Como ribeiros de águas assim é o coração do rei na mão
do SENHOR, este, segundo o seu querer, o inclina.
Provérbios 21. 1
Todos
sabemos que um “provérbio” é um dito
popular, que busca retratar a realidade e apontar caminhos de reflexão. O livro
de Provérbios é um livro de sabedoria dada por Deus através dos seus
escritores, na maior parte escrito por Salomão. Não é um livro de promessas,
mas de declarações de como andar com o Senhor em sabedoria de vida![1] O
próprio livro apresenta seu proposito (1.1-7): para conhecer a sabedoria e a instrução; para entender as palavras que
dão entendimento; para instruir em sábio procedimento, em retidão, justiça e
equidade; para dar prudência aos simples, e conhecimento e bom senso aos
jovens. E o tema do livro se
encontra no verso 7: O temor do SEHOR é o
princípio do conhecimento. Os insensatos, porém, desprezam a sabedoria e a
instrução.[2]
Mas o que é sabedoria? A sabedoria para a Bíblia é usar os melhores meios para
chegar ao fim. Para utilizar os melhores meios para chegar ao proposito
desejado pelo justo, que é a glória de Deus, é necessário adquirir a partir da
Escritura: inteligência, bom proceder,
justiça, juízo, prudência, bons pensamentos (que é bom siso)!
Que
caminho de felicidade existencial seria esse? A fonte da felicidade humana
seria na riqueza, sucesso ou prazeres
imediatos? Você acredita que esses prazeres momentâneos trazem real
felicidade ao coração do homem? O Catecismo Maior de Westminster tem como
primeira: Qual é o fim principal do
homem? A resposta bíblica é simples, mas profunda: O fim supremos e principal do homem é glorificar a Deus e goza-lo para
sempre.[3]
Porque é esse fim principal para o homem? A Bíblia em vários textos responde,
mas destaco um apenas, que é Romanos 11.36: Porque
dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas, A ele, pois, a glória
eternamente. Amém. Nenhum ser aqui ou em qualquer dimensão física ou
espiritual, é igual ao SENHOR, logo, a quem ele teria que dar glória? Todavia,
a única forma de vivenciarmos a felicidade é vivendo para o glorificar!
O
livro de Provérbios nos ensina que a verdadeira sabedoria é totalmente
dependente da revelação da verdade divina ao que é fiel e justo![4]
Não é um livro de conceitos filosóficos sobre sabedoria, mas vida feliz
verdadeiramente! Baseado no capítulo 21 verso 1, vou expor alguns aspectos
desse texto para aprendermos sobre a maravilha que é confiar em um Deus que
reina sabiamente, conforme sua vontade soberana!
“Como ribeiros de águas...”
A
água naquele contexto geográfico na Palestina sempre foi muito importante. A
sobrevivência de um reino dependia bastante dos ribeiros de água. Em períodos
de cerco do inimigo, os poços eram tampados pelo lado de fora para não fornecer
água para o povo dentro das cidades, o que os levava a rendição ou até mesmo
chegar ao ponto de beber urina e comer excremento (Is 36.12)! Era uma tortura
para os habitantes da cidade durante esse período de cerco inimigo.
O
texto se utiliza dessa necessidade essencial para a sobrevivência, para mostrar
exatamente que a sobrevivência de um rei e seu reino depende exclusivamente do
agir da mão de Deus. Nenhum rei governava por si mesmo, mas cumpria o propósito
de Deus, ainda que não tivesse consciência desse fato.
Nenhum
homem por mais rico que seja faz a sua própria vontade como imagina. A sua
riqueza e poder o cegam para a realidade, impedindo-o de enxergar o obvio, ele
está nas mãos do Criador! Esse homem, como os demais, é governado por Deus, cumpre
o proposito eterno dele. A história tem um autor, ela não é fruto do acaso, da
vontade humana, mas fruto dos propósitos eternos do Senhor!
“...é o coração
do rei...”
O
coração do rei é governado pelo Senhor! O principio aqui é simples, quem manda
e quem acha que manda! Os reis naqueles dias achavam que mandavam, que podiam
poupar uma vida ou tira-la! Eles eram soberanos nas suas nações, mandavam e
desmandavam em seus súditos, não eram como a Rainha da Inglaterra, que figura
apenas uma realeza na tradição inglesa! Os súditos tremiam diante de um
Suserano! Isso enchia o coração deles de orgulho e arrogância! Portanto,
desprezavam qualquer ideia de se submeter a uma divindade soberana.
