Igreja é uma palavra que vem do grego, e nesta língua
significa assembleia, multidão,
ajuntamento popular. Qualquer grupo que se reunisse para tratar dos mais
diversos fins era, para os gregos, uma igreja (Eclésia). Os escritores sagrados, para descrever as novas ideias
que surgiram na nova religião, empregavam alguns vocábulos gregos com nova
significação e acrescentavam a outros alguma coisa no sentido que já possuíam,
então, "Igreja" deixou de
significar um mero aglomerado de pessoas, para designar a assembleia ou reunião
de pessoas para prestar culto a Deus.
No sentido bíblico, a igreja é a comunidade de
todos os cristãos de todos os tempos.[1]
O teólogo luterano Paul Tillich comentou corretamente sobre a igreja como
comunidade dos crentes dentro das igrejas: ...a
verdade de que a igreja, a Comunidade Espiritual, sempre vive nas igrejas e que
onde quer que existam igrejas confessando que seu fundamento está no Cristo
como manifestação central do Reino de Deus na história, ali está a igreja.[2]
Ele argumenta nesse ponto que a falta de visão dessa duplicidade da igreja,
comunidade dos crentes nas igrejas, é demoníaco, porque o contrário disso gera
uma visão religiosa extremista como ocorreu no catolicismo romano.
Nas Escrituras encontramos vários textos que falam
sobre a igreja com figura de linguagem. Paulo usa várias metáforas para igreja
em Efésios 2. 19, 21-22. Ele a compara com família
de Deus (verso 19); edifício e
santuário (verso 21); tabernáculo
para a habitação de Deus (verso 22). A igreja é chamada de “noiva de
Cristo” quando Paulo fala da relação conjugal e afirma que o mistério no qual
se referia é sobre a relação de Cristo com a igreja (Ef 5. 32): Grande é este
mistério, mas eu me refiro a Cristo e a igreja. No Antigo Testamento Deus se
relacionava com Israel como um marido se relaciona com sua esposa, todavia, a
nação adulterou espiritualmente e se prostituiu com outras nações, abandonando
o seu Amado (Ez 16. 1-20). Porém, no Novo Testamento, é a igreja, composta de
judeus e gentios alcançados pela graça, que é considerada noiva ou esposa de
Cristo (2 Co 11.2)!
Os reformadores entendiam que a igreja de Cristo
tem características essenciais que a diferem de qualquer ajuntamento, que não
seja verdadeiramente igreja. Existiram muitos debates entre os reformados sobre
quantas e quais seriam essas marcas da igreja. Alguns defendiam que seria
apenas uma, a pregação fiel da Palavra, outros defenderam que seriam duas, a
pregação da Palavra e o exercício correto dos sacramentos. E por último, alguns
defenderam que seriam três: Pregação fiel
da Palavra, exercício correto dos sacramentos e disciplina.[3]
O que podemos claramente observar é que embora não exista consenso entre os
teólogos reformados com relação as marcas distintivas da igreja, uma marca é
consenso entre todos, a Pregação Fiel da Palavra.
A Confissão de Fé de Westminster faz a seguinte
afirmação acerca das características básicas da igreja (Capítulo XXV, IV):
Esta Igreja
Católica tem sido ora mais, ora menos visível. As igrejas particulares, que são
membros dela, são mais ou menos puras conforme neles é, com mais ou menos
pureza, ensinado e abraçado o Evangelho, administradas as ordenanças e
celebrado o culto público.[4]
Logo, a Confissão não trata das marcas como os
reformadores posteriormente trataram. Mas fala da pureza da igreja tendo como
característica ensinar e abraçar o Evangelho, administrar as ordenanças, que
são os sacramentos e o culto público. Já a Confissão Belga[5]
no seu Artigo 29 apresenta as três marcas da igreja citadas no início desse ponto:
...As marcas para conhecer a verdadeira igreja são estas: ela mantém a
pura pregação do Evangelho, a pura administração dos sacramentos como Cristo os
instituiu e o exercício da disciplina eclesiástica para castigar os pecados. Em
resumo, se orienta segundo a Palavra de Deus, rejeitando todo o contrário a
essa Palavra e reconhecendo Jesus Cristo como o único Cabeça. Assim, com
certeza, pode-se conhecer a verdadeira igreja; e a ninguém convém separar-se
dela...[6]
O
que podemos deduzir de tudo que foi exposto é que não existe realmente um
consenso sobre a quantidade das marcas de uma igreja fiel a Cristo! Todavia, as
marcas existem e devem ser de acordo com as Escrituras e não com as
experiências humanas. Continuo entendendo que as três marcas tradicionalmente
usada pelos reformados: Pregação fiel da
Palavra; exercício correto dos sacramentos; e exercício da disciplina cristã,
continuam sendo as principais, mas que existem outras subdivisões dessas que
são centrais. John Stott por exemplo dizia que a igreja deveria ter como
marca: amor, sofrimento, santidade, sã
doutrina, autenticidade, evangelização e humildade.[7]
O teólogo de Genebra, João Calvino assim se expressou sobre as marcas da igreja
de Cristo: Onde quer que vejamos a
palavra de Deus ser sinceramente pregada e ouvida, onde vemos os sacramentos
serem administrados segundo a instituição de Cristo, aí de modo nenhum se há de
contestar estar presente uma igreja de Deus.[8]
Mas o consenso maior entre os reformados e as confissões são as três marcas
até aqui enfatizadas.
