sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

O NOSSO DEUS REINA SOBERANAMENTE SOBRE TUDO E TODOS!

Como ribeiros de águas assim é o coração do rei na mão do SENHOR, este, segundo o seu querer, o inclina.
Provérbios 21. 1
      Todos sabemos que um “provérbio” é um dito popular, que busca retratar a realidade e apontar caminhos de reflexão. O livro de Provérbios é um livro de sabedoria dada por Deus através dos seus escritores, na maior parte escrito por Salomão. Não é um livro de promessas, mas de declarações de como andar com o Senhor em sabedoria de vida![1] O próprio livro apresenta seu proposito (1.1-7): para conhecer a sabedoria e a instrução; para entender as palavras que dão entendimento; para instruir em sábio procedimento, em retidão, justiça e equidade; para dar prudência aos simples, e conhecimento e bom senso aos jovens.  E o tema do livro se encontra no verso 7: O temor do SEHOR é o princípio do conhecimento. Os insensatos, porém, desprezam a sabedoria e a instrução.[2] Mas o que é sabedoria? A sabedoria para a Bíblia é usar os melhores meios para chegar ao fim. Para utilizar os melhores meios para chegar ao proposito desejado pelo justo, que é a glória de Deus, é necessário adquirir a partir da Escritura: inteligência, bom proceder, justiça, juízo, prudência, bons pensamentos (que é bom siso)!  
Que caminho de felicidade existencial seria esse? A fonte da felicidade humana seria na riqueza, sucesso ou prazeres imediatos? Você acredita que esses prazeres momentâneos trazem real felicidade ao coração do homem? O Catecismo Maior de Westminster tem como primeira: Qual é o fim principal do homem? A resposta bíblica é simples, mas profunda: O fim supremos e principal do homem é glorificar a Deus e goza-lo para sempre.[3] Porque é esse fim principal para o homem? A Bíblia em vários textos responde, mas destaco um apenas, que é Romanos 11.36: Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas, A ele, pois, a glória eternamente. Amém. Nenhum ser aqui ou em qualquer dimensão física ou espiritual, é igual ao SENHOR, logo, a quem ele teria que dar glória? Todavia, a única forma de vivenciarmos a felicidade é vivendo para o glorificar!
O livro de Provérbios nos ensina que a verdadeira sabedoria é totalmente dependente da revelação da verdade divina ao que é fiel e justo![4] Não é um livro de conceitos filosóficos sobre sabedoria, mas vida feliz verdadeiramente! Baseado no capítulo 21 verso 1, vou expor alguns aspectos desse texto para aprendermos sobre a maravilha que é confiar em um Deus que reina sabiamente, conforme sua vontade soberana!
 “Como ribeiros de águas...”
A água naquele contexto geográfico na Palestina sempre foi muito importante. A sobrevivência de um reino dependia bastante dos ribeiros de água. Em períodos de cerco do inimigo, os poços eram tampados pelo lado de fora para não fornecer água para o povo dentro das cidades, o que os levava a rendição ou até mesmo chegar ao ponto de beber urina e comer excremento (Is 36.12)! Era uma tortura para os habitantes da cidade durante esse período de cerco inimigo.
O texto se utiliza dessa necessidade essencial para a sobrevivência, para mostrar exatamente que a sobrevivência de um rei e seu reino depende exclusivamente do agir da mão de Deus. Nenhum rei governava por si mesmo, mas cumpria o propósito de Deus, ainda que não tivesse consciência desse fato.
Nenhum homem por mais rico que seja faz a sua própria vontade como imagina. A sua riqueza e poder o cegam para a realidade, impedindo-o de enxergar o obvio, ele está nas mãos do Criador! Esse homem, como os demais, é governado por Deus, cumpre o proposito eterno dele. A história tem um autor, ela não é fruto do acaso, da vontade humana, mas fruto dos propósitos eternos do Senhor!
 “...é o coração do rei...”
O coração do rei é governado pelo Senhor! O principio aqui é simples, quem manda e quem acha que manda! Os reis naqueles dias achavam que mandavam, que podiam poupar uma vida ou tira-la! Eles eram soberanos nas suas nações, mandavam e desmandavam em seus súditos, não eram como a Rainha da Inglaterra, que figura apenas uma realeza na tradição inglesa! Os súditos tremiam diante de um Suserano! Isso enchia o coração deles de orgulho e arrogância! Portanto, desprezavam qualquer ideia de se submeter a uma divindade soberana.