Todos
tremiam diante dos reis, podiam mandar matar e mandar soltar, não foi isso que
disse Pilatos a Jesus, quando este não o respondia (João 18. 10-11): “...Não me respondes? Não sabes que tenho
autoridade para te soltar e autoridade para te crucificar? Respondeu Jesus:
Nenhuma autoridade terias sobre mim, se de cima não te fosse dada;...”.
Pilatos nem era um rei, o rei do Império era Cesar, Pilatos apenas liderava a
Judeia e já pensava muito além de si mesmo, por ter “poder” de decidir sobre a
vida e a morte de Jesus! Ele não sabia que estava diante daquele que habita no
alto e sublime trono, que é o Rei dos reis, SENHOR dos Exércitos (Is 6)!
Se
o coração do homem que exerce a maior autoridade em uma nação ou Império é
governado por Deus, teria algum outro homem no reino, que não seria governado por Deus? Os
súditos não seriam governados? Se o coração de um rei é governado, quanto mais
os dos súditos! O “coração” era a sede das emoções e pensamentos segundo a linguagem
bíblica. Significa que Deus governa os pensamentos e desejos dos reis, para que
cumpram sua vontade! Senaqueribe é um exemplo dessa ação soberana do Senhor (Is
38. 26,29). Esse rei assírio pensava
que estava concretizando seus sonhos arrogantes de governar o mundo, todavia,
cumpria os propósitos eternos daquele que é Rei sobre todos os reis!
“...na mão do SENHOR...”
O
coração do rei esta na mão do SENHOR! Essa expressão: “mão do
SENHOR” implica que Ele é o sujeito da ação e que o coração do rei é o
objeto que ele dirige! Na Palestina os agricultores aguardavam a chuva para
desviar a água para onde era mais necessário. Assim como o curso da água pode
ser desviado, assim o coração do rei de uma nação poderia ser desviado pelo
SENHOR, para cumprir proposito eternos!
É
a mão de Yahweh, do Grande Eu Sou, que reina! É essa a mão que governa o rei e
todos os homens! Como bem sabemos que Deus não tem mão, pé, ou partes, porque é
Espírito Puríssimo, a forma que o texto fala é um simbolismo da ação de Deus na
história e nas vidas!
este, segundo o
seu querer, o inclina.
A
ideia de Deus inclinar o coração do rei é de uma ação constante e não
esporádica, no ato de governar. Significa que o SENHOR governa cada passo, cada
momento, cada pensamento, dos homens. É bom explicar que esse governar de Deus
não é tirano, ditador, como pensam muitos. É um governo que se utiliza
sabiamente dos melhores meios para atingir seu objetivo maior, que é a glória
dEle! É um paradoxo para nós, ultrapassa a nossa capacidade de compreensão, o
que não significa irracionalidade ou algo ilógico, apenas é algo
incompreensível para a nossa mente finita!
Todos
os homens são governados por Deus, mas o texto quer nos ensinar que o governo
que esta sobre nós é dado pelo SENHOR, e inclinado pelo SENHOR! Aplicando a nossa
realidade brasileira, a crise que vivemos de corrupção em praticamente todos os
setores da sociedade. Podemos concluir que temos o governo que merecemos! Os
governantes saem do nosso meio, é a sociedade brasileira que está corrompida,
com raríssimas exceções! Onde precisa mudar em cima ou embaixo? A mudança
precisa ser individualizada para depois ser coletivizada!
O
que aprendemos aqui é que precisamos confiar no governo de Deus, ainda que
nossos governantes sejam maus! Existe um plano maior por trás de tudo! Somos
exortados pela Bíblia a orar por nossas autoridades (1 Tm 2. 1-2): Antes de tudo, pois, exorto que se use a
prática de súplicas, orações, intercessões, ações de graças, em favor de todos
os homens, em favor dos reis e de todos os que se acham investidos de
autoridade, para que vivamos vida tranquila e mansa, com toda a piedade e
respeito. Quantas igrejas você
conhece que tem feito isso regularmente? Agora pergunto novamente: quantas
igrejas promovem campanhas para seus membros prosperarem sem esforço e
trabalho? Então, você já sabe onde reside o maior problema de egoísmo, orgulho
e falta de misericórdia!