É
importante falarmos sobre as marcas da igreja no século XXI, onde enfrentamos
outros desafios em relação a essência e característica da igreja de Cristo. Em
um país que estima-se ter em torno de 40 a 60 milhões de evangélicos, nas suas
variadas e muitas vezes “criativos”
nomes de denominações, precisamos desenvolver uma visão bíblica de
eclesiologia. Sabendo o que é imutável no caráter e essência de uma igreja
verdadeira e o que é até certo ponto flexível. As marcas que abordamos de uma
igreja fiel são imutáveis, inegociáveis, mas governo de igreja, forma de
batismo se por imersão, efusão ou aspersão, são questões flexíveis e toleráveis
nas suas muitas perspectivas, no meu entendimento! Para fundamentar essa ênfase
nas três marcas, abaixo exponho resumidamente cada ponto, com os respectivos
textos bíblicos:
- Primeira Marca: Pregação Fiel das Escrituras -
Todas outras marcas da igreja, compreendendo serem mais duas ou se
defender que são mais, dependem totalmente dessa primeira! A igreja nunca
terá uma pregação perfeita, mas sempre examinará sua pregação a partir das
Escrituras (1 Jo 4.1-3; Ef 2.20; II Tm 4. 1-5; At 2. 42; II Tm 2.15,24-26;
Ef 4. 7-16).
- Segunda Marca da Igreja: Administração Correta dos
Sacramentos – Os Sacramentos, batismo e Ceia, só tem conteúdo derivado
da Palavra de Deus. É nela que encontramos o real sentido de cada um
deles. Por isso, esses sacramentos devem ser ministrados por legítimos
ministros do Evangelho, devidamente qualificados. Por isso, os sacramentos
perdem seu sentido ao serem ministrados por falsos pastores, que
introduziram heresias no sentido real de cada sacramento (Mt 28. 19; Mc
16.15-16; At 2. 42; 1 Co 11. 23-30).
- Terceira Marca da Igreja: O fiel exercício da
Disciplina - A disciplina na
igreja visa três efeitos básicos: vindicar a honra de Cristo publicamente;
corrigir o irmão em pecado; e causar temor na igreja em relação a pecar
contra Deus. Vemos isso em vários textos bíblicos como Gálatas 6. 1-4; 1
Coríntios 5. 1-5; Mateus 18.18; Atos 5. 1-11 e outros.
A igreja Evangélica, na sua maior parte, tem essas
características essenciais? A reposta que veio a sua mente ao entender o que a
Escritura ensina, revela a causa de tanto distanciamento da igreja moderna do
Evangelho de Cristo! Pense sobre isso e procure congregar onde essas marcas estão
presentes!
Reverendo Márcio Willian Chaveiro
[3] BERKHOF, Teologia Sistemática, 1998,
p.580
[5] A
Confissão Belga foi a primeira confissão reformada, originada na região da
atual Bélgica, em 1561. O principal autor dela foi o reformador Brés, um pregador
reformado que martirizado em 1567 (fonte: Bíblia de Estudo de Genebra, Revisada
e Ampliada, 2009).
[6] JR,
Richard L. Pratt Jr., Bíblia de Estudo de Genebra, 2 Edição Revisada e
Ampliada, 2009, São Paulo, p.1757
[7]DEVER,
Mark Dever, Nove Marcas de uma Igreja Saudável, Editora FIEL, 2007, São José
dos Campos, p.22
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