Todos tremiam diante dos reis, podiam mandar matar e mandar soltar, não foi isso que disse Pilatos a Jesus, quando este não o respondia (João 18. 10-11): “...Não me respondes? Não sabes que tenho autoridade para te soltar e autoridade para te crucificar? Respondeu Jesus: Nenhuma autoridade terias sobre mim, se de cima não te fosse dada;...”. Pilatos nem era um rei, o rei do Império era Cesar, Pilatos apenas liderava a Judeia e já pensava muito além de si mesmo, por ter “poder” de decidir sobre a vida e a morte de Jesus! Ele não sabia que estava diante daquele que habita no alto e sublime trono, que é o Rei dos reis, SENHOR dos Exércitos (Is 6)!
Se o coração do homem que exerce a maior autoridade em uma nação ou Império é governado por Deus, teria algum outro homem  no reino, que não seria governado por Deus? Os súditos não seriam governados? Se o coração de um rei é governado, quanto mais os dos súditos!  O “coração” era a sede das emoções e pensamentos segundo a linguagem bíblica. Significa que Deus governa os pensamentos e desejos dos reis, para que cumpram sua vontade! Senaqueribe é um exemplo dessa ação soberana do Senhor (Is 38. 26,29). Esse rei assírio pensava que estava concretizando seus sonhos arrogantes de governar o mundo, todavia, cumpria os propósitos eternos daquele que é Rei sobre todos os reis!
 “...na mão do SENHOR...”
O coração do rei esta na mão do SENHOR! Essa expressão:  “mão do SENHOR” implica que Ele é o sujeito da ação e que o coração do rei é o objeto que ele dirige! Na Palestina os agricultores aguardavam a chuva para desviar a água para onde era mais necessário. Assim como o curso da água pode ser desviado, assim o coração do rei de uma nação poderia ser desviado pelo SENHOR, para cumprir proposito eternos!
É a mão de Yahweh, do Grande Eu Sou, que reina! É essa a mão que governa o rei e todos os homens! Como bem sabemos que Deus não tem mão, pé, ou partes, porque é Espírito Puríssimo, a forma que o texto fala é um simbolismo da ação de Deus na história e nas vidas!
 este, segundo o seu querer, o inclina.
A ideia de Deus inclinar o coração do rei é de uma ação constante e não esporádica, no ato de governar. Significa que o SENHOR governa cada passo, cada momento, cada pensamento, dos homens. É bom explicar que esse governar de Deus não é tirano, ditador, como pensam muitos. É um governo que se utiliza sabiamente dos melhores meios para atingir seu objetivo maior, que é a glória dEle! É um paradoxo para nós, ultrapassa a nossa capacidade de compreensão, o que não significa irracionalidade ou algo ilógico, apenas é algo incompreensível para a nossa mente finita!
Todos os homens são governados por Deus, mas o texto quer nos ensinar que o governo que esta sobre nós é dado pelo SENHOR, e inclinado pelo SENHOR! Aplicando a nossa realidade brasileira, a crise que vivemos de corrupção em praticamente todos os setores da sociedade. Podemos concluir que temos o governo que merecemos! Os governantes saem do nosso meio, é a sociedade brasileira que está corrompida, com raríssimas exceções! Onde precisa mudar em cima ou embaixo? A mudança precisa ser individualizada para depois ser coletivizada!
O que aprendemos aqui é que precisamos confiar no governo de Deus, ainda que nossos governantes sejam maus! Existe um plano maior por trás de tudo! Somos exortados pela Bíblia a orar por nossas autoridades (1 Tm 2. 1-2): Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de súplicas, orações, intercessões, ações de graças, em favor de todos os homens, em favor dos reis e de todos os que se acham investidos de autoridade, para que vivamos vida tranquila e mansa, com toda a piedade e respeito.  Quantas igrejas você conhece que tem feito isso regularmente? Agora pergunto novamente: quantas igrejas promovem campanhas para seus membros prosperarem sem esforço e trabalho? Então, você já sabe onde reside o maior problema de egoísmo, orgulho e falta de misericórdia!
