade. Deus, nos primeiros tempos, tornou desprezível a terra de Zebulom e a terra de Naftali; mas, nos últimos, tornará glorioso o caminho do mar, além do Jordão, Galiléia dos gentios. O povo que andava em trevas viu grande luz, e aos que viviam na região da sombra da morte, resplandeceu-lhes a luz.”  Para os cativos, para os que andam em trevas, apareceu a luz, que é Cristo.
            4 – Quarta expressão: “...e restauração da vista aos cegos...”  No Oriente Médio era extremamente comum as pessoas  ficarem cegas devido ao forte sol e a poeira isso causava inflamação nos olhos e com isso a cegueira. Por isso os cegos não podiam exercer o sacerdócio, os animais cegos não eram aceitos para o sacrifício. O cego era sinônimo de desprezo, de maldição hereditária para o judaísmo. Muitos pensavam que quando uma criança nascia cega era porque os pais pecaram e esse pecado recaiu sobre o filho, podemos ver isso no pensamento dos discípulos em relação ao cego de nascença, visão esta que  Cristo corrige (João 9.3-7): “Caminhando Jesus, viu um homem cego de nascença. E os seus discípulos perguntaram: Mestre, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego? Respondeu Jesus: Nem ele pecou, nem seus pais; mas foi para que se manifestem nele as obras de Deus. É necessário que façamos as obras daquele que me enviou, enquanto é dia; a noite vem, quando ninguém pode trabalhar. Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo. Dito isso, cuspiu na terra e, tendo feito lodo com a saliva, aplicou-o aos olhos do cego, dizendo-lhe: Vai, lava-te no tanque de Siloé (que quer dizer Enviado). Ele foi, lavou-se e voltou vendo.” Este era o pensamento da época que influenciou os discípulos, mas Cristo mostra o pensamento correto sobre esse fato. Esta cegueira que Cristo veio curar era física, para mostrar através dos milagres que ele é o Messias, todavia o sentido espiritual maior por traz disso é  a cura da cegueira espiritual. Ele veio para transformar as pessoas incrédulas, ímpias, desviadas, cegas pela falsa religiosidade, pela mentira de Satanás, pela cultura mundana. Levando-as a enxergarem a verdade, como aconteceu com Paulo a caminho de Damasco (Atos 9). Os nazarenos que ouviram Jesus estavam cegos espiritualmente, porque após Jesus afirma ser o Cristo, eles queriam matá-lo. O que nos mostra claramente a cegueira espiritual que eles se encontravam. O Senhor Jesus veio para salvar, para libertar, para curar os perdidos.
            5 – Quinta expressão: “..., para pôr em liberdade os oprimidos...”   A religiosidade judaica oprimia as pessoas da época. Colocavam leis que Deus nunca havia colocado, ao ponto de Jesus declarar o seguinte sobre eles (Mateus 23. 4): “Atam fardos pesados [e difíceis de carregar] e os põem sobre os ombros dos homens; entretanto, eles mesmos nem com o dedo querem movê-los.”  Isso eles faziam por gerações, o povo era oprimido por estes guias cegos (Mateus 23.24). Espantavam mosquitos, mas engoliam camelos (Mateus 23.23)! A marca maior deles era a incoerência entre o que falavam e o que faziam. Para esse povo Cristo veio para libertar da escravidão religiosa, do farisaísmo, da mediocridade de alma. O evangelho de Cristo esta acima de qualquer religião, de qualquer líder religioso. A verdade do Evangelho é libertadora, restauradora, cura as feridas da alma. Em Cristo existe verdadeiro descanso para a alma, refrigério para o nosso ser, é por isso que Ele declarou as multidões oprimidas (Mateus 11. 28-30): “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve.”
            6 – Sexta expressão: “...e apregoar o ano aceitável do Senhor.”  Ele termina lendo que veio pregar o ano aceitável do Senhor. Obviamente a palavra ano não indica literalmente um período de um ano, mas uma época que Deus estará perdoando, libertando, curando, os cegos, oprimidos, pobres de alma, esse período fazia parte desse momento do ministério de Cristo até a sua segunda vinda. No texto original de Isaías, que foi lido por  Cristo  (Isaías 61.1-2): “O Espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque o Senhor me ungiu para pregar boas-novas aos quebrantados, enviou-me a curar os quebrantados de coração, a proclamar libertação aos cativos e a pôr em liberdade os algemados; a apregoar o ano aceitável do Senhor e o dia da vingança do nosso Deus...”       Afirma apenas a parte do ano aceitável do Senhor e não a segunda parte que fala da vingança do nosso Deus, por quê? A razão é simples, esse período da vinda, morte, ressurreição e assunção de Cristo constituem o tempo de oportunidade para o pecador se arrepender, de ser transformado, de ter sua visão restaurada, de ser libertado da escravidão do pecado, pela graça de Deus. A segunda volta de Cristo é o tempo da vingança, do juízo, da condenação para aqueles que o rejeitaram. Como ele declarou  que estava se cumprindo, leu apenas a parte que estava cumprindo no seu tempo, que é esse período de oportunidade para o pecador, de paciência de Deus. Todavia, chegará o dia que essa paciência se esgotará que é o dia da vingança do nosso Deus, o dia do juízo final.
            Portanto, temos que entender que o evangelho de Cristo essencialmente transformar os pecadores para a gloria de Deus. Essa transformação é de dentro pra fora, envolvendo todas as partes desse pecador salvo pela graça. O Senhor Jesus veio para  evangelizar os pobres, libertar os cativos existencialmente, restaurar a visão dos cegos espiritualmente e tirar os fardos dos oprimidos. Isto só é possível por que estamos no período da paciência de Deus, da graça e misericórdia do Senhor, o ano aceitável do SENHOR!
            Olhe para Cristo, peça que sua visão seja restaurada, que sua vida seja transformada, que seu coração seja libertado da opressão do legalismo religioso, para que sua alma compreenda a essência do Ministério de Cristo. Se isso acontecer é porque o Espírito Santo esta agindo na sua vida aplicando a graça salvadora alcançada por Cristo na cruz! Lembre-se que não existe nada mais prazeroso que viver para Cristo!
            A Ele toda a glória para todo o sempre!
Reverendo Márcio Willian Chaveiro