Quando
olhamos para a sociedade, para os políticos, os governantes, os investidos de
autoridade, nos entristecemos, desanimamos por causa de tanta desonestidade,
tanta falta de amor ao próximo, tanta impunidade! Todavia, a Escritura nos
mostra que todos estes homens são governados por Ele! Qual a lição que o Senhor
que dar ao Brasil e a Igreja Evangélica? Creio que é revelar qual é a realidade
de uma nação onde Ele não é servido e adorado corretamente! Não só não é
servido pelas religiões, pelas seitas, mas não é servido pela maioria dos
evangélicos, que tem prestado um desfavor ao Evangelho da Cruz!
Quais
são as consequências imediatas de uma nação que apoia e ensina na prática:
tirar proveito do outro, dá um jeitinho brasileiro, a impunidade, o desrespeito
nas relações familiares, a criação de leis que defendem os marginais, os
desonestos, os que não produzem nada para a sociedade, os adolescentes
delinquentes, os menores assassinos, o livre tráfico de drogas nas nossas ruas?
As consequências é o que temos vivido!
Um país que tem 40 milhões de frequentadores de igreja que beija os pés de
pastores corruptos e se corrompem, sendo mais imundos moralmente que os
políticos do Planalto Central!
O
que fazer diante dessa triste realidade? Ainda temos joelhos que não se
dobraram a Baal e Astarote (1 Reis 19.18)! Logo, esses justos que vivem no
Brasil em meio a adoradores de Baal, devem dobrar seus joelhos e clamar ao
único Deus, que reina soberanamente, que governa o coração dos vereadores,
prefeitos, governadores, deputados, senadores, dos magistrados e da presidenta
Dilma! Somente Ele pode trazer mudanças para nós, então, devemos clamar, nos
arrepender e o invocar de todo o coração como igreja! Talvez Ele tenha
misericórdia da nossa nação e da igreja evangélica!
A
intercessão pelas autoridades é uma das funções da igreja. Infelizmente tem
sido negligenciado pela maioria. Temos que interceder pela sociedade, pelos
governantes, para que vivamos dias melhores! Não é papel da igreja fazer
politica, lançar candidatos, ter partido político, presidente, é função dela
chorar com os que choram, alegrar-se com os que se alegram, pregar o Evangelho
do Reino, viver a justiça e santidade do Senhor, intercedendo por dias melhores
para todos! Isso deve ser feito até que Cristo venha e tenhamos plena paz e um
reino eterno!
Concluo essas considerações sobre a
soberania de Deus com a afirmação sábia e bíblica de Arthur W. Pink:
...quando pensamos no absoluto domínio de
Deus sobre todas as coisas e sobre todos os seres, não devemos perder de vista
as Suas perfeições morais. Deus é justo e bom, e sempre faz o que é reto. Não
obstante, Ele exerce o Seu domínio de acordo com o beneplácito da Sua vontade
soberana e justa. Atribui a cada criatura o lugar que aos seus olhos parece
bom. Ordena as diferentes circunstâncias relacionadas com cada criatura de
acordo com os seus conselhos. Modela cada vaso segundo a sua determinação, independente
de toda e qualquer influência. Tem misericórdia de quem Ele quer ter
misericórdia, e endurece a quem lhe apraz. Onde quer que estejamos, seus olhos
estão sobre nós. Quem quer que sejamos, nossa vida e tudo mais está à
disposição dele. Para o cristão, Ele é um Pai amoroso e terno; para o pecador
rebelde, ele continuará sendo fogo consumidor. Ora ao Rei dos séculos, imortal,
invisível, ao único Deus seja honra e glória para todo o sempre. Amém” (1
Timóteo 1.17).[5]
Reverendo
Márcio Willian Chaveiro
[1]
ARNOLD & BEYER, Bill T. Arnold & Bryan E. Beyer, Descobrindo o Antigo
Testamento, Cultura Cristã, 1998, pp. 314-315
[2]
JUNIOR, Walter C. Kaiser Jr., O Plano da Promessa de Deus, Teologia Bíblica do
Antigo e Novo Testamento, Vida Nova, 2011, p.141
[3]
Catecismo Maior de Westminster, Cultura Cristã, 2005, p. 7
[4]
HOUSE, Paul R. House, Teologia do Antigo Testamento, Vida, 1998, p. 563
[5]
PINK, A. W. Pink, Os Atributos de Deus, PES, 1985, p. 113
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