Quando olhamos para a sociedade, para os políticos, os governantes, os investidos de autoridade, nos entristecemos, desanimamos por causa de tanta desonestidade, tanta falta de amor ao próximo, tanta impunidade! Todavia, a Escritura nos mostra que todos estes homens são governados por Ele! Qual a lição que o Senhor que dar ao Brasil e a Igreja Evangélica? Creio que é revelar qual é a realidade de uma nação onde Ele não é servido e adorado corretamente! Não só não é servido pelas religiões, pelas seitas, mas não é servido pela maioria dos evangélicos, que tem prestado um desfavor ao Evangelho da Cruz!
Quais são as consequências imediatas de uma nação que apoia e ensina na prática: tirar proveito do outro, dá um jeitinho brasileiro, a impunidade, o desrespeito nas relações familiares, a criação de leis que defendem os marginais, os desonestos, os que não produzem nada para a sociedade, os adolescentes delinquentes, os menores assassinos, o livre tráfico de drogas nas nossas ruas?  As consequências é o que temos vivido! Um país que tem 40 milhões de frequentadores de igreja que beija os pés de pastores corruptos e se corrompem, sendo mais imundos moralmente que os políticos do Planalto Central!
O que fazer diante dessa triste realidade? Ainda temos joelhos que não se dobraram a Baal e Astarote (1 Reis 19.18)! Logo, esses justos que vivem no Brasil em meio a adoradores de Baal, devem dobrar seus joelhos e clamar ao único Deus, que reina soberanamente, que governa o coração dos vereadores, prefeitos, governadores, deputados, senadores, dos magistrados e da presidenta Dilma! Somente Ele pode trazer mudanças para nós, então, devemos clamar, nos arrepender e o invocar de todo o coração como igreja! Talvez Ele tenha misericórdia da nossa nação e da igreja evangélica!
A intercessão pelas autoridades é uma das funções da igreja. Infelizmente tem sido negligenciado pela maioria. Temos que interceder pela sociedade, pelos governantes, para que vivamos dias melhores! Não é papel da igreja fazer politica, lançar candidatos, ter partido político, presidente, é função dela chorar com os que choram, alegrar-se com os que se alegram, pregar o Evangelho do Reino, viver a justiça e santidade do Senhor, intercedendo por dias melhores para todos! Isso deve ser feito até que Cristo venha e tenhamos plena paz e um reino eterno!
            Concluo essas considerações sobre a soberania de Deus com a afirmação sábia e bíblica de Arthur W. Pink:
...quando pensamos no absoluto domínio de Deus sobre todas as coisas e sobre todos os seres, não devemos perder de vista as Suas perfeições morais. Deus é justo e bom, e sempre faz o que é reto. Não obstante, Ele exerce o Seu domínio de acordo com o beneplácito da Sua vontade soberana e justa. Atribui a cada criatura o lugar que aos seus olhos parece bom. Ordena as diferentes circunstâncias relacionadas com cada criatura de acordo com os seus conselhos. Modela cada vaso segundo a sua determinação, independente de toda e qualquer influência. Tem misericórdia de quem Ele quer ter misericórdia, e endurece a quem lhe apraz. Onde quer que estejamos, seus olhos estão sobre nós. Quem quer que sejamos, nossa vida e tudo mais está à disposição dele. Para o cristão, Ele é um Pai amoroso e terno; para o pecador rebelde, ele continuará sendo fogo consumidor. Ora ao Rei dos séculos, imortal, invisível, ao único Deus seja honra e glória para todo o sempre. Amém” (1 Timóteo 1.17).[5]

Reverendo Márcio Willian Chaveiro





[1] ARNOLD & BEYER, Bill T. Arnold & Bryan E. Beyer, Descobrindo o Antigo Testamento, Cultura Cristã, 1998, pp. 314-315
[2] JUNIOR, Walter C. Kaiser Jr., O Plano da Promessa de Deus, Teologia Bíblica do Antigo e Novo Testamento, Vida Nova, 2011, p.141
[3] Catecismo Maior de Westminster, Cultura Cristã, 2005, p. 7
[4] HOUSE, Paul R. House, Teologia do Antigo Testamento, Vida, 1998, p. 563
[5] PINK, A. W. Pink, Os Atributos de Deus, PES, 1985, p. 